Viver em Igreja

Neste 2° artigo, Pe Adilson continua a apresentação da Carta de São Paulo aos Gálatas, iniciada na semana passada.

Continuando esta apresentação da Carta de São Paulo aos Gálatas, vamos refletir sobre as tensões presentes na formação da Igreja nascente. No capítulo 2, o apóstolo recorda o episódio da Assembleia de Jerusalém, no ano de 49 d.C. Ele relata que sua ida à cidade Santa se deu após uma revelação (Gl 2,2). A Assembleia teve como temas mais importantes a questão da acolhida de circuncisos e incircuncisos na mesma comunidade e acerca da liberdade perante a lei, no que diz respeito aos alimentos que os judeus eram proibidos de comer.

Lembrando que a circuncisão para os israelitas era uma das exigências da aliança de Deus com Abraão (Gn 17, 1-14.23-27). Negligenciá-la significava violar essa aliança. Para os judeus convertidos, Cristo era a realização definitiva desta aliança. Deixar este rito, na visão deles, seria uma contradição. Além disso, tinha o problema da observância das leis alimentares como forma de garantir a fidelidade à tradição judaica.

Ocorre que as comunidades da Galácia eram formadas em sua maioria de gentios e prosélitos (gentios que haviam aderido ao judaísmo antes do contato com o anúncio do Evangelho) e uma minoria de judeus de nascimento. Estava em jogo era a identidade da comunidade cristã. Paulo queria deixar claro que as comunidades cristãs não eram meramente uma seita do judaísmo. Jesus inaugura uma nova e definitiva forma de vida. Sua redenção não era oferecida apenas para o povo judeu.

Alguns itinerantes provenientes do cristianismo passaram por estas comunidades divulgando críticas e acusações contra Paulo. Atacavam sua missão. Questionavam suas intensões. Diziam que não exigia as práticas judaicas para agradar os “neoconvertidos” no seguimento de Jesus. Mas, para Paulo, reivindicar dos pagãos tais práticas era o mesmo que eliminar a fé na ação de Cristo em favor da salvação de toda a humanidade. Exigir a observância da lei seria rejeitar Cristo. Ele não eliminou a lei, mas lhe deu pleno cumprimento. Não era mais a lei, mas o seguimento de Jesus Cristo que deveria pautar a vida dos cristãos.

O resultado da Assembleia de Jerusalém foi a confirmação da autenticidade do Evangelho anunciado aos gentios e o reconhecimento oficial da missão de Paulo, por parte desses que ele chama de “notáveis”. Constataram que Paulo e Pedro tinham a mesma missão de evangelizar (Gl 2, 7-10). Ficou comprovada a presença da graça de Deus acompanhando e sustentando a palavra dos dois apóstolos.

O que aprendemos com esta passagem tão importante da vida da Igreja nascente? Entre tantas coisas, que a salvação acontece pela fé em Jesus Cristo, isto é, não basta seguir de forma automática a um conjunto de regras religiosas pré-estabelecidas. Para Paulo, a Lei mosaica não pode tornar justa uma pessoa que é culpada. Serve apenas para sentenciá-la no caso de ter sido violada. O único que pode tornar uma pessoa justa é Jesus Cristo, pela redenção que vem de sua morte na cruz. Portanto, é necessária a fé que, para Paulo, supõe a experiência pessoal com Jesus Cristo e a adesão a ele.

No próximo artigo, vamos falar sobre a importância do Batismo para na vida cristã de acordo com a Carta aos Gálatas. Até lá.

Pe Adilson Fortunato.

Para ler o artigo anterior acesse Carta aos Gálatas