3º Domingo da Quaresma

Reflexão da Liturgia Dominical.

O 3º Domingo da Quaresma apresenta o encontro de Jesus com a samaritana (Jo 4,5-42). A cena revela o Senhor como a fonte de água viva da qual devemos beber. Duas realidades se apresentam: a mulher que representa a humanidade carente e sedenta, e a água que Jesus dá é o Espírito, a força que vem de dentro e jorra para a vida eterna. Ele nos oferece muito mais do que pedimos, a nossa salvação.

Êxodo 17,3-7 salienta a tentação do povo de abandonar a Deus e voltar a servir aos ídolos, de deixar o caminho da vida e da liberdade e viver novamente a escravidão. Deus sacia o seu povo, faz jorrar a água e revela-se presente na sua vida.

Em Romanos 5,1-2.5-8, Paulo apresenta a salvação como graça de Deus. Jesus nos justifica pela sua morte e ressurreição. Ele morreu por nós quando ainda éramos pecadores, derramando em nosso coração o amor de Deus, pelo Espírito Santo.

A liturgia do 3º domingo da Quaresma ressalta a necessidade que temos de Deus. Nas figuras da samaritana e do povo no deserto, com sede, vemos cada um de nós. A sede é o símbolo de uma necessidade íntima. Muito além de uma sede fisiológica, temos uma necessidade mais profunda, que é a experiência de Deus.

Em nosso coração há um lugar que só pertence a Ele, e ninguém e nada poderá ocupá-lo. Se Ele ali não estiver, restará um vazio, a sede e a saudade.  Procuramos matar essa saudade e essa sede e preencher o vazio, buscando riquezas, prestígio, fama, status, poder, dinheiro, sexo, vícios, entretenimentos... Mas não foram essas coisas que perdemos. E essa água não mata de verdade a nossa sede. Só iremos preencher o vazio do nosso coração e matar a nossa sede, buscando sinceramente a Deus Pai, a Jesus Cristo, a água que jorra até a vida eterna, e o Espírito Santo, fonte viva.

Por que precisamos de Deus? Por que viemos dele e temos necessidade desta comunhão. Ele também quer se comunicar com o ser humano, pois a comunicação é a sua qualidade. Comunica-se conosco porque nos quer gozando da sua intimidade e do seu amor. Ele se revelou ao ser humano, quer guiar e governar a nossa vida. Dessa comunicação, experimentamos o seu amor, a alegria, a felicidade, a nossa realização.

Os encontros com o Senhor que nos preenchem, realizam-se “na fé recebida e vivida na Igreja”; “na Sagrada Escritura”; “na Sagrada Liturgia”, tendo a Eucaristia como “lugar privilegiado”; na “oração pessoal e comunitária”; “no amor fraterno”; “nos pobres, aflitos e enfermos”; na “piedade popular”; na devoção a Maria e aos santos (DAp, 246-275).  

A partir do 3º Domingo da Quaresma a liturgia da Palavra apresenta uma catequese batismal, iniciando com o símbolo da água, um elemento que a natureza nos oferece, essencial para a vida. Batizar significa mergulhar, imergir. O batismo é um novo nascimento, um mergulho, “o sepultamento” “na morte de Cristo”, da qual com ele ressuscitamos, como “novas criaturas”. É um “banho de regeneração e da renovação no Espírito Santo” (CIgC, 1214-1215). Somos banhados pela gratuidade de Deus, por seu amor sem explicações, pela alegria do Pai, pelo ânimo e solidariedade do Filho e pela unção do Espírito.  Só temos a vida se permanecermos mergulhados em nosso batismo, na graça e na fidelidade à Trindade Santa. Pelo poder do Espírito Santo que santifica a água do batismo, o pecado é destruído, exterminado e cancelado o mal. O catecúmeno, libertado da escravidão, renasce para a vida em Cristo.

A água é apenas um símbolo. O que recebemos mesmo é Jesus, aquele que veio por nossa causa, para nos libertar e nos salvar. Devemos ter sede desta água, sede do amor de Deus, sede da misericórdia e da justiça do Senhor.

Dom Paulo Roberto Beloto, Bispo Diocesano.