Diocese de Franca
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12º Domingo do Tempo Comum

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segunda, 16 de junho de 2025

Estamos retomando o Tempo Comum, segundo ciclo, Ano C, seguindo a leitura do Evangelho de São Lucas.

A cena do Evangelho do 12º Domingo Comum narra a confissão de fé de Pedro. Este fato é tão importante que aparece nos três evangelhos sinóticos (Mt 16,13-16; Mc 8,27-30; Lc 9,18-21), com suas semelhanças e particularidades. Lucas fala que Jesus “estava rezando num lugar retirado” (Lc 9,18). Neste contexto, dá-se o diálogo com os seus discípulos sobre a sua pessoa. Ainda não havia clareza sobre o seu messianismo: as pessoas achavam que ele era um dos antigos profetas. Pedro é o interlocutor quando o Mestre quis saber deles quem ele era: “O Cristo de Deus” (Lc 9,20). A palavra Messias – Cristo - resume tudo o que Jesus é e fez: é o ungido pelo Espírito de Deus (cf. Lc 4,1), a revelação do Pai, a sua presença entre nós. Com a sua vida e missão, revelou a misericórdia de Deus para com a humanidade e o seu desejo de salvar a todos.

Diante da pessoa de Jesus somos convidados a reagir: fechando-nos, como fizeram os dirigentes da época, que não o aceitaram como o Messias servidor; ou seguindo a resposta de Pedro: o seu ato de fé é modelo de encontro e abertura a Jesus Cristo.

Após a profissão de fé de Pedro, Jesus prevê a sua páscoa: o seu sofrimento, rejeição, morte e ressurreição. Também apresenta as condições para o seguimento: “Se alguém me quer seguir, renuncie a si mesmo, tome sua cruz cada dia, e siga-me” (Lc 9,23).

“Se alguém me quer seguir”: a resposta vem da liberdade. Jesus não obriga ninguém a seguir o seu caminho O seguimento é uma opção livre e consciente.

“Renuncie a si mesmo”. O discípulo deve desfazer-se de toda ambição pessoal: renuncia a si mesmo, a cada dia. Deve ser pobre e humilde. A humildade é caminho para Deus, é o remédio para curar as feridas de nossos corações, uma via de penitência. A resposta a Jesus Cristo e ao Reino exigem conversão, despojamento e abertura. As coisas têm valor, mas são relativas diante do tesouro que é o Reino de Deus.

“Tome sua cruz cada dia”. Na época de Jesus os romanos utilizavam a cruz como instrumento de punição, suplício, tortura e morte aos escravos e não-romanos que praticavam crimes ou se revoltavam contra o poder do Império. Para os judeus, a cruz era instrumento de escândalo e vergonha (1 Cor 1,23; Gl 5,11). Morrer na cruz era um castigo terrível. Os discípulos de Jesus, de imediato, não compreenderam o sacrifício de Cristo na cruz. Queriam um Messias sem a cruz (Mc 8,32). Eles não assimilaram um Messias servidor e sofredor. Mas é na cruz que o véu se desfaz. Ali Jesus é proclamado como Filho de Deus (Mc 15,39).

Algumas dimensões da cruz que carregamos.

A cruz da vida cotidiana: a monotonia de uma vida sem brilho. A cruz das diversas atividades rotineiras, da profissão, da missão, da vocação, da espera, do discernimento. A cruz da idade, da doença, de uma deficiência. Como carregamos estas cruzes? É preciso aprender a descobrir o valor de uma vida simples e as lições do dia-a-dia. Quem vive no amor sabe ver a realidade comum com um esplendor particular. O momento presente é o caminho mais seguro para à santidade. É preciso ter paciência com o cotidiano, com os acontecimentos e contratempos que se apresentam num dia normal. Devemos fazer as pazes com a nossa humanidade, com os nossos defeitos: quando admitimos as fraquezas, encontramos caminho para superá-las.

A cruz da vida em comunidade: a família, a comunidade religiosa, a paróquia, o local de trabalho, a escola, o meu ambiente. Como nos relacionamos com as pessoas? O relacionamento humano é lugar de revelações: dos nossos dons e limites. É lugar de crescimento e de purificações. Lugar de paciência, de perdão e de caridade fraterna.

A cruz da vida espiritual. Raramente a nossa vida espiritual é como desejamos. Ela é feita de altos e baixos. Enfrentamos os nossos problemas, as nossas afeições desordenadas, as nossas crises e dificuldades. Que frutos a nossa vida espiritual está produzindo? É preciso não desanimar nas desolações, mas continuar oferecendo a vida. Enquanto mantivermos o combate, estaremos amando a Deus. E Ele sempre nos ama.

Jesus nos ensina como viver uma experiência de cruz. Ele não suprimiu a dor e o sofrimento, mas assumiu a sua cruz por amor, sem revolta. Assumindo as nossas cruzes, como Ele, podemos fazer brotar a esperança em qualquer desafio. Se temos Cristo, a vida, mesmo com cruz, é mais bela e mais humana. Se temos fé, sabemos que Deus está conosco e por isso nada tememos.

As perdas e o sofrimento provocam choro e lamento, mas são ocasiões também de purificação e conversão (Zc 12,10-11;13,1). Ser cristão é viver como Jesus. Paulo nos ensina que o batismo nos dá uma nova identidade. Colocamos uma roupa nova: a roupa de Cristo (Gl 3,26-29). Em Cristo somos um.

Dom Paulo Roberto Beloto,

Bispo Diocesano.

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