Reflexão da liturgia dominical
Marcos 4,35-41 faz parte da sessão que trata do
discernimento sobre a pessoa de Jesus, seu poder e seu ser: “Quem é este, a
quem até o vento e o mar obedecem?” (Mc 4,41).
A cena pode ser lida e aplicada em algumas circunstâncias.
1 – Na época dos discípulos. Eles eram pescadores, e o
mar era sinal de vida e possibilidade de sustento às suas famílias. Com a
tempestade, tornava-se uma ameaça, gerando insegurança e medo.
Jesus se apresenta como aquele que é capaz de libertar do
mal e gerar a vida. É o senhor das forças da natureza, da ventania e do mar.
Ele age com poder e transforma a tempestade em bonança. Aos discípulos, pede fé
e confiança na sua ação.
2 – A cena foi lida na vida das comunidades. Marcos
escreveu seu Evangelho para a Igreja de Roma, marcada por tantos conflitos e
tensões. Nesse contexto, o mar é símbolo das forças negativas que ameaçavam a
vida dos cristãos, gerando dúvidas e medo. As comunidades eram como uma barca à
deriva, correndo o risco do naufrágio em meio à tempestade, e Jesus parecia
estar ausente ou dormindo.
Mas Jesus é o protetor da Igreja. Esta deve professar sua
fé e confiança na sua presença amorosa e libertadora. Nas horas difíceis, deve
invocar a sua proteção para não ser tragada pelas forças negativas do mundo.
Nas provações, os cristãos prosseguem firmes, iluminados pela fé e certeza de
que o Senhor está presente, trazendo a segurança e a paz.
3 – A cena do mar é lida e aplicada na história da
Igreja. A barca é o símbolo desta Igreja que navega muitas vezes em águas
agitadas, sacudida por ventos fortes de perseguições, críticas e dissenções. Dá
a impressão que pode sucumbir e naufragar.
Jesus é sempre a presença protetora, aconteça o que
acontecer. A vitória e o êxito da missão vêm pela graça do Espírito.
4 – Também em nossa vida familiar e pessoal podemos ser
iluminados pela Palavra. Quantas vezes podemos experimentar crises, dúvidas,
limitações e conflitos! A vida parece um mar agitado, gerando medo e
insegurança. Dá a impressão que tudo vai afundar, que o perigo é maior que as
nossas forças.
Não precisamos temer. A Palavra é o nosso sustento,
vigor, luz, firmeza de fé, alimento para a alma. Jesus é o nosso Senhor e
Salvador. Ele nos concede a paz e a confiança.
Gritamos ao Senhor na aflição e ele nos liberta da
angústia (Sl 106,28).
Na Eucaristia celebramos o mistério da fé, o mistério
pascal, morte e ressurreição de Jesus Cristo, sacrifício que nos redime e nos
salva. A fé da Igreja é eucarística, mistério de misericórdia e amor de Deus
por nós, levado ao extremo.
A presença de Jesus! Como é fundamental para nós cristãos
esta certeza. Sem ela, somos um nada desesperado, como uma barca à deriva nas
tempestades da vida.
Cristo venceu as forças do mal. Com Ele, somos “uma
criatura nova”, vivemos para aquele que por nós morreu e ressuscitou. Com ele,
“tudo agora é novo” (1 Cor 5,14-17). O mal é um vazio, uma mentira, uma ilusão.
O real é o amor de Jesus, que não cochila nem dorme.
“Agradeçam ao Senhor por seu amor e por suas maravilhas
entre os homens” (Sl 106,31).
Dom Paulo
Roberto Beloto, Bispo Diocesano.