Reflexão da liturgia dominical
Marcos 5,21-43 faz parte da sessão
que trata do discernimento sobre a pessoa de Jesus, seu ser e seu poder. Ele
realiza dois milagres, curando duas mulheres, uma senhora enferma por causa de
uma hemorragia, e uma menina, já nas últimas e que acaba morrendo, filha de
Jairo, um dos chefes da sinagoga.
O milagre é dom de Deus, é expressão
da sua bondade e misericórdia pelo ser humano. Os milagres narrados revelam
Jesus como alguém que é capaz de curar, restaurar a dignidade, a saúde e a vida
das pessoas.
Duas afirmações de Jesus chamam a
atenção nas cenas: “Filha, a tua fé te curou” (Mc 5,34); “Não tenhas medo.
Basta ter fé!” (Mc 5,36).
Nos dois milagres há uma participação
essencial das pessoas: da mulher curada de sua enfermidade, e do pai da menina,
que confiou nas palavras de Jesus.
Se há um pressuposto no cristianismo, este é a fé. Sem ela, não há vida
cristã.
A fé é um dom de Deus, é uma virtude sobrenatural que Ele infunde em
nós. Por ela, “nós cremos em Deus e em tudo o que Ele nos revelou e que a santa
Igreja nos propõe para crer” (CIgC, 1842).
Há alguns aspectos da fé. Uma dimensão teologal ou doutrinal: fé
que acredita, que vem em consequência do Batismo, do anúncio de Cristo, do
testemunho e da catequese; é a fé nas verdades reveladas, que se fundamenta na
Palavra de Deus, nos sacramentos, na vida de oração e na vida comunitária.
Temos uma fé que nos leva a confiar na realização das promessas de Deus, a crer
no seu amor, na sua bondade e misericórdia. E uma fé que nos leva a confiar
plena e incondicionalmente, sem medo, em Deus, no seu poder e na sua ação. Esta
é a fé das cenas do Evangelho, que leva a crer que para Deus tudo é possível.
Fé é acreditar no Deus da vida, e que Ele nos criou para a imortalidade
e nos fez à imagem de sua própria natureza (Sb 2,23). Quem tem fé sabe que Deus
é Deus e que deve confiar sempre.
Buscando a Deus acima de tudo, somos também impelidos na caridade
fraterna e na ajuda ao próximo (2 Cor 8,7.9.13-15).
São Severino, missionário da Noruega,
pregava a fé entre povos idólatras. Passado algum tempo, notou que aos poucos
ia se formando uma pequena comunidade de crentes. Um dia, resolveu convidar os
cristãos e os idólatras para reunirem-se na Igreja. Quando todos estavam
presentes, deu a cada um uma vela apagada e, ajoelhado diante do altar, rezou
em voz alta: “Mostre, Senhor e Deus verdadeiro, como diferem os que o conhecem
e os que não o conhecem”. Mal terminou de proferir estas palavras,
milagrosamente acenderam-se as velas dos cristãos, permanecendo apagadas as dos
idólatras. Esse prodígio bastou para converter todos os que ainda não haviam
aceitado o Evangelho.
Aqueles que têm fé possuem a luz
necessária para ver o caminho que conduz à única meta que lhes pode trazer a
plena felicidade: Deus.
Dom Paulo Roberto Beloto, Bispo
Diocesano.