17º Domingo do Tempo Comum - Ano B

Reflexão da liturgia dominical

Interrompemos a leitura do Evangelho de Marcos durante alguns domingos, para ler e meditar o capítulo 6 de João. São cenas que narram a multiplicação dos pães e o discurso eucarístico de Jesus, na sinagoga de Cafarnaum. É o quarto sinal neste Evangelho, que tem como objetivo suscitar a fé. A Eucaristia é o tema central nos domingos que seguem.

O que João quer transmitir à comunidade quando inseriu no seu Evangelho este sinal?

A multiplicação dos pães aconteceu próximo da Páscoa. Jesus atravessou o mar da Galileia, também chamado de Tiberíades, subiu à montanha e sentou-se com os seus discípulos. Uma grande multidão o seguia por causa dos sinais. Ele se preocupou com a alimentação daquelas pessoas e distribuiu o pão (Jo 6,1-15).

As indicações nas cenas lembram passagens do Antigo Testamento, quando o povo estava no Egito e fez a experiência de libertação, sob a liderança de Moisés. Jesus é aquele que inaugura o novo êxodo, a nova lei e realiza a nova libertação, oferecendo o pão da vida. A travessia do mar da Galileia recorda a passagem do Mar Vermelho; a subida à montanha lembra Moisés no Sinai e o pão distribuído faz recordar o maná no deserto.

Jesus é o novo Moisés que conduz o povo à vida e a liberdade, para a verdadeira Páscoa e aliança definitiva. O seu gesto está relacionado com a Eucaristia. É um sinal indicativo para a comunidade que deseja celebrar sua fé no Messias.

Nos domingos que seguem teremos uma catequese sobre a Eucaristia. Iniciando, a cena da multiplicação dos pães nos indica uma íntima relação entre Eucaristia e vida. A Missa não pode se separar da vida. João uniu Eucaristia (graça) à multiplicação dos pães (natureza), vendo o mistério eucarístico a partir deste sinal. Há uma continuidade e uma harmonia entre a graça e a natureza.

Quando a Igreja explica a Eucaristia com a palavra transubstanciação, que é a presença real de Cristo em corpo, sangue, alma e divindade, não nega os sinais do pão e do vinho, antes, da fecundidade da terra e do trabalho dos seres humanos, após a consagração, do sacrifício de Jesus.

A Missa nos remete à vida e à missão. Quando participamos deste sacramento, quando comungamos, recebemos os frutos da comunhão: aumento da nossa união com Cristo, aumento e renovação da vida da graça recebida no Batismo; remissão dos pecados; restauração das nossas forças; fortalecimento da caridade; preservação dos pecados mortais; união à Igreja e aos irmãos; compromisso com os pobres (CIgC 1391- 1397).

Efésios 4,1-6 trata da vida eclesial. Paulo exorta os fiéis à unidade. Ela é essencial na vida cristã.

Cristo é o autor da Igreja. Nela celebramos a fé no Senhor e nos encontramos como irmãos. A nossa vocação é a unidade, é viver como pessoas novas.

O texto fala dos fundamentos que caracterizam a unidade da Igreja: um só corpo e um só Espírito. O corpo está unido à cabeça. O corpo é a Igreja e a cabeça é Cristo. Os cristãos devem estar ligados a este corpo e se identificar com ele. A unidade vem de Cristo e do Espírito.

Uma só esperança. É a esperança que os cristãos celebram e percebem na Igreja.

Um só Senhor, uma só fé e um só batismo. Os primeiros cristãos aclamavam Jesus como Kýrios, Senhor. É Aquele que congrega e reconcilia, que salva, santifica e une em si todas as coisas. Ele dá significado e existência ao mundo e a nossa vida pessoal.

Encontramos em Jesus, o Senhor, o verdadeiro sentido da vida, a realização, o valor, a reconciliação, a integração. Nele colocamos nossa esperança. Jesus como Senhor está acima de todas as coisas, como fundamento da vida e da comunidade. É o centro da história.

A fé faz a Igreja e o batismo está na sua origem.

O fundamento último da unidade é Deus Pai. Ele é sua origem e fonte.

Juntamente com a exortação à unidade e os seus fundamentos, Paulo apresenta algumas virtudes necessárias para a sua concretização. Elas ajudam a viver a unidade, base da convivência humana.

A humildade brota do coração. É uma disposição interior, uma atitude daqueles que deixam de lado a auto suficiência e a falsa segurança pessoal e buscam a segurança só em Deus. Sem Ele, sem o seu amparo, sem a sua proteção, nada somos. A humildade é o remédio para curar as nossas feridas, é uma das vias da penitência. Ela nos leva a Deus e à sua verdade. É a virtude dos simples, vivida por Jesus, por Maria, José, pelos santos e pelos pobres.

A mansidão é a falta de arrogância e insolência. É fruto do Espírito (Gl 5,23). “Reagir com humilde mansidão: isto é santidade” (Papa Francisco, Exortação Gaudete et Exsultate, nº 74). 

A paciência é atitude daqueles que suportam as provações sem ceder. Sem a paciência não há comunidade. Três campos onde devemos exercer a paciência: conosco próprios, com as pessoas e com os acontecimentos. “Se procuras um exemplo de paciência, encontras na cruz o mais excelente... Se procuras um exemplo de humildade, contempla o crucificado” (Santo Tomás de Aquino, in Liturgia das Horas, Vol. III, p. 1222-1223). Só devemos exercer a impaciência quando protelamos demais em certas urgências: quando esperamos demais para perdoar, para ser generosos, para praticar a caridade e para viver a santidade.

Por fim, o amor, centro de tudo, coroa das demais virtudes. Sem amor não há comunidade e pessoas novas e pertença a Cristo. O amor une as pessoas, reconcilia, leva a vencer as diferenças. Leva os membros da comunidade a identificar-se uns com os outros. É a nossa vocação fundamental.

Na comunidade celebramos a unidade, vivemos as virtudes, celebramos o amor, celebramos a fé, celebramos a Eucaristia.

Dom Paulo Roberto Beloto, Bispo Diocesano.