Reflexão da liturgia dominical
João 6 narra a multiplicação dos pães e
o discurso eucarístico. É o quarto sinal neste Evangelho, que tem como objetivo
suscitar a fé em Jesus Cristo, o pão da vida.
As cenas da multiplicação dos pães e do
discurso eucarístico aconteceram próximo à Páscoa. Relacionam-se com
experiências narradas no livro do Êxodo: Jesus atravessando o mar da Galileia,
também chamado de Tiberíades, recorda a passagem do mar Vermelho; sua subida ao
monte, lembra Moisés no Sinai; os pães e os peixes distribuídos, fazem recordar
as codornizes e o maná no deserto, episódio narrado na primeira leitura. Jesus
é o novo Moisés que inaugura o novo êxodo, oferece o pão da Palavra e da
Eucaristia (Jo 6,1-15).
Após a partilha dos pães e dos peixes,
temos o episódio de Jesus caminhando sobre as águas. A seguir, Ele explica o
significado do “sinal do pão” (Jo 6,24-35). As pessoas não compreenderam o
sentido da partilha dos pães. Ficaram apenas no sinal. Jesus propõe outra
atitude: “Esforçai-vos não pelo alimento que se perde, mas pelo alimento que
permanece até a vida eterna, e que o Filho do Homem vos dará. Pois este é quem
o Pai marcou com seu selo (Jo 6,27).
O que permaneceu no gesto dos pães? A
manifestação da presença e providência de Deus, na pessoa de Jesus; a partilha,
a comunhão, a amizade e a solidariedade. Este é o alimento que o Senhor oferece
e que foi marcado e selado pelo Pai.
O alimento oferecido é gratuito, é dom
de Deus. Ele nos alimenta com a sua Palavra e com o Pão eucarístico.
Oferece-nos a salvação por meio de seu Filho, gratuitamente. Jesus é o pão que
dá a vida e mata a nossa fome e a nossa sede (Jo 6,35). A nossa resposta é
dizer sim, acreditar neste dom, acreditar em Jesus e acolhê-lo na fé.
Êxodo 16,2-4.12-15 narra um fato
ocorrido quando o povo de Deus estava no caminho da terra prometida, no deserto
do Sinai. Diante da sua murmuração, reclamando alimento, Deus respondeu com o
seu poder, cuidado e ternura, providenciando codornizes e o maná, alimentos e
sustento necessários para superar a precariedade do deserto. Com relação ao
maná, não havia clareza que alimento era, mas o importante é que vinha da
bondade de Deus. Esta providência divina despertou no povo a confiança na sua
ação.
Efésios 4,17.20-24 apresenta desafios
para os cristãos no mundo paganizado. Viver como pagão é apegar-se ao nada, é
deixar Deus que é tudo e viver de futilidades e coisas vazias, que impedem de
ver o verdadeiro sentido e o valor da vida. O paganismo corrompe a capacidade
de discernimento.
Cristo é a referência para os cristãos.
É a verdade que liberta e direciona o agir correto. Quem é de Cristo deve
abandonar as coisas velhas, a vida anterior ao batismo e viver a vida nova, com
outros critérios e valores. É uma conversão contínua, pois as tentações do
mundo pagão são fortes e seduzem. Daí a necessidade de renovar-se sempre e
dizer um basta às práticas pagãs e voltar-se para Cristo. Esta renovação é obra
do Espírito. Ele rejuvenesce e transforma a pessoa na qualidade do ser.
Deus criou o homem e a mulher à sua imagem
e semelhança. O pecado ofuscou e escondeu esta dignidade. Em Cristo, a pessoa
nova é recriada, segundo à imagem do Criador. Paulo lembra uma imagem do rito
batismal das primeiras comunidades: a troca de roupa. A veste nova recebida no
batismo significa a nova identidade cristã. O cristão é uma pessoa nova, criada
à imagem de Deus, em verdadeira justiça e santidade (Ef 4,24).
A Palavra de Deus e a Eucaristia
alimentam o cristão para responder com generosidade e fidelidade a graça da
vocação recebida no seu batismo. “Eu sou o pão da vida”, diz Jesus (Jo, 6,35).
Ao receber deste pão, somos revestidos de Cristo, impulsionados pelo Espírito
para viver como criaturas novas, filhos e filhas do Pai celeste.
Dom
Paulo Roberto Beloto, Bispo Diocesano.