Reflexão da Liturgia Dominical
No fim do Ano Litúrgico meditamos um
tema próprio da liturgia, que é a parusia: o retorno glorioso do Senhor. Como a
Igreja entende esse mistério?
Celebramos a presença de Jesus na
história em duas dimensões diferentes: Ele veio a primeira vez na sua
encarnação, anunciando, antecipando e aproximando o Reino de Deus. Jesus Cristo
é a realização da salvação, com Ele, o tempo já começou e as realidades futuras
iniciaram-se. Agora, somos convidados a construir o futuro. A ressurreição do
Senhor colocou a história na plenitude dos tempos e nós somos chamados a
participar dessa vitória. Tudo volta-se para Ele e para sua obra de redenção.
Os cristãos comprometem-se com a vida, com as realidades terrestres, em marcha
para a verdadeira Pátria.
“Todas as vezes que comemos deste pão
e bebemos deste cálice, anunciamos, Senhor, a vossa morte, enquanto esperamos a
vossa vinda!”, rezamos na liturgia. Jesus virá uma segunda vez, “para julgar os
vivos e os mortos” e inaugurar “novos céus e uma nova terra, nos quais habitará
a justiça” (2 Pd 3,13).
Marcos 13,24-32 faz parte do seu
apocalipse. Essa palavra vem da língua grega, e quer dizer revelação, tirar o
véu, tornar possível o discernimento. Há muitos textos apocalípticos na Bíblia,
normalmente produzidos em épocas de crises, dúvidas e perseguições. A partir do
recurso de sinais e imagens fortes ligados à natureza, o autor procura iluminar
os fatos com a luz da fé. A intenção não é remeter ao futuro, mas transmitir
conforto, ânimo, esperança, chamar a atenção e despertar a fé e a ação para o
momento presente. O texto apocalíptico revela que Deus é o Senhor da história,
age, salvando o seu povo fiel.
Marcos 13 descreve a destruição do
Templo de Jerusalém e trata do futuro da comunidade cristã. É uma catequese
sobre os fins dos tempos e o rumo da história. Narra a vinda do Filho de Homem,
precedida de sinais: “O sol vai se escurecer, e a lua não brilhará mais, as
estrelas começarão a cair do céu e as forças do céu serão abaladas” (Mc
13,24-25). As catástrofes descritas indicam a presença de Deus que age na
história com poder sobre os elementos cósmicos: ele cria novos céus e nova
terra. “O Filho do Homem” virá “nas nuvens com grande poder e glória” (Mc
13,26) para julgar os que rejeitam a proposta do Reino e salvar os eleitos.
Ao contar a parábola da figueira (Mc
13,28-21), quando seus ramos ficam verdes e as folhas começam a brotar,
indicando a proximidade do verão, Jesus ensina que os acontecimentos revelam a
vinda do Filho do Homem. Tudo passa, menos as palavras de Jesus e o Reino.
Quanto ao dia e a hora, é um segredo que só cabe ao Pai (Mc 13,32).
As manifestações do Senhor, na sua
encarnação e na sua glória, não são motivos de especulações, apreensões, apatia
e medo. Quando Deus se revela, sua bondade, misericórdia e justiça, vão além
das ameaças. O Senhor nos incentiva à vigilância e prontidão. Devemos viver
intensamente o momento presente, fazendo o bem, praticando o amor e a
fraternidade, esperando a manifestação gloriosa do Senhor.
Daniel 12,1-3 mostra que Deus é o
aliado dos que se comprometem com a justiça: quem é fiel terá parte na vida de
Deus e brilhará como as estrelas.
Jesus é o portador da salvação
definitiva. O seu sacerdócio abriu um caminho de acesso ao Pai (Hb
10,11-14.18).
Na Eucaristia celebramos a memória do
sacrifício de Cristo e nos comprometemos com o seu sacerdócio.
Dom Paulo Roberto Beloto, Bispo diocesano.