Reflexão da Liturgia Dominical
A Quaresma é um caminho espiritual de preparação à Páscoa, quando
celebramos a paixão e a ressurreição de Cristo, sua passagem deste mundo ao
Pai: ele morreu pelos nossos pecados e ressuscitou pela nossa justificação. Sua
Páscoa se prolonga e se atualiza na liturgia e na nossa vida, como passagem dos
vícios para as virtudes e da culpa para a graça. O que nos salva é a Páscoa do
Senhor, sua imolação e ressurreição. Mas ela só é eficaz em nós quando se torna
nossa páscoa, quando procuramos vencer o pecado e seguir o caminho da
santidade, pois pelo Batismo nos tornamos criaturas novas, somos filhos (as) e
templos do Espírito Santo.
Seguimos o itinerário da Quaresma acolhendo as indicações e apelos de
nossa liturgia, na prática da oração, do jejum e da esmola, abertos à
conversão, à penitência e perdão. A palavra de Deus é o critério de nossas
ações.
A porta de entrada da Quaresma é a Quarta-feira de cinzas, com os apelos
destas palavras: “Convertei-vos e crede no Evangelho”. Os domingos que seguem
nos inspiram a vencer as tentações, a escutar Jesus glorioso, a abrir-nos à
conversão, vencendo a esterilidade, a deixar-nos acolher pelo amor
misericordioso do Pai e a educar-nos no perdão. Na Semana Santa celebramos uma
comunhão profunda com a paixão do Senhor e a sua ressurreição.
No início de nossa “subida a Jerusalém” com Jesus, para celebrar a
Páscoa, aprendemos com Ele a vencer as tentações. Elas são estranhas e
contraditórias, mas atraentes e sedutoras. O Senhor nos ensinar a rezar: “Não
nos deixeis cair em tentação”.
Lucas 4,1-13 narra a experiência de Jesus no deserto: “guiado pelo
Espírito”, ele “foi tentado pelo diabo durante quarenta dias”.
Diabo: “Se és Filho de Deus, manda que esta pedra se mude em pão”.
Jesus: “Não só de pão vive o homem”.
Diabo: “Eu te darei todo este poder e toda a sua glória, porque tudo
isso foi entregue a mim e posso dá-lo a quem eu quiser. Portanto, se te
prostrares diante de mim em adoração, tudo isso será teu”. Jesus: “Adorarás o
Senhor teu Deus, e só a ele servirás”.
Diabo: “Se és Filho de Deus, atira-te daqui abaixo!... Deus ordenará aos
seus anjos a teu respeito, que te guardem com cuidado!... Eles te levarão nas
mãos, para que não tropeces em alguma pedra”. Jesus: “Não tentarás o Senhor teu
Deus”. A força de Jesus está na Palavra de Deus, que o diabo tenta subverter,
mas é derrotado. A luta continua, pois o inimigo retorna no tempo oportuno.
Também experimentamos as nossas tentações: de colocarmo-nos no lugar de
Deus, de duvidar do seu amor, de ignorar a sua presença e abusar de nossa
liberdade, do orgulho, o maior dos pecados. O remédio é adorar somente a Deus,
fazer a sua vontade, e seguir com fidelidade a Jesus, caminho, verdade e
vida.
Somos tentados à inveja, ira, preconceitos, exploração, impaciência,
indiferença, medo, banalizar e descartar as pessoas. Jesus nos indicou o
remédio do amor, da solidariedade, do perdão, da paciência, respeito e
tolerância.
A avareza, consumismo, gula, escravidão das coisas, corrupção, desperdício,
degradação da natureza são tentações que nos assolam. Como cristãos somos
chamados ao respeito pela vida, a sobriedade, a evitar o supérfluo e não se
conformar com a mentalidade deste mundo consumista.
Somos tentados ao egoísmo, a impureza, preguiça, pessimismo, desânimo e
vaidade exagerada. Jesus nos ensinou e nos ajuda a vencer essas tentações,
deixando-nos guiar pelo Espírito Santo de Deus.
Dt 26,4-10. O pecado e as tentações nos afastam da graça de Deus e nos
fazem estrangeiros, nos escravizam, nos maltratam e nos oprimem. Clamamos ao
Senhor, nosso Deus, que ouve a nossa voz, a nossa opressão, miséria e angústia,
e “com mão poderosa e braço estendido” nos conduz à vida e à liberdade. Ele é o
nosso refúgio e proteção (Sl 90,2).
Rm 10,8-13. Confessamos “Jesus como Senhor” e, no nosso coração, cremos que Deus o ressuscitou dos mortos... Crendo no coração alcançamos a justiça e confessando a fé com a boca conseguimos a salvação. Confiamos no Altíssimo e somente a ele devemos adorar e servir, e seguimos firmes rumo à Páscoa do Senhor e nossa páscoa.
Dom Paulo Roberto
Beloto, Bispo Diocesano.