Reflexão da Liturgia Dominical
“Desejei ardentemente comer convosco
esta ceia pascal, antes de sofrer” (Lc 22,15). Iniciamos a Semana Santa
acolhendo o desejo do Senhor de comer conosco a ceia pascal. Quando vamos a um
determinado lugar, gostamos de ser bem recebidos. Uma boa acolhida nos deixa
tranquilos, queridos, valorizados e mais à vontade. No Domingo de Ramos e da
Paixão do Senhor as portas da Igreja se abrem em suas celebrações para nos
acolher, e bem.
A cerimônia de ramos e da paixão é
uma chave de leitura para se entender o mistério da Páscoa. Celebramos a
entrada triunfal do Senhor em Jerusalém, antes de sua morte. Jesus é
reconhecido pelo povo, é aclamado com alegria e festa, como Rei e Messias. É um
rei que se apresenta de modo simples e desapegado. Vem com amor, dócil à
vontade do Pai. Aceita o sofrimento para nos levar até Deus. Supera a maldade humana
com sua bondade e misericórdia.
Jesus quer entrar também em nossa
vida, é o único que pode dar sentido à nossa existência. Quando o acolhemos,
recebemos o amor, a vida e a salvação. Entramos no mistério da Semana Santa com
ânimo e generosidade, e deixamos o Espírito agir em nós, através da palavra,
das orações, dos sinais, das pessoas e do mistério eucarístico.
A primeira (Is 50,4-7) e a segunda
leituras (Fl 2,6-11) apresentam Jesus como o Servo que revela o amor perene do
Pai, que se humilha, despoja-se de tudo, até da própria vida por causa da sua
missão. Por isso, o Pai o exalta e o trata como Senhor.
Lucas 22,14-23,56 narra a paixão de
Jesus, evitando os detalhes cruéis e humilhantes. Ele é o modelo do justo
sofredor.
No drama das nossas fragilidades e
pecados, das possibilidades de não corresponder ao amor de Deus, pedimos que o
Espírito nos mantenha fiel ao caminho daquele que morreu por nós. Não podemos
abandoná-lo neste momento de solidão. A nossa participação na paixão do Senhor
deve fazer crescer em nós o santo temor de Deus. Enquanto houver pecado, a
paixão de Cristo continua. Enquanto participamos do pecado, necessitamos da
redenção.
Na Semana Santa que se inicia devemos
fazer a experiência da superação da pessoa velha com Cristo e deixar nascer o
novo que vive segundo Deus. Devemos ser batizados na sua morte para que a cruz
se torne sinal de esperança. Devemos experimentar a configuração com o Senhor
em uma união afetiva, ai sim, não haverá mais condenação, pois estaremos unidos
a Ele (Rm 8,1), e a cruz será sinal de glória (Gl 6,14). Assim também seremos
sinais de esperança e canais do amor de Deus. Podemos até padecer com Cristo,
mas com Ele seremos glorificados.
Dom Paulo Roberto Beloto, Bispo
Diocesano.