Encerrada nesta sexta-feira, 29/04, a etapa virtual da 59ª Assembleia Geral. Bispos divulgam a Mensagem ao Povo Brasileiro.
Encerrou-se
no dia de hoje (29/04) a primeira parte da 59ª Assembleia Geral da Conferência
Nacional dos Bispos do Brasil – CNBB, em modalidade virtual. A segunda parte
será realizada de modo presencial, durante os dias 29 de agosto a 2 de
setembro, em Aparecida.
Além dos
vários comunicados, partilhas e informes, o dia de hoje foi dedicado ao tema
central: Igreja Sinodal, Comunhão, Participação e Missão, com a escuta dos
regionais, tendo como referência as Diretrizes Gerais da Ação Evangelizadora da
Igreja no Brasil. Este tema está em comunhão com as inspirações do Papa
Francisco que apela para a sinodalidade da Igreja.
O que
prevaleceu nas partilhas é a preservação do que há de essencial nas atuais
diretrizes e a atualização de temas e necessidades, de acordo com o contexto
atual, principalmente o pós-pandemia e os desdobramentos do Sínodo dos bispos,
em 2023.
Alguns temas
em destaque: experiência sinodal, escuta, visitação, fortalecimento da
solidariedade, fortalecer a vivência eclesial de nossas lideranças e comunidades,
enriquecer os pilares da evangelização, iniciação à vida cristã,
ministerialidade, clareza na catolicidade, santidade, doutrina social da
Igreja.
Como sempre, a
Assembleia enriquece e intensifica a comunhão entre os bispos, as Igrejas
particulares e os diversos organismos que compõem a CNBB, no diálogo e
aprofundamento do afeto colegial.
Dom Paulo Roberto Beloto, Bispo Diocesano.
Bispos divulgam Mensagem ao povo brasileiro: fé, esperança e corajoso compromisso com a vida e o Brasil
MENSAGEM AO POVO BRASILEIRO
59ª. Assembleia Geral da CNBB
“A esperança não decepciona” (Rm 5,5).
Guiados pelo Espírito Santo e impulsionados pela Ressurreição do
Senhor, unidos ao Papa Francisco, nós, bispos católicos, em comunhão e unidade,
reunidos para a primeira etapa da 59ª Assembleia Geral da Conferência Nacional
dos Bispos do Brasil-CNBB, de modo on-line e com a representação de
diversos organismos eclesiais, dirigimos ao povo brasileiro uma mensagem de fé,
esperança e corajoso compromisso com a vida e o Brasil.
Enche o nosso coração de alegria perceber a explosão de
solidariedade, que tem marcado todo o País na luta pela superação do flagelo
sanitário e social da COVID-19. A partilha de alimentos, bens e espaços, a
assistência a pessoas solitárias e a dedicação incansável dos profissionais de
saúde são apenas alguns exemplos de incontáveis ações solidárias. Gestores de
saúde e agentes públicos, diante de um cenário de medo e insegurança, foram
incansáveis e resilientes. O Sistema Único de Saúde-SUS mostrou sua fundamental
importância e eficácia para a proteção social dos brasileiros. A consciência
lúcida da necessidade dos cuidados sanitários e da vacinação em massa venceu a
negação de soluções apresentadas pela ciência. Contudo, não nos esquecemos da
morte de mais de 660.000 pessoas e nos solidarizamos com as famílias que
perderam seus entes queridos, trazendo ambas em nossas preces.
Agradecemos ainda, de modo particular às famílias e outros agentes
educativos, que não se descuidaram da educação das crianças, adolescentes,
jovens e adultos, apesar de todas as dificuldades. Com certeza, a pandemia
teria consequências ainda mais devastadoras, se não fosse a atuação das
famílias, educadores e pessoas de boa vontade, espírito solidário e abnegado. A
Campanha da Fraternidade 2022 nos interpela a continuar a luta pela educação
integral, inclusiva e de qualidade.
A grave crise sanitária encontrou o nosso País envolto numa
complexa e sistêmica crise ética, econômica, social e política, que já nos
desafiava bem antes da pandemia, escancarando a desigualdade estrutural
enraizada na sociedade brasileira. A COVID-19, antes de ser responsável,
acentuou todas essas crises, potencializando-as, especialmente na vida dos mais
pobres e marginalizados.
O quadro atual é gravíssimo. O Brasil não vai bem! A fome e a
insegurança alimentar são um escândalo para o País, segundo maior exportador de
alimentos no mundo, já castigado pela alta taxa de desemprego e informalidade.
Assistimos estarrecidos, mas não inertes, os criminosos descuidos com a Terra,
nossa casa comum. Num sistema voraz de “exploração e degradação” notam-se a
dilapidação dos ecossistemas, o desrespeito com os direitos dos povos
indígenas, quilombolas e ribeirinhos, a perseguição e criminalização de líderes
socioambientais, a precarização das ações de combate aos crimes contra o meio
ambiente e projetos parlamentares desastrosos contra a casa comum.
Tudo isso desemboca numa violência latente, explícita e crescente
em nossa sociedade. A crueldade das guerras, que assistimos pelos meios de
comunicação, pode nos deixar anestesiados e desapercebidos do clima de tensão e
violência em que vivemos no campo e nas cidades. A liberação e o avanço da
mineração em terras indígenas e em outros territórios, a flexibilização da
posse e do porte de armas, a legalização do jogo de azar, o feminicídio e a
repulsa aos pobres, não contribuem para a civilização do amor e ferem a
fraternidade universal.
Diante deste cenário esperamos que os governantes promovam grandes
e urgentes mudanças, em harmonia com os poderes da República, atendo-se aos
princípios e aos valores da Constituição de 1988, já tão desfigurada por meio
de Projetos de Emendas Constitucionais. Não se permita a perda de direitos dos
trabalhadores e dos pobres, grande maioria da população brasileira. A lógica do
confronto que ameaça o estado democrático de direito e suas instituições,
transforma adversários em inimigos, desmonta conquistas e direitos
consolidados, fomenta o ódio nas redes sociais, deteriora o tecido social e
desvia o foco dos desafios fundamentais a serem enfrentados.
Nesse contexto, iremos este ano às urnas. O cenário é de
incertezas e radicalismos, mas, potencialmente carregado de esperança. Nossas
escolhas para o Executivo e o Legislativo determinarão o projeto de nação que
desejamos. Urge o exercício da cidadania, com consciente participação política,
capaz de promover a “boa política”, como nos diz o Papa Francisco. Necessitamos
de uma política salutar, que não se submeta à economia, mas seja capaz de
reformar as instituições, coordená-las e dotá-las de bons procedimentos, como
as conquistas da Lei da Ficha Limpa, Lei Complementar 135 de 2010, que afasta
do pleito eleitoral candidatos condenados em decisões colegiadas, e da Lei
9.840 de 1999, que criminaliza a compra de votos. Não existe alternativa no
campo democrático fora da política com a ativa participação no processo
eleitoral.
Tentativas de ruptura da ordem institucional, hoje propagadas
abertamente, buscam colocar em xeque a lisura do processo eleitoral e a conquista
irrevogável do voto. Tumultuar o processo político, fomentar o caos e estimular
ações autoritárias não são, em definitivo, projeto de interesse do povo
brasileiro. Reiteramos nosso apoio às Instituições da República,
particularmente aos servidores públicos, que se dedicam em garantir a
transparência e a integridade das eleições.
Duas ameaças merecem atenção especial. A primeira é a manipulação
religiosa, protagonizada tanto por alguns políticos como por alguns religiosos,
que coloca em prática um projeto de poder sem afinidade com os valores do
Evangelho de Jesus Cristo. A autonomia e independência do poder civil em
relação ao religioso são valores adquiridos e reconhecidos pela Igreja e fazem
parte do patrimônio da civilização ocidental. A segunda é a disseminação das fake news, que através da mentira e do ódio, falseia a realidade.
Carregando em si o perigoso potencial de manipular consciências, elas modificam
a vontade popular, afrontam a democracia e viabilizam, fraudulentamente,
projetos orquestrados de poder. É fundamental um compromisso autêntico com a
verdade e o respeito aos resultados nas eleições. A democracia brasileira,
ainda em construção, não pode ser colocada em risco.
Conclamamos toda a sociedade brasileira a participar das eleições
e a votar com consciência e responsabilidade, escolhendo projetos representados
por candidatos e candidatas comprometidos com a defesa integral da vida,
defendendo-a em todas as suas etapas, desde a concepção até a morte natural.
Que também não negligenciem os direitos humanos e sociais, e nossa casa comum
onde a vida se desenvolve. Todos os cristãos somos chamados a preocuparmo-nos
com a construção de um mundo melhor, por meio do diálogo e da cultura do
encontro, na luta pela justiça e pela paz.
Agradecemos os muitos gestos de solidariedade de nossas
comunidades, por ocasião da pandemia e dos desastres ambientais. Encorajamos as
organizações e os movimentos sociais a continuarem se unindo em mutirão pela
vida, especialmente por terra, teto e trabalho. Convidamos a todos, irmãos e
irmãs, particularmente a juventude, a deixarem-se guiar pela esperança e pelo
desejo de uma sociedade justa e fraterna. Nossa Senhora Aparecida, Padroeira do
Brasil, obtenha de Deus as bênçãos para todos nós.
Brasília – DF, 29 de abril de 2022.
Dom Walmor Oliveira de Azevedo
Arcebispo de Belo Horizonte – MG
Presidente da CNBB
Dom Jaime Spengler
Arcebispo de Porto Alegre, RS
1º Vice-Presidente
Dom Mário Antônio da Silva
Bispo de Roraima, RR
2º Vice-Presidente
Dom Joel Portella Amado
Bispo auxiliar do Rio de Janeiro, RJ
Secretário-Geral