Reflexão da Liturgia Dominical
No 3º Domingo da Páscoa lemos João 21,1-19, que narra a manifestação de
Jesus aos discípulos, “à beira do mar de Tiberíades”.
A cena pode ser lida, meditada e contemplada em dois momentos.
1 – Em João 21,1-14, Jesus se manifestou a Simão Pedro, a Tomé, a
Natanael, aos filhos de Zebedeu (Tiago e João) e a outros dois discípulos. O
número sete indica a totalidade. Pedro é o líder do grupo.
A pesca é símbolo da ação da Igreja nascente. Sem Jesus, ela é
infrutífera, titubeia na noite. Sem o Senhor, a missão entra em crise, a Igreja
perde a sua identidade. Sem a fé na ressurreição a tarefa da comunidade é
estéril. O tempo da Páscoa quer nos curar da ausência.
Mas mesmo nas dificuldades – noite longa, trabalho penoso, tempo
adverso, permanece necessária a colaboração de todos. Há uma participação
mútua. E Jesus se manifesta na perseverança comum. Ele é visto de manhã,
condição favorável para a missão.
Alguns sinais da manifestação de Jesus:
- concessão do prêmio à constância de quem permanece junto com o grupo;
o prêmio é a presença de Jesus;
- prêmio à constância de quem segue as suas indicações; a missão da
comunidade tem sucesso quando esta obedece ao mandato do Senhor; a pesca
abundante é a recompensa; os 153 peixes indicam os povos reunidos;
- Jesus se manifesta com a sua bondade e amizade; sinais do seu amor:
brasas, pão, peixe, refeição, são indicações da Eucaristia;
Jesus oferece a sua vida, mas pede a colaboração dos discípulos;
Pedro está disposto a servir e a enfrentar os desafios – joga-se no mar,
arrasta as redes, são indicações da missão da Igreja.
2 – Após à refeição, há um momento particular de colóquio entre Jesus e
Pedro (João 21,15-19), que oferece a este um encargo pastoral, que se funda
numa relação de confiança e filial intimidade. Pedro assume o papel de Jesus
como pastor, de representar na Igreja e para a Igreja a presença daquele que
deu a vida pelas ovelhas. Amar a Ele é dar a vida, ser pastor na Igreja é
servir amando. A condição para seguir o Mestre é o amor. O ofício e a
autoridade fundem-se no amor e nas provações.
A Igreja tem a Pedro como pastor. Por isso, devemos reconhecer no Papa a
presença do Senhor, o sinal de Cristo. A ele a nossa solidariedade e oração.
Atos 5,27b-32.40b-41 descreve passos da Igreja e seus desafios diante
das autoridades judaicas. Pedro está à frente da missão e anima a enfrentar as
dificuldades: “É preciso obedecer a Deus antes que os homens” e, com a força do
Espírito, continuar a obra de evangelização, mesmo nas tribulações e com
alegria, anunciar o nome de Jesus.
No livro do Apocalipse, depois de escrever as cartas para as comunidades, João tem a visão de uma “porta aberta no céu”, e uma voz convidando-o a entrar para mostrar “as coisas que devem acontecer” (Ap 4,1). Entrando no céu, ele vê um trono e nele “alguém sentado” (4,2), com um livro na “mão direita”, “lacrado com sete selos” (5,1). É o livro que contém o roteiro da história. Ninguém é capaz de abrir este livro (5,3), por isso João chorava muito (5,4). Um ancião o consola, dizendo que o “leão da tribo de Judá, o rebento de Davi, venceu, para abrir o livro e seus sete selos” (5,5). João não vê nenhum leão nem rebento, mas um “Cordeiro, de pé, como que imolado” (5,6). O Cordeiro é Jesus, o único capaz de ler a nossa história e apagar os nossos pecados, Ele é “digno de receber o livro e de abrir-lhe os selos (5,9), porque foi imolado e o seu sangue nos liberta e faz de nós “um reino de sacerdotes” (5,10). A passagem lida na liturgia (Ap 5,11-14) descreve o “cântico novo” dos anjos, dos seres vivos, anciãos, criaturas em louvor, honra e glória “ao que está sentado no trono e ao Cordeiro” (5,13). Nós somos convidados também a entrar nesta roda de louvor e alegria, pois somos libertos pelo sangue do Cordeiro.
Dom Paulo Roberto Beloto, Bispo Diocesano.