Reflexão da Liturgia Dominical
O evangelista João apresenta várias imagens para nos
falar de Jesus: Ele é a palavra encarnada, o cordeiro de Deus, a água viva, o
pão vivo que desceu do céu, a luz do mundo, a porta, a ressurreição e a vida, o
caminho, a verdade e a vida, a videira verdadeira. O 4º Domingo da Páscoa traz
a imagem do bom pastor (Jo 10,27-30).
Numa realidade pastoril e nômade, a imagem do pastor é
familiar e muito conhecida, desde o Antigo Testamento. Era aplicada a Deus, ao
pai, ao rei, ao chefe, líder, sacerdote. O pastor, de fato, tinha uma relação
afetuosa com as ovelhas. Conhecia cada uma, chamava-a pelo nome, protegia e
tratava do rebanho com carinho. Quem exercia uma autoridade deveria agir como o
pastor de ovelhas.
O bom pastor é Jesus que conhece, identifica-se com as
ovelhas, protege-as e lhes dá a vida eterna. Elas escutam a sua voz e o seguem
e jamais se perderão. É a comunhão profunda com o Pai que dá a Jesus a
autoridade sobre o rebanho. Ele veio fazer a sua vontade.
Quando Jesus utiliza a imagem do pastor, afirma que algo
sagrado deve ser preservado, que é o rebanho. A vida daqueles que são obra de
Deus deve ser protegida de mercenários. Somos preciosos aos seus olhos, e cada
vida encerra em si um valor bendito e sagrado. Somos queridos, desejados e
amados por Deus desde o princípio da nossa existência. Ele nos dá o que tem de
melhor: seu amor, perdão, proteção, segurança, sua vida e salvação.
Da parte do rebanho, é necessário conhecer o pastor,
escutar a sua voz e segui-lo. Só no Senhor, bom pastor, encontramos a vida e a
segurança. Só nele, podemos também ser sinais e instrumentos de bondade,
escuta, cuidado, amor, fraternidade e perdão.
A Igreja se inspirou na imagem do “bom pastor”, quando se
refere às suas atividades, utilizando a palavra “pastoral”, como cuidado, zelo,
responsabilidade e carinho que ela deve ter na sua missão. Pastoral é um
conjunto de ações pelas quais o Evangelho se torna Boa Nova para as pessoas, é
o anúncio do Reino e do amor do Pai, revelados e vividos por Jesus. Essa é a
razão de ser da Igreja, a sua vocação e identidade: continuar com firmeza,
coragem e fidelidade a obra de evangelização iniciada por Jesus. Seu nome deve
ser anunciado, pois é o único que salva, mesmo que isso acarrete problemas,
desafios e perseguições (At 13,14.43-52). Esta é a ordem do Senhor,
testemunhada por Paulo: “Eu te coloquei como luz para as nações, para que leves
a salvação até os confins da terra” (At 13,47), e que a Igreja deve ser fiel.
Em Ap 7,9.14b-17 João tem a visão de “uma multidão de
gente de todas as nações, tribos, povos e línguas, e que ninguém podia contar”.
Estavam vestidos de branco com palmas na mão, diante do trono e do Cordeiro,
prestando-lhes culto. São os que vieram da “grande tribulação”, “lavaram e
alvejaram suas roupas no sangue do Cordeiro”. Deus estende sobre eles a sua
tenda, protege-os e os alimenta, e enxuga as suas lágrimas.
Rezamos no 4º Domingo da Páscoa pelas vocações, uma
dimensão essencial para a vida da Igreja e sua ação evangelizadora. A oração é
uma condição básica para um bom resultado vocacional. Ela dispõe a pessoa, sua
vida, sua vontade, a receber humildemente a graça divina e a distribuir seus
dons. As verdadeiras vocações surgem alicerçadas numa profunda experiência de
Deus. A oração pelas vocações encontra sua máxima expressão na Eucaristia.
Dom Paulo Roberto Beloto, Bispo Diocesano.