Neste artigo, Pe Adilson Fortunato compartilha sobre o conteúdo da formação.
Nos dias 23 e 24 de maio, o clero diocesano participou de um
encontro de formação com o padre José Rafael Solano Duran, teólogo e professor
na Pontifícia Universidade Católica, da Arquidiocese de Londrina.
Este breve artigo não tem a pretensão de sintetizar o conteúdo
a nós transmitido, tamanha a profundidade de suas reflexões, mas apenas
compartilhar uma impressão, aquilo que foi possível recolher.
Padre Rafael nos apresentou uma síntese de mais de 20 anos
de pesquisa acadêmica. Desenvolveu sua exposição ao redor do tema da
"Antropologia da existência". Como ponto de partida, expôs uma
análise sobre a situação do ser humano no contexto de pós pandemia. Recordou
que a crise atual tem raízes num longo processo secularização, já abordado pelo
Concílio Vaticano II como, por exemplo, na "Gaudium et spes".
Entre tantas consequências de tal secularização no cenário
atual, está o fenômeno da exaustão do clero, que vive o drama de, ao mesmo
tempo, desejar responder ao chamado de Deus e deparar-se com os limites pessoais
para viver e para comunicar a fé no contexto atual. Resultam daí muitas chagas,
como a tendência ao carreirismo no clero ou outras formas de autoafirmação, o
que indica um vazio existencial.
Diante de tal quadro, surgem muitas perguntas: como podem
hoje os presbíteros encontrar meios de superação de tais dramas? Sob quais
bases devemos reconstruir nossa identidade presbiteral? Quais são novos métodos
requeridos para levar a mensagem cristã no mundo de hoje? Quais métodos
precisam ser abandonados?
Como possibilidade concreta para responder a tais questões,
foi-nos apresentada uma "Teologia do sensível", que requer uma tomada
de consciência da nossa fragilidade e limitação, assumindo a necessidade de
tornar-nos sensíveis para o cuidar tanto de nós mesmos, quanto dos outros, a
partir da comunhão com Deus, na vivência da fraternidade presbiteral, e no
desenvolvimento da auto responsabilidade.
Hoje somos fortemente influenciados por uma visão que exalta
o indivíduo, em detrimento da pessoa. Esta é uma chaga enorme. A Igreja, em
toda sua Tradição nos aponta para outro caminho: redescobrir o valor da pessoa,
como meio de sair do isolamento afetivo e da neutralidade, na qual uns querem
se sobrepor sobre os outros a qualquer custo.
O preço disso tem sido o fracasso e a exaustão.
Portanto, cuidar bem de si para cuidar dos outros. Este foi
um convite que persistiu na reflexão de Pe. Rafael Solano. Atos simples e
conscientes, como o resgate da dimensão lúdica da vida pode nos tornar mais auto
responsáveis e, ao mesmo tempo, mais sensíveis às necessidades do próximo.
Ao término do encontro, um misto de sentimentos nos
impulsionava: a sensação de que temos muito caminho a fazer, o pesar de nem
sempre estar atentos à urgência de uma conversão pastoral e, ao mesmo tempo a gratidão
pela oportunidade deste momento de formação, convivência e partilha do nosso
clero Diocesano.
Pe Adilson Fortunato,
para o Portal Diocesano de Comunicação.