Reflexão da Liturgia Dominical
A festa solene de Pentecostes conclui
o Tempo da Páscoa. Para os israelitas, Pentecostes era uma festa da roça,
ligada às colheitas. Mais tarde tornou-se uma festa religiosa, para recordar o
dia em que Moisés recebeu a Lei das mãos do Senhor, no monte Sinai. Os cristãos
celebram a experiência narrada por Lucas nos Atos dos Apóstolos (At 2,1-11),
onde os discípulos receberam o Espírito Santo. Este fato marcou o nascimento da
Igreja e a marcha do testemunho.
O Evangelho de João apresenta a
manifestação de Jesus aos apóstolos (Jo 20,19-23). Somos convidados a acolher:
a presença de Jesus ressuscitado, a paz, a alegria, o perdão, a Igreja, a cura
do medo, a missão e o testemunho. Mas o dom maior é o próprio Espírito.
Quem é o Espírito Santo?
Em uma de suas viagens missionárias,
quando estava em Éfeso, Paulo encontrou alguns discípulos e lhes perguntou:
“Vós recebestes o Espírito Santo quando abraçastes a fé”? Eles responderam:
“Nem sequer ouvimos dizer que existe o Espírito Santo!” (At 19,1-2). Será que
conosco acontece a mesma coisa? Sabemos que existe o Espírito Santo. Mas muitos
não possuem uma compreensão clara da teologia do Espírito.
O Espírito é a tradução do termo
hebraico ruah, que possui vários significados: ar, brisa, vento, sopro, fôlego,
respiração, hálito e outros. Em Gênesis 1,1, algumas traduções bíblicas optam
por “espírito de Deus”. As imagens descritas exprimem poder, liberdade,
bondade, delicadeza, intimidade, quietude e transcendência do Espírito Divino. A
respiração é aquilo que há de mais íntimo e vital na vida humana. No Antigo
Testamento, o espírito é algo dinâmico, o princípio da vida e da atividade
vital. No Novo Testamento, o termo grego que traduz espírito, com significados
semelhantes ao termo hebraico, mas também com algumas originalidades, é pneuma.
O Espírito Santo é uma pessoa. É a
terceira pessoa da Santíssima Trindade. Ele é Deus, procede do Pai e do Filho,
é consubstancial ao Pai e ao Filho.
O Espírito de Deus é Santo, pois a
natureza de Deus é a santidade.
Ele é criador, é o princípio da
criação das coisas. Transforma o caos em harmonia, “cria e renova a face da
terra”.
Uma das ações do Espírito por
excelência é a da intercessão: Ele é o Paráclito (Rm 8,26; Jo 14,16.26; 15,26;
16,7; 1Jo 2,1), o advogado, aquele que é chamado para estar junto, para
proteger, para defender, para consolar. A teologia joanina apresenta o Espírito
como o mestre que ensina, recorda e dá testemunho de Jesus. Ele guia para a
verdade.
“Se alguém tem sede, venha a mim, e
aquele que acredita em mim, beba” (Jo 7,37). O Espírito é água viva, Ele nos dá
a vida de Cristo ressuscitado. É também o fogo, o que purifica, perdoa,
transforma e destrói em nós o pecado e nos faz arder de temor e zelo por Deus.
O Espírito é dom de Deus (At 2,38;
8,20; 10,45), aquele que é dado, mas é também o princípio da doação. Ele é
“dom” e “dar-se” ao mesmo tempo. É a unção divina, o doador dos dons.
Deus é amor (1Jo 4,16). O Espírito é
o amor de Deus derramado em nossos corações (Rm 5,5). Ele possibilita em nós a
experiência do amor de Deus. “O fruto do Espírito é amor” (Gl 5,22)
Em nossas orações pedimos que o
Espírito nos liberte do inimigo. Ele é o nosso guia. Convencidos disso seremos
conduzidos por caminhos certos.
O Espírito realiza funções na vida da
Igreja e na vida dos fiéis, através dos sacramentos. Concede dons para o
serviço - adorna a Igreja com os carismas, dons concedidos em vista do bem
comum (1Cor 12,7) -; e para a santificação – ajuda os fiéis a viverem as
virtudes fundamentais no caminho da santidade, como a fé, a esperança, e a
caridade. O Espírito oferece graças para a missão e para a santidade pessoal.
O Espírito age em nós, mas com a
nossa participação. Por isso, algumas atitudes são essenciais para a ação do
Espírito: como o desejo – precisamos querer e suplicar a ação do Espírito em
nós; a docilidade – Deus não age com violência, Ele respeita o nosso ser; a
humildade - o abandonar-se em Deus, vencer a autossuficiência; a oração – assim
dizia Santa Teresa, a reformadora do Carmelo: “Quanto mais uma alma se rebaixa
em oração mais é elevada por Deus”; a obediência – que consiste em fazer sempre
a vontade de Deus; a pobreza – que gera a liberdade e zelo pela missão. Quando
agirmos assim o Espírito agirá em nós. Precisamos viver a “sóbria embriaguez do
Espírito”, que purifica dos pecados e vivifica o coração.
Fazer a experiência do Espírito é
entregar as rédeas da própria vida ou as chaves da própria casa a Deus
A ação do Espírito em nós nos leva a
viver os frutos (Gl 5,22-23): amor, alegria, paz, paciência, amabilidade,
bondade, lealdade, mansidão, domínio de si.
Para vivermos plenamente a nossa
missão e assumirmos com fidelidade, entusiasmo e zelo apostólico os
compromissos cristãos, precisamos da presença do Espírito. Ele nos conduz, “vem
em auxílio da nossa fraqueza, pois nem sabemos o que convém pedir, mas o
próprio Espírito intercede por nós com gemidos inefáveis” (Rm 8,26). Por isso
clamamos com confiança: “Oh vinde, Espírito Criador, as nossas almas visitai e
enchei os nossos corações com vossos dons celestiais”.
Dom Paulo Roberto Beloto, Bispo Diocesano.