27º Domingo do Tempo Comum - Ano C

Reflexão da Liturgia Dominical.

Conta a história que São Severino, missionário da Noruega, pregava a fé entre povos idólatras. Passado algum tempo, notou que aos poucos ia se formando uma pequena comunidade de crentes. Um dia, resolveu convidar os cristãos e os idólatras para reunirem-se na Igreja. Quando todos estavam presentes, deu a cada um uma vela apagada e, ajoelhado diante do altar, rezou em voz alta: “Mostre, Senhor e Deus verdadeiro, como diferem os que o conhecem e os que não o conhecem”. Mal terminou de proferir estas palavras, milagrosamente acenderam-se as velas dos cristãos, permanecendo apagadas as dos idólatras. Esse prodígio bastou para converter todos os que ainda não haviam aceitado o Evangelho.

A importância e a necessidade da fé: este é o tema central da Palavra de Deus. Em Lucas 17,5-10, ao responder aos apóstolos que pedem: “Aumenta a nossa fé!” (Lc 17,5), Jesus mostrou que a mesma não é questão de quantidade, mas de qualidade. Ao citar o grão de mostarda como exemplo, semente miúda, mas que traz em si as potencialidades da planta, Ele orientou que a fé, se for autêntica, mesmo ínfima, suporta dificuldades e é capaz de façanhas e coisas extraordinárias. Seguindo no seu diálogo e respostas, Jesus deu o exemplo do empregado, ensinando-nos que a nossa ação é gratuita e sem interesse: “Somos servos inúteis; fizemos o que devíamos fazer” (Lc 17,10). Por isso, quem o segue, não serve por interesse ou busca prestígio, fama, sucesso, mas age de modo desinteressado.

“O justo viverá por sua fé” (Hab 2, 4). O justo é aquele que fica firme e fiel a Deus, em momentos de crises e dificuldades (Hab 1,2-3; 2,2-4). O apóstolo Paulo deu um novo sentido a esta afirmação, dizendo que: “É pela fé que o justo viverá” (Gl 3,11), isto é, nós somos justificados se acreditamos em Jesus Cristo. Ele exortou o discípulo Timóteo a “reavivar a chama do dom de Deus” que ele recebeu por imposição de suas mãos; a não se envergonhar “do testemunho de Nosso Senhor”; a guardar “o precioso depósito, com a ajuda do Espírito Santo” (2 Tm 1,6-8.13-14).

A fé é dom de Deus. Ele nos concede esta graça, e o seu crescimento não depende do nosso esforço, mas da gratuidade do dom. Mas a fé é também resposta humana. Por ela, livremente, entregamo-nos a Deus, acreditamos no seu amor.

“Pela graça do Batismo, em nome do Pai, do Filho e do Espírito Santo, somos chamados a compartilhar a vida da Santíssima Trindade, aqui na terra, na obscuridade da fé, e para além da morte, na luz eterna” (CIgC, 265).

Ter fé é acreditar nas verdades reveladas. Por ela, confiamos na realização das promessas de Deus, acreditamos no seu amor, na sua bondade e misericórdia. Pela fé, confiamos plenamente e incondicionalmente, sem medo, em Deus, no seu poder e na sua ação. Para Ele, tudo é possível. Por isso, confiamos sempre, mesmo no tempo do silêncio de Deus e nas noites escuras da vida. Quem tem fé sabe que Deus é Deus e que devemos confiar sempre.

A chama da luz da fé não pode se apagar em nós, pois se isso acontecer, todas as demais luzes perdem o seu vigor. A sua luz ilumina toda a existência humana. Ela é nossa companheira de viagem, que permite perceber, com um olhar sempre novo, as maravilhas que Deus realiza. Como reavivar a chama da fé, como dom de Deus? Na leitura, escuta, acolhida e vivência da Palavra, na celebração dos sacramentos, na oração pessoal, na piedade e na prática do amor fraterno.
Dom Paulo Roberto Beloto, Bispo Diocesano.