Reflexão da Liturgia Dominical.
Estamos encerrando o Ano Litúrgico. O tema próprio de
reflexão é a escatologia: os últimos tempos, as últimas coisas, a consumação da
história. Como a Igreja entende a escatologia?
Celebramos a presença de Jesus na história em duas
dimensões diferentes.
Ele veio a primeira vez na sua encarnação, anunciando,
antecipando, e aproximando o Reino de Deus. Jesus Cristo é a realização da
salvação. Com Ele, o tempo já começou e as realidades futuras iniciaram-se.
Agora, somos convidados a construir o futuro. A
ressurreição do Senhor colocou a história na plenitude dos tempos e nós somos
chamados a participar dessa vitória. Tudo volta-se para Ele e para sua obra de
redenção.
Os cristãos comprometem-se com a vida, com as realidades
terrestres, em marcha para a verdadeira Pátria.
“Todas as vezes que comemos deste pão e bebemos deste
cálice, anunciamos, Senhor, a vossa morte, enquanto esperamos a vossa vinda!”,
rezamos na liturgia.
Jesus virá uma segunda vez, “para julgar os vivos e os
mortos” e inaugurar “novos céus e uma nova terra, nos quais habitará a justiça
(2 Pd 3,13).
As manifestações do Senhor, na sua encarnação e na sua
glória, não são motivos de apreensões e medo. Quando Deus se revela, sua
bondade, misericórdia e justiça, vão além das ameaças. Por isso, devemos evitar
especulações e fanatismos.
O fim do Ano litúrgico nos ajuda a refletir sobre alguns
textos apocalípticos. Apocalipse é uma palavra que vem da língua grega e quer
dizer revelação. Revelar é tirar o véu. Quando algo está encoberto, não
enxergamos direito, por isso, é difícil o discernimento e a compreensão. É
preciso revelar, tirar o véu e clarear, para que tudo seja compreendido.
Nas Sagradas Escrituras há muitos textos apocalípticos. É
uma literatura comum no mundo bíblico. É um modo de se transmitir uma mensagem.
Normalmente, essa linguagem surge em épocas de crises, dúvidas e perseguições.
A difícil realidade aliena e cega as pessoas, que não conseguem mais discernir,
ficam sem saídas e esperança. Como perceber a presença de Deus? Utilizando
sinais, imagens fortes, abalos cósmicos, o texto apocalíptico procura iluminar
os fatos com a luz da fé. Não é uma mensagem que remete ao futuro, mas
transmite conforto, ânimo, esperança, chama a atenção e desperta a fé e a ação para
o presente. Deus é o Senhor da história, que age salvando o seu povo fiel,
conduzindo-o para a vida.
Lucas 21, 5-19 descreve a destruição do Templo de
Jerusalém e os fins dos tempos. Orienta a comunidade sobre seu comportamento.
Pede atenção aos falsos profetas, serenidade e firmeza diante das catástrofes e
perseguições: “É permanecendo firmes que ireis ganhar a vida” (Lc 21,19), nos
orienta Jesus. Ele é o Senhor que liberta, pois revela a verdade sobre Deus e
sobre a humanidade. No meio de tantos acontecimentos só há uma fonte de
salvação: a fé na vitória do Senhor. Permanecendo firme na fé, vivendo
intensamente o agora, praticando o amor e a fraternidade, a comunidade cristã
tem sua segurança: “Para vós, que temeis o meu nome, nascerá o sol da justiça,
trazendo a salvação em suas asas” (Ml 3,20ª). “Trabalhando, comam na
tranquilidade o seu próprio pão” (2 Ts 3,12).