Reflexão da Liturgia Dominical.
Estamos seguindo Jesus, tendo como referência o Evangelho de Mateus, Ano
A. Este evangelista apresenta Jesus como o Emanuel, o Deus conosco (1,23;
18,20; 28,20). Jesus é o Messias que realiza as promessas do A.T. É o Mestre
que veio implantar a justiça que faz nascer o Reino. A justiça do Reino é a
novidade de Jesus e a mística que anima os seus seguidores.
A passagem do Evangelho neste 3º Domingo comum traz o início do
ministério de Jesus e o chamado dos primeiros discípulos (Mt 4,12-23). Duas
palavras se destacam na liturgia da Palavra: Galileia, 6 vezes, e luz, 5 vezes.
Jesus inicia a sua missão nas redondezas da Galileia. Essa região, por
sua posição geográfica e estratégica, por causa da fertilidade do seu solo e condições
climáticas favoráveis à agricultura, era cobiçada e despertava forte interesse
por parte dos romanos. A Galileia era uma província rica, além de produzir
alimentos para o país, estradas comerciais facilitavam o acesso e o escoamento
de mercadorias. Havia ali uma população quase estrangeira, entre judeus e
gentios.
Apesar dos privilégios, a política econômica imposta pelos romanos
estava gerando ao povo da roça um empobrecimento acelerado. A forte cobrança de
impostos contribuía para o endividamento dos pequenos camponeses e a perda de
suas terras. Muitas famílias abandonavam suas aldeias e iam viver como pobres
nas cidades, ou fugiam para as montanhas. Para essa gente pobre Jesus é a luz,
trazendo a justiça do Reino, cumprindo as promessas do A.T.
A imagem da luz é familiar nas Sagradas Escrituras, quase sinônimo de
vida. É a primeira coisa a ser criada (Gn 1,3). A luz é símbolo da salvação,
esplendor da glória de Deus. Era aplicada também à Lei, à Palavra, à justiça
(Sl 119,105; Pr 4,18). A cidade de Jerusalém é lugar de luz (Is 60,1.3). No
futuro, segundo o Apocalipse de João, “a cidade não precisa de sol nem de lua
que a iluminem, pois a glória de Deus a ilumina, e a sua lâmpada é o Cordeiro”
(Ap 21,23). O Senhor é nossa luz e salvação (Sl 26,1), nele não há trevas” (1
Jo 1,5). O futuro que Deus oferece é Ele mesmo, presente em nosso meio,
iluminando a nossa vida (Ap 22,5).
“O povo que andava (vivia) na escuridão (nas trevas) viu uma grande luz;
para os que habitavam (viviam) nas sombras (na região escura) da morte, uma luz
resplandeceu (brilhou)” (Is 9,1; Mt 4,16).
A luz faz parte da essência de Deus. Jesus é luz enquanto comunica a
vida e a graça de Deus. É luz enquanto comunica o amor do Pai. Ele revela que
Deus é amor e que nos ama.
O mal, as injustiças, o desamor e o pecado geram a escravidão e a morte.
No mundo existem trevas e situações adversas que provocam no coração do ser
humano decepções, mágoas, violência e crises. Jesus é a grande luz que veio
curar as feridas do coração humano. É o nosso companheiro de viagem, a salvação
oferecida por Deus, o caminho que gera segurança, o sentido de nossa
existência. Quem crê em Jesus e acolhe a sua mensagem, entra no caminho de
Deus, tem a verdade e a vida, é filho da luz.
Jesus formou um grupo para participar de sua missão. Constituiu com os
discípulos uma família, uma comunidade marcada pela amizade, pela convivência
fraterna e pela comunhão. A marca da comunhão dele com os seus é o amor.
Esta comunhão deve se estender à Igreja. Paulo fala da importância da união (1 Cor 1,1013.17). Todos somos de Cristo e Ele não está dividido.
Dom Paulo Roberto Beloto, Bispo Diocesano.