Reflexão da Liturgia Dominical.
O 2º Domingo da Quaresma narra um dos momentos mais importantes no
ministério de Jesus, presenciado por Pedro, Tiago e João, que é a
transfiguração. O fato é tão importante que é narrado nos três evangelhos
sinóticos, com semelhanças e diferenças (Mt 17,1-9; Mc 9,2-10; Lc 9,28-36). A
cena revela a pessoa de Jesus e a sua glória: ele é o Filho amado do Pai, o
anunciador do Reino. Nele, as promessas se cumprem: a Lei, simbolizada em
Moisés, e o profetismo, em Elias.
Jesus revelou o Reino amando, perdoando e servindo. Ele nos salvou
oferecendo a sua vida, o seu amor pela humanidade culminou na cruz. Foi
exaltado pelo Pai por sua obediência. O seu projeto é vitorioso, a
transfiguração é sinal da sua ressurreição.
Abrão recebeu a promessa de Deus de descendência, bênção e terra (Gn
12,1-4a). Aceitou uma vocação que marcou a origem do povo de Deus. O caminho se
faz pela fé, superando desafios e conforto, acolhendo o desconhecido, os
horizontes e o projeto do Senhor.
Paulo estava preso em Roma, antes do seu martírio. Escreveu uma carta ao
colaborador, “filho amado e fiel no Senhor” (1 Cor 4,17) Timóteo,
transmitindo-lhe coragem e confiança em Deus (2 Tm 1,8-10). Paulo foi um homem
de fé inabalável, confiante no poder de Deus e na graça revelada em Jesus
Cristo.
Somos também chamados por Deus a uma incumbência. A nossa vocação tem a
marca da fé, da confiança, do destemor, do serviço e da obediência à Palavra.
Jesus é vencedor de todos os males. Ele é o nosso sustento, o seu amor é o sentido
da nossa existência e da nossa resposta
Temos muitas resistências interiores que nos privam da liberdade e nos
impedem de dar uma resposta livre, corajosa e consciente. Temos medo. Como
tirar lições dessa fragilidade humana? Aprendendo a nos reconciliar com ela e a
reconhecer que por nossas capacidades não poderemos dar nenhuma resposta ao
Senhor. É Ele quem nos conduz com a sua misericórdia: “No Senhor nós esperamos
confiantes, porque ele é nosso auxílio e proteção” (Sl 32,20).
Hoje ouvimos muitas vozes e sons que confundem o discernimento e podem
nos desviar da estrada certa. A cena da transfiguração nos transmite um apelo
maior e seguro: “Este é o meu Filho amado, no qual eu pus todo meu agrado.
Escutai-o ... “Levantai-vos e não tenhais medo” (Mt 17, 5.7). A nossa vocação é
estar atentos à voz do Senhor. Ele nos quer em ação, no seu caminho, sem medo.
Ao ouvir as palavras do Pai e de Jesus, tomamos consciência que a nossa
salvação está em mãos seguras. Deus é a nossa melhor companhia.
Às vezes, como Pedro, achamos que o alto da montanha é o melhor lugar.
Mas Jesus nos quer na planície do dia a dia, da nossa vida e da nossa história.
Ali a resposta é mais exigente, implica dificuldades, renúncias e desafios, mas
o que Ele exige não supera as possibilidades do ser humano. Com Ele, podemos
descer da montanha e seguir o seu e o nosso caminho. Quando o nosso coração
está em Deus, perde o medo, pois se apega a uma força maior. Quem confia em
Deus cultiva o zelo e o entusiasmo, como dons do Espírito. Ele nos conduz, “vem
em auxílio da nossa fraqueza” (Rm 8,26), por isso clamamos com confiança: “Oh
vinde, Espírito Criador, as nossas almas visitai e enchei os nossos corações
com vossos dons celestiais”. Com a certeza de sua presença que cura a nossa
insegurança, somos impulsionados para a missão.
Dom Paulo Roberto
Beloto, Bispo Diocesano.