Reflexão da Liturgia Dominical
Uma característica do evangelista
João é apresentar a pessoa de Jesus através de imagens e símbolos. Ele é o
Logos-Verbo encarnado (1,14), o cordeiro de Deus (1,29.36), o novo templo
(2,21), a serpente salvadora erguida no deserto (3,14), a água viva
(4,14;7,37.38), o pão da vida, o pão vivo que desceu do céu (6,34.51), a luz do
mundo (1,9; 8,12; 9,5;12,35.46), a porta das ovelhas (10,7.9), o bom pastor
(10,11.14), a ressurreição e a vida (11,25), o grão de trigo (12,24), o caminho,
a verdade e a vida (14,6), a videira verdadeira (15,1.5).
O 4º Domingo da Páscoa é dedicado ao
tema do Bom Pastor. A intenção da Igreja é refletir e rezar por uma dimensão
conatural e essencial para a sua vida e missão, que é a vocação. Também a
vocação é uma experiência fundamental para o ser humano. Trata-se de discernir
a vontade, o desejo e os desígnios pessoais de Deus a nosso respeito.
No Brasil, a Igreja católica celebra
o 3º Ano Vocacional, com o tema, “Vocação: Graça e Missão”, e o lema: “Corações
ardentes, pés a caminho” (Lc 24,32-33). Deus é a fonte de toda vocação: Ele nos
chama à vida, à fé, através do nosso Batismo, e nos chama a uma vocação
específica. O Senhor pode chamar diretamente alguém, mas normalmente se utiliza
de mediações, como as pessoas, a família, a Igreja, a história, a realidade.
A vocação exige uma resposta, depois
de um sério discernimento. Esta é uma tarefa complexa, mas muito importante.
Como perceber e descobrir os sinais que apontam ou indicam a existência de uma
vocação? Como ajudar um adolescente ou um jovem a descobrir a vontade de Deus
para ele e o que ele pode fazer para aceitá-la? Discernir é distinguir a voz do
Espírito, que é a voz da verdade. Discernir a vontade de Deus é buscar, entre
tantos apelos, quais os que provêm do Espírito e quais os que a ele se opõem. O
discernimento de uma vocação tem como objetivo conhecer os verdadeiros motivos
que levam uma pessoa a uma determinada opção.
O lema do Ano vocacional: “Corações
ardentes, pés a caminho”, se refere ao coração que arde ao escutar a Palavra de
Jesus ressuscitado, e os pés que se colocam a caminho na missão.
Nesse ano litúrgico, apesar da imagem
do Bom Pastor, no texto evangélico (Jo 10,1-10), Jesus se apresenta como a
“porta das ovelhas”. É uma imagem que retrata segurança. Jesus é a porta,
enquanto oferece proteção, vida em abundância e salvação.
Quando Jesus utiliza as imagens da
porta e pastor, afirma que algo sagrado deve ser protegido, que é o rebanho. A
vida daqueles que são obra de Deus deve ser preservada de ladrões e
assaltantes. As ovelhas devem buscar o redil, ouvir a voz do pastor e segui-lo
para a sua proteção e a vida. Não devem seguir um estranho. A preocupação de
Jesus é com todo o rebanho, cada um é precioso aos olhos do Pai. Cada pessoa
está no coração de Deus, e cada vida encerra em si um valor bendito e sagrado.
O que Jesus quer resgatar é muito mais do que podemos imaginar, é maior desta
vida que conhecemos. Deus nos quer para Ele, somos queridos, desejados e amados
desde o princípio da nossa existência. Somos fruto do seu amor.
A Igreja se inspirou na imagem do
“Bom Pastor”, quando se refere às suas atividades, utilizando a palavra
“pastoral”, como cuidado, zelo, responsabilidade e carinho que ela deve ter na
sua missão. Bons pastores devemos ser todos nós.
A Palavra de Deus faz um apelo
vocacional a cada um de nós: buscar o Senhor, ouvir sua voz e segui-lo. Nele se
encontram a vida e a segurança. Nas palavras do apóstolo Pedro, devemos
reconhecer Jesus como “Senhor e Cristo”, aquele que sofreu por nós, carregou os
nossos pecados e nos curou com as suas feridas. Devemos voltar para o pastor e
guarda de nossas vidas (At 2,14ª.36-41; 1 Pd 2,20b-25).
Dom Paulo Roberto
Beloto, Bispo Diocesano.