Reflexão da Liturgia Dominical ( Foto ilustrativa: Benjamin West )
Quando recitamos o Creio, professamos a nossa fé na
ascensão de Jesus: afirmamos que ele “subiu aos céus, está sentado à direita de
Deus Pai todo-poderoso, donde há de vir a julgar os vivos e os mortos”. O
Catecismo da Igreja Católica diz que “a ascensão de Cristo assinala a entrada
definitiva da humanidade de Jesus no domínio celeste de Deus, de onde voltará,
até lá, no entanto, o esconde aos olhos dos homens” (CIgC, 665).
A ascensão é a celebração da exaltação do senhorio de Jesus,
é o coroamento da sua caminhada entre nós. Ele agora está em plena comunhão de
vida e de poder com o Pai, sentado à sua direita, no seu mistério, no seu ser,
na sua soberania. A glorificação do Senhor Jesus não se explica com a razão
humana, só os olhos da fé nos levam a celebrar a sua glória e senhorio.
A festa solene da ascensão de Jesus nos leva a meditar
duas dimensões essenciais da nossa fé. Contemplamos o Senhor na sua glória,
nosso desejo é o céu, nossa mente e o nosso coração se voltam para o alto, para
onde está Cristo, sentado à direita de Deus. Em Jesus, a nossa natureza foi
exaltada. Celebramos essa graça na fé e no desejo. Deus é o nosso desejo, só
nele encontramos a verdadeira felicidade.
A vida interior é essencial na Bíblia e na experiência
cristã, é entrar no mais profundo do nosso ser, onde Deus faz a sua morada. Mas
na sociedade atual a interioridade perdeu espaço. O que vale é o exterior, a
matéria, o rumor, o barulho, a distração. Mais cedo ou mais tarde, vem o vazio.
Pois nenhuma ação legítima se sustenta se Deus não estiver na sua origem. Antes
de servir, devemos nos colocar aos pés do Senhor e, em silêncio,
escutá-lo. Na intimidade, nos reabastecemos. Depois da escuta amorosa e
silenciosa, temos o que oferecer.
“Jesus foi levado ao céu à vista deles. Uma nuvem o
encobriu, de forma que seus olhos não podiam mais vê-lo” (At 1,9). O encontro
com Jesus se dá por meio dos sinais simbólicos da liturgia. Por isso,
percebemos a sua presença quando estamos reunidos em torno da Palavra e da Mesa
Sacramental.
Os olhos da fé nos levam a compreender que ao subir ao
céu, Jesus não nos abandonou, tem agora um nova presença, ele age através do
Santo Espírito. Dois efeitos são essenciais nessa ação: o Espírito ilumina os
mistérios e as verdades da fé; também infunde em nossos corações o amor de Deus
que nos purifica e nos santifica.
“Eu enviarei sobre vós aquele que meu Pai prometeu. Por
isso, permanecei na cidade, até que sejais revestidos da força do alto” (Lc
24,48). Agora é tempo do Espírito, tempo da vigilância e da ação, do apostolado
e do testemunho (At 1,8). É tempo de servir ao bem, à verdade e a Deus,
esperando o regresso glorioso de Cristo.
O Batismo nos insere no corpo do Senhor, somos filhos de
Deus, participamos da sua vida. Subimos ao céu com Jesus, mas enquanto não se
realiza plenamente em nosso corpo o que o Pai prometeu, estamos em missão. “Vós
sereis testemunhas de tudo isso... Em seguida voltaram para Jerusalém, com
grande alegria. E estavam sempre no Templo, bendizendo a Deus” (Lc 24,48.52).
A festa da Ascensão do Senhor nos ensina a buscar nele a
força necessária para a missão. Dessa experiência intima brota a consciência
missionária que se concretiza nas obras. A garantia do sucesso está na efusão
do Espírito.
Rezemos pelo 57º Dia Mundial das Comunicações Sociais,
com o tema: “Falar com o coração. Testemunhando a verdade no amor” (Ef 4,15).
Segundo o Papa Francisco, o coração que se move a ir, ver e escutar, é o mesmo
que nos move para uma comunicação aberta e acolhedora. “Se escutarmos o outro
com o coração puro, conseguiremos também falar testemunhando a verdade no
amor”, para isso é “preciso purificar o próprio coração”, para se comunicar
cordialmente com amor, com gentileza, amabilidade, com edificação, promovendo
uma cultura de paz, de diálogo e reconciliação. “Na conversão do coração se
decide o destino da paz”. O Papa encerra a sua mensagem, pedindo que Jesus,
“Palavra pura que brota do coração do Pai”, “Palavra que se fez carne”,
“Palavra de verdade e caridade”, “nos ajude a tornar a nossa comunicação livre,
limpa e cordial”; “a colocar-nos à escuta do palpitar dos corações, para nos
reconhecermos como irmãos e irmãs e desativarmos a hostilidade que divide; “nos
ajude a dizer a verdade no amor, para nos sentirmos guardiões um dos outros”.
Que Deus abençoe e ilumine todos os profissionais da comunicação.
Dom Paulo Roberto Beloto, Bispo Diocesano.