Reflexão da Liturgia Dominical
A festa
da Transfiguração do Senhor nos ajuda a contemplar um dos momentos mais
importantes e significativos no ministério de Jesus, presenciado por Pedro,
Tiago e João (Mt 17,1-9). Num encontro místico e íntimo com o Pai, ele se
transfigurou e experimentou a sua glória. O centro da cena são as palavras:
“Este é o meu Filho amado, no qual eu pus todo meu agrado. Escutai-o!” (Mt
17,5).
Jesus é
o Filho escolhido, o servo, o enviado do Pai que age em seu nome. Ele veio
realizar a salvação da humanidade. Toda a ação missionária de Jesus revela os
desejos de Deus, sua vontade e suas intenções.
Jesus
inaugurou um caminho de serviço, de amor, de entrega e de cruz. Não um caminho
de derrota, mas de vida. A cena da transfiguração antecipa a sua vitória. A
presença de Moisés e Elias, figuras centrais na Antiga Aliança, revela Jesus
como aquele que veio realizar a Lei e os Profetas. Na sua vida, missão, morte e
ressurreição se concretizam as promessas do Antigo Testamento. Jesus foi
crucificado, mas venceu a morte e foi glorificado pelo Pai. O seu caminho agora
é o único capaz de vencer as ambiguidades humanas e dar sentido à vida. O amor
de oblação e de cruz transforma a história e renova os corações. Quando o amor
está presente, Deus aí está.
A cena
da transfiguração aponta duas dimensões da fé. Somos discípulos do Senhor,
chamados a entrar em comunhão com ele. Como a Pedro, Tiago e João, Jesus nos
toma consigo e nos leva a um lugar à parte, sobre uma alta montanha. Ali é o
lugar da manifestação da sua glória, do discernimento de sua pessoa e missão:
ele é o Filho amado do Pai que devemos ouvir. “Senhor, é bom ficarmos aqui” (Mt
17,4). Quando permanecemos com Jesus recebemos da sua vida, do seu amor, do seu
perdão, temos o alimento necessário, a força, a proteção, a comunhão que nos
conduz à santidade. Sem Jesus, ficamos às escuras sobre ele e sobre nós mesmos.
“O
encontro com Cristo, graças à ação invisível do Espírito Santo, realiza-se na
fé recebida e vivida na Igreja”, “na Sagrada Escritura”, “na Sagrada Liturgia”,
de modo privilegiado na Eucaristia, na “oração pessoal e comunitária”, “no amor
fraterno”, “nos pobres, aflitos e enfermos”, na piedade popular – Maria e os
santos (DAp, 246-275).
Descemos
com Jesus da montanha: somos seus missionários, testemunhas do Evangelho. A
vida cristã brota da identificação com Cristo em seu ser, mas também em sua
missão apostólica.
Um rei
recebeu, em audiência, alguns engenheiros encarregados de projetar a construção
de uma estrada de ferro que ligaria duas grandes cidades. Verificou o monarca
que os técnicos não chegavam a um acordo. Afirmava um, apontando para o mapa,
que o traçado mais vantajoso exigia certa ponte. Opinava outro por um túnel. Garantia
um terceiro que a estrada devia passar por umas tantas vilas e aldeias.
Impaciente com todas as opiniões desencontradas e, resolvido a solucionar o
caso, disse-lhes: “Tragam uma régua e um lápis”. Colocando a régua sobre o mapa
traçou com o lápis uma reta cujos extremos eram as duas grandes cidades. E
dirigindo-se ao chefe dos engenheiros, disse-lhe: “Eis o traçado da nova
estrada, o único aceitável é este”. Os homens traçaram uma infinidade de
caminhos para o céu. Não obstante, só existe, na verdade, um: é a reta para
Cristo.
Daniel
7,9-10.13-14 descreve a visão do profeta de um Ancião (Deus) que governa e
julga a história. O filho de homem é a personificação daqueles que são fiéis.
Jesus assumiu essa missão, de instaurar o Reino de Deus.
Pedro
testemunha que Jesus Cristo “recebeu honra e glória da parte de Deus Pai”. Essa
sua fé é fruto de um encontro pessoal com Jesus Cristo glorificado, na sua
transfiguração (2 Pd 1,16-19).
Dom Paulo Roberto Beloto, Bispo Diocesano.