Reflexão da Liturgia Dominical
“Amarás o Senhor teu Deus de todo o teu coração, de toda a tua alma e de
todo o teu entendimento... Amarás ao teu próximo como a ti mesmo”. Respondendo
à pergunta de um dos fariseus, sobre o maior dos mandamentos, Jesus cita duas
passagens do Antigo Testamento: Dt 6,5 e Lv 19,18, e sintetiza tudo no
mandamento do amor, primeiramente a Deus e a seguir, ao próximo. “Toda a Lei e
os profetas dependem desses dois mandamentos” (Mt 22,34-40). O Mestre ensina
que a relação com Deus e com os irmãos não se opõe nem se separa, e tem o amor
como motor, amor teologal, sendo Deus o ponto de partida e a sua essência:
“Deus é amor, quem permanece no amor, permanece em Deus, e Deus permanece nele”
(1 Jo 4,16). Quem ama assim responde à sua vontade, assume a sua vocação
fundamental. Só o amor conta.
Antes de exortar que devemos amar a Deus, a Bíblia nos revela que Ele
nos amou gratuitamente, como Criador, dando-nos a vida e a dignidade da sua
imagem e semelhança (Gn 1,26.27); como Filho redentor (Rm 3,24); e como
Espírito santificador (Rm 5,5).
É esse amor que os santos descobriram, como sentido da vida, motivo e a
razão do nosso peregrinar, como uma Santa Teresinha, que só queria viver e
morrer de amor, pois só ele conta. De fato, é do amor de Deus que vivemos e é
para esse amor que vivemos, e assim realizamo-nos.
Mas não é fácil amar. Alguns entraves dificultam a prática do amor. Por
exemplo: a imagem errada de Deus. Temos a plena certeza e a convicção de que
Ele nos ama, e que o seu amor é maior do que as nossas misérias? Buscamos o
Senhor porque confiamos na sua graça, reconhecemos a sua bondade, amor e
grandeza, ou por medo do seu castigo? Também dificulta a vivência do amor a
falta da consciência da presença de Deus e da sua verdade. O ser humano
rebela-se contra o Criador, ignorando a sua existência, pior, quer ser como
ele, coloca-se no seu lugar, rompe a comunhão. E, no abuso desta liberdade, já
não consegue se indignar diante do desamor. Durante a nossa existência
armazenamos coisas boas em nosso interior, que contribuem para uma vida
equilibrada e santa, mas também trazemos experiências traumáticas e negativas
que provocaram feridas, envenenando nossas emoções e determinando o nosso
comportamento, impedindo a prática do amor. Uma realidade econômica e social
injusta e desordenada é um inimigo para o amor.
Como superar esses entraves? Acolhendo a grandeza de nossa vida, com
intensidade, discernimento, sabedoria e responsabilidade. Buscando os meios
possíveis que contribuem para esse caminho. Sobretudo, para nós, cristãos,
acreditando que Deus nos ama, e é este amor que nos salva e que nos faz ser
gente, que dá sentido à nossa história e a nossa missão. O amor é ação de Deus
e esforço humano. Contando com sua graça, não desistindo da verdade e da
justiça, o ser humano pode orientar a sua vida e as coisas segundo o Espírito,
para o amor e a prática do bem.
O alimento para a prática do mandamento do amor deve ser buscado na
oração, na escuta da Palavra de Deus, na Eucaristia e na Confissão.
Êxodo 22,20-26 faz um apelo: amar e ser justo com os mais vulneráveis,
na época, o estrangeiro, a viúva, o órfão e o pobre. Deus se identifica com
eles.
Paulo expressa sua gratidão pelo testemunho de perseverança e fidelidade
da comunidade. Estimula os seus membros a continuar firmes e fervorosos na fé,
a imitar o Senhor e a entregar-se ao serviço de Deus e evitar o mal (1 Tes
1,5-10).
Dom Paulo Roberto
Beloto, Bispo Diocesano.