Reflexão da Liturgia Dominical
O fim do ano litúrgico nos ajuda a meditar sobre a vigilância, a
fidelidade e a espera ativa, atitudes fundamentais para os discípulos de Jesus
Cristo. Ele contou a parábola das dez virgens (Mt 25,1-13), passagem inserida
no discurso escatológico de Mateus, fazendo apelo a essas condutas.
O pano de fundo é uma festa de casamento. O noivo é o próprio Jesus,
aquele que devemos esperar com expectativa, como as virgens na estória. A sua
chegada é como uma festa, o casamento definitivo do noivo, que é ele, com a
humanidade, a noiva.
É preciso ser previdente, não deixar faltar o óleo e estar pronto para a
“hora do grito”, com a “lâmpada acesa”. O óleo é o símbolo da justiça: estar
preparado é um compromisso com Jesus e com a justiça do Reino. Na última hora
não adianta querer emprestar óleo dos outros, ou os méritos dos outros, é
preciso estar sempre vigilante.
O tema da vinda do Senhor é próprio do fim do ano litúrgico. Está
presente na sua catequese e na espiritualidade cristã. Até rezamos na liturgia
o nosso desejo da vinda gloriosa do Senhor: “Esperamos, ó Cristo, vossa vinda
gloriosa”.
A Igreja celebra a primeira vinda do Senhor na sua encarnação, e
acredita na sua vinda gloriosa. Quando será, não sabemos! O dia e a hora são
segredos que o Pai reservou para si (Mt 24,36). A Bíblia indica sinais (Lc
21,25-28), perseguições (Mt 24,9), surgimento de falsos profetas (Mt 24,11.24),
mas não determina o dia e a hora, nem fica especulando: o importante é a atitude
básica de quem espera com amor.
Na expectativa da vinda do Senhor devem ser evitados o esmorecimento, a
inquietação, a perturbação ou o alarde. Se rezamos a sua volta, não é para
esperarmos com medo.
Com a encarnação, ressurreição e ascensão, o advento de Jesus na terra
já aconteceu e o Reino está presente. Vivemos, portanto, “sob o regime da
graça”, e somos “escravos da justiça” (Rm 6,15.18). Mas sabemos que o Reino é
atacado pelas forças do mal, embora já tenham sido derrotadas em suas bases por
essa presença de Cristo. Enquanto não houver “um novo céu e uma nova terra” (Ap
21,1), aguardamos a sua volta definitiva.
Deus tem paciência e espera com misericórdia a conversão dos seus filhos
e filhas. Também com paciência e perseverança vivemos o tempo presente, sendo
guiados pelo Espírito, na sensatez, sabedoria (Sb 6,12-16), responsabilidade,
esperança (1 Ts 4,13-18) e prudência.
A vigilância caracteriza os discípulos de Jesus: é próprio de quem
ama. Se até nas coisas humanas devemos ter uma disciplina e vigilância, como
levantar todos os dias no mesmo horário, seguir o mesmo programa, realizar as
mesmas atividades, cumprir as normas exigentes no trabalho, etc. Ninguém pode
oferecer de si o melhor se não se esforçar. Quanto mais na vida espiritual devemos
ter uma disciplina. Contando com a graça de Deus, cada um faz seu caminho de
renúncias, sacrifícios e mortificação.
A vigilância é caminho para Deus. Mas não se trata de uma ação que
reivindica direitos perante Ele ou vantagens perante as pessoas. Mas uma vida
orientada segundo o Espírito. “Se, pelo Espírito, matardes o procedimento
carnal, então vivereis” (Rm 8,31). A ascese é dom do Espírito e gera a vida e a
liberdade.
Dom Paulo Roberto
Beloto, Bispo Diocesano.