Reflexão da Liturgia Dominical
No 4º
Domingo do Advento lemos a cena da anunciação (Lc 1,26-38). Ela é
iniciativa do amor de Deus: “O anjo Gabriel foi enviado por Deus... O Espírito
virá sobre ti, e o poder do Altíssimo te cobrirá com sua sombra” (Lc 1,26. 35).
É o cumprimento das suas promessas, que acontece por puro amor Daquele que vê,
ouve, conhece e sente as dores da humanidade.
O
conteúdo da anunciação diz respeito primeiramente ao Messias: quem vai nascer
de Maria será Jesus, o Filho do Altíssimo, o Santo, Filho de Deus, o Rei. Diz
respeito à Maria: ela é a virgem “cheia de graça”, objeto da complacência
divina, o Senhor está com ela. O conteúdo da anunciação diz respeito também a
nós: Jesus se encarnou para nos salvar e nos reconciliar com Deus; para que
conhecêssemos o seu amor; para ser nosso modelo de santidade e nos tornar
participantes da natureza divina.
Quais as
lições da anunciação? As primeiras reações de Maria são humanas: susto,
surpresa, confusão, medo, interrogações. Após às palavras do anjo, ela supera
tudo isso: “Eis aqui a serva do Senhor; faça-se em mim segundo a tua palavra”
(Lc 1,38). Maria fez a vontade de Deus assumindo a condição de serva. O seu sim
é uma atitude de obediência e de colaboração ativa à iniciativa divina. A palavra-chave
do 4º Domingo do Advento é: obediência.
Há um
princípio formulado por Santo Tomás de Aquino que diz: a graça divina não anula, mas supõe e aperfeiçoa a natureza
humana. O Catecismo da Igreja Católica define a graça como
“favor, o socorro gratuito que Deus nos dá para responder ao seu convite: nos
tornarmos filhos de Deus, filhos adotivos, participantes da natureza divina, da
vida eterna... A graça é uma participação na vida divina; nos introduz na
intimidade da vida trinitária” (CIgC, 1996.1997). Como dom do Espírito Santo, a
graça compreende os seus dons para nos associar à sua obra.
A graça
supõe e aperfeiçoa a natureza. No seu infinito amor, Deus confia na resposta
livre do agir humano: Ele conta com a nossa colaboração. A sua obra acontece naqueles
que se dispõe a participar.
O tempo
do Advento nos apresenta figuras tementes a Deus, que acolheram a sua graça,
foram solícitas e se ofereceram para servi-lo. Maria é um modelo perfeito de
disponibilidade à graça do Senhor. É a serva preenchida de graça, livre para
obedecer. É a mãe da obediência e da disponibilidade. Deus agiu na sua pobreza,
obediência e generosidade. A encarnação do Verbo foi possível com o seu sim
A
obediência de Maria é expressão de sua consagração: ela é toda de Deus, sempre
pronta a servi-lo. É a virgem pobre e obediente que se abriu totalmente e de
maneira exemplar ao Altíssimo. Ela inspira todos aqueles que, por livre
disponibilidade, se apresentam diante do Senhor e dos irmãos com o compromisso
de viverem a obediência. Sem uma experiência do absoluto não se pode penetrar o
que significa ser obediente.
A
obediência cristã é um ato de fé, consiste em fazer a vontade de Deus, isto é,
fazer o que lhe agrada, confiar no seu amor misericordioso. É aceitação de
Jesus como Senhor e Salvador. “Eis que eu venho, ó Deus, para fazer a tua
vontade” (Hb 10,5). “Seja feita a vossa vontade, assim na terra como no céu”.
Paulo (Rm 16,25-27) encerra a Carta aos Romanos com uma oração de louvor, falando do “mistério mantido em sigilo”, agora manifestado e “levado ao conhecimento de todas as nações, para trazê-las à obediência da fé”. Obediência da fé é acolher a graça de Deus, ser generoso e fazer o seu amor frutificar.
Dom Paulo Roberto Beloto, Bispo Diocesano.