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Batismo do Senhor

Batismo do Senhor

Uma reabertura do paraíso

O Antigo Testamento é marcado por diversos eventos que tocam profundamente a realidade humana, e, se de um lado há o homem que em tantos momentos se ausenta de Seu Criador, de outro há Deus, que, insistentemente, busca a criatura que se perdera. De fato, no relato do gênesis observa-se o pecado do homem e a promessa de salvação por parte de Deus (cf. Gn 3, 15), ao passo, que, no êxodo, o povo vai ao encontro das promessas de Deus, pecam pela idolatria, e, ainda assim, o Senhor permanece fiel até o fim, como se observa, sobremaneira, na travessia do mar vermelho (cf. Ex 13, 17). 

Seja como for, poder-se-ia se perguntar: qual o sentido da festa do batismo do Senhor neste dia?

Ora, antes de tudo, faz-se necessário compreender que o batismo de Jesus tem singular importância por marcar o início de sua missão pública. Ou seja, se outrora o Salvador esteve “escondido” em sua casa, sobretudo empenhado em uma vida de silêncio, marcada pela oração e por uma profunda preparação interior, agora, de modo público, com o gesto do batismo Ele inicia a missão pela qual fora chamado. 

Diante disso, o gesto de Jesus quer demonstrar que se por meio de Adão os homens foram submergidos às profundezas das trevas, haja vista que pelo pecado foram fechadas as portas do paraíso, por meio de tão nobre aceno, Cristo eleva o homem novamente à sua dignidade, e, em última instância, dentro de uma perspectiva espiritual, o próprio Senhor santifica as águas. Isto posto, para além da humildade de Cristo em cumprir tudo aquilo que é necessário aos homens, em seus atos e obras, Ele ainda destrói tudo o que estava sob o poder das trevas, conforme nos diz o apóstolo: “Deus é luz e nele não há treva alguma” (cf. 1 Jo 1, 5). 

Sobre afirmar que Jesus Cristo é luz do mundo, vale salientar que Seu batismo tem significado importante no que tange a revelação de Sua identidade ao mundo, pois o Evangelho deixa claro que “da nuvem saiu uma voz: ‘este é o meu Filho amado; ouvi-o” (cf. Mc 9,7). Diga-se: aqui há a revelação pública de quem é Jesus, ao passo, que, no versículo 2, ao narrar a transfiguração do Senhor, Cristo já havia se revelado particularmente a Pedro, Tiago e João. Seja como for, o Evangelho explicita para a humanidade quem é Jesus, e, ao mesmo tempo, indiretamente, deixa clara Sua missão. 

Neste sentido, uma vez mais emana o questionamento: qual o sentido do batismo de Jesus na vida do cristão? 

São Gregório de Nazianzo em seus sermões dirá que “antes de nós e por nossa causa, ele que é Espírito e carne santificou as águas do Jordão, para assim nos iniciar nos sacramentos mediante o Espírito e a água”. Ante tal afirmação, poder-se-ia dizer que para o cristão as águas do batismo tem importância singular, pois adentrar a elas significa passar da morte à vida. Mais do que isso, consiste na certeza de que as portas do paraíso foram reabertas. Não obstante, o Cristo que adentra às águas do Jordão firma um compromisso inalienável com sua missão. Assim, o cristão que faz a escolha fundamental pelo Cristo é chamado indubitavelmente aos compromissos firmados em seu batismo. 

É diante disso que pode-se concluir: embora as portas do paraíso foram reabertas pelo Cristo, a escolha por adentrar a ela é opção de cada pessoa. Aliás, embora o princípio fundamental da vida cristã parta da graça de Deus, cada batizado é chamado à cooperação. Portanto, só se chega ao destino final aquele que perseverantemente caminha, ainda que em meio ao cansaço.


Diácono Diogo Augusto
Assessor Diocesano da Pastoral da Comunicação