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"Criai em mim um coração que seja puro" (Sl 50,12).

"Criai em mim um coração que seja puro" (Sl 50,12).

5º Domingo da Quaresma

5º Domingo da Quaresma


 


“Se o grão de trigo que cai na terra não morre, ele continua só um grão de trigo; mas se morre, então produz muito fruto” (Jo 12,24). Esta afirmação de Jesus marca o 5º Domingo da Quaresma e resume a sua missão: dar a vida para salvar e congregar o povo de Deus. Jesus realizou a nova e eterna aliança.


Um tema básico do AT é a instauração da aliança entre Deus e o povo de Israel, um dos eventos místicos centrais da história da salvação. O povo é beneficiário das promessas divinas.


Jeremias (Jr 31,31-34) fala de uma nova aliança, não como o evento do passado, mas feita nas entranhas e no coração: uma aliança de amor e de comunhão com Deus.


A aliança realizada no coração, fruto do amor, tornou-se plena em Jesus Cristo. Nele, é como uma semente lançada na terra, que morre para produzir. Jesus é o grão de trigo que o Pai plantou na roça da humanidade, que ofereceu a sua vida pelo bem dos seus.


“O Filho do Homem não veio para ser servido, mas para servir e dar sua vida em resgate por muitos” (Mc 10,45). O caminho de Jesus é o do serviço e da caridade fraterna. O sinal do grão de trigo que morre revela a entrega do Senhor para salvar.


Produzir fruto em Jesus é redimir o que o pecado destruiu; é devolver a vida e a dignidade aos filhos e filhas de Deus. A sua missão é difícil de ser compreendida com os critérios humanos. Ele mesmo experimentou esta dificuldade: “Agora sinto-me angustiado. E o que direi? Pai, livra-me desta hora?” (Jo 12,27). Mas venceu a limitação humana sendo fiel e obediente: “Foi precisamente para esta hora que eu vim. Pai, glorifica o teu nome” (Jo 12,27-28).


Diz o autor da carta aos Hebreus: “Mesmo sendo Filho, aprendeu o que significa a obediência a Deus por tudo aquilo que ele sofreu” (Hb 5,8). Jesus aceitou a cruz e nela a glória do Pai se realizou. Pela sua fidelidade e obediência o Filho recebeu do Pai a glória. A glorificação é a manifestação do amor de Deus, é a confirmação da missão de Jesus. Selou-se a nova aliança profetizada pelo profeta Jeremias (Jr 31,31).


Jesus ensina que Deus pode ser reconhecido interiormente dentro de nós, em nosso coração. Ali está o seu Espírito, assim, Deus e homem se unem e formam uma pessoa. O Mestre “é a causa de salvação eterna” (Hb 5,9); “aquele que atrai todos a si” (Jo 12,32).


A aliança é selada na cruz, onde a inimizade é destruída, os pecados são remidos: o ser humano é reconciliado com o seu Criador, a soberania e a santidade divinas são reconhecidas na obediência do Redentor.


“Se alguém me quer servir, siga-me... Se alguém me serve, meu Pai o honrará” (Jo 12,26). A salvação é oferecida a toda a humanidade, mas ela se concretiza na resposta de cada um. De Jesus aprendemos a obediência e a fidelidade; aprendemos a servir e a amar. Somos sementes que devem morrer para gerar a vida. É assim que o ser humano se realiza, amando e servindo. Crescer é sempre perder alguma coisa.


A Santa Missa celebra o memorial da Nova Aliança, onde Cristo oferece o seu corpo e o seu sangue, tornando presente o sacrifício da cruz. Quando celebramos a Eucaristia, renovamos a aliança que Jesus nos oferece com o seu sangue. Vamos ao seu encontro e recebemos o anúncio de que a sua glória passa pela experiência do serviço e do amor. A Eucaristia é o sacrifício da Igreja e de todos os seus membros. Somos grãos de trigo que morrem para gerar a vida. Oferecemos o nosso corpo, a nossa vida e toda a nossa existência: esta é a nossa missão.

Dom Paulo Roberto Beloto,
Bispo Diocesano.