Procissão do Encontro
Uma celebração litúrgica de
muita piedade, que o povo católico muito aprecia durante a Semana Santa, é a
Procissão do Encontro, um momento que marca o encontro da Virgem Maria com Seu
Filho Divino, carregando a Cruz no caminho do Calvário, pelas ruas de
Jerusalém, depois de ser flagelado, coroado de espinhos e condenado à morte por
Pilatos. É um momento em que meditamos o doloroso encontro da Virgem Maria com
Jesus; é um momento de profunda reflexão sobre as dores da Mãe de Jesus, desde
o Seu nascimento até a Sua morte na Cruz. Jesus sofreu a Paixão; a Virgem
sofreu a compaixão por nós.
A dor de Nossa Senhora por Seu filho
A “espada de Simeão”, que não
saíra da mente de Jesus durante 30 anos de Sua vida, apresentava-se cada vez
mais ameaçadora diante de Maria. Não é difícil imaginar o quanto
Nossa Senhora sofreu ao ver Seu Filho ser perseguido, odiado, jurado de morte
pelos anciãos e doutores da lei que o invejavam. Quantas ciladas Lhe armavam! Quantas
disputas Ele teve de travar com os mestres da lei.
E eis que a Paixão do Senhor
se torna presente. Todo ano, Ela ia à Jerusalém para a festa da Páscoa judaica,
e também, naquele ano da morte do Seu Amado, Ela ali estava.
Podemos imaginar a dor do coração
de Maria ao saber da traição de Judas, do abandono dos discípulos no Horto das
Oliveiras, a negação de Pedro e, depois, Sua prisão e maus tratos nas mãos dos
soldados do sumo-sacerdote. Certamente, naquela noite santa e terrível, em que
Ele, “tendo amado os Seus que estavam no mundo, amou-os até o fim” (Jo 13,1),
Maria foi informada dos discípulos que abandonaram o Mestre e fugiram na noite.
Fico pensando na dor de Maria
ao saber da tríplice negação de Pedro, o escolhido do Senhor, e de tudo o mais
que Seu Filho divino estaria passando nas mãos dos soldados naquela noite. Ela
sabia que o sumo- sacerdote e os doutores da lei estavam ansiosos para pôr as
mãos n’Ele. São Lucas narra com riqueza de detalhes os fatos:
“Entretanto, os homens que
guardavam Jesus escarneciam-se d’Ele e davam-Lhe bofetadas. Cobriam-Lhe o rosto
e diziam: ‘Adivinha quem te bateu!’” (Lc 22,63-64).
Que Mãe
suportaria ver Seu Filho sofrer tanto assim?
Na manhã do dia seguinte,
sabia que Seu Filho seria colocado diante de Pilatos, que o mandou flagelar até
o sangue escorrer de Suas chagas, e ainda coroado com uma coroa de espinho,
dolorosa e humilhante. Que Mãe suportaria ver Seu Filho sofrer tanto
assim? Que dor Maria não sentiu ao saber, ou quem sabe até ao ouvir, o
povo insuflado pelos doutores da lei gritando a Pilatos: “Crucifica-o!
crucifica-o!”? Como deve ter sofrido ao ouvir o povo gritar!
“Todo o povo gritou a uma voz:
‘À morte com este, e solta-nos Barrabás’. Pilatos, porém, querendo soltar
Jesus, falou-lhes de novo, mas eles vociferavam: ‘Crucifica-o! Crucifica-o!’.
Pilatos pronunciou então a sentença que lhes satisfazia o desejo” (Lc
23,18-24).
Pilatos tinha sentimento
humano para com Jesus; tivesse ele vencido sua covardia, talvez o teria salvo
do furor da multidão. Maria aceitou tudo aquilo, não se revoltou naquela hora
tremenda, que decide a vida ou a morte de Seu Filho. Ela sabe que o Filho podia
por si, sem auxílio alheio, livrar-se de Seus inimigos, mas se deixou como um
cordeiro levar ao suplício, é porque o fez espontaneamente, cumprindo a vontade
de Deus.
Maria foi ao encontro de Jesus
que, carregado do peso da Cruz, encaminha-se para o Calvário. Ela o vê todo
desfigurado e entregue, coberto de mil feridas e horrivelmente ensanguentado.
Seus olhares se cruzam. Nenhuma queixa sai de sua boca, porque as maiores dores
Deus lhe reservou para a salvação do mundo. Aquelas duas almas, heroicamente
generosas, continuam juntas no seu caminho do sofrimento, até o lugar do
suplício.
Caminho do
Calvário
Maria O acompanhou no caminho
do Calvário e se lembrou da espada de Simeão e das palavras de Isaías:
“Era desprezado, a escória da
humanidade, homem das dores, experimentado nos sofrimentos; como aqueles,
diante dos quais se cobre o rosto, era amaldiçoado e não fazíamos caso dele.
Em verdade, Ele tomou sobre si nossas enfermidades e carregou os nossos
sofrimentos; e nós o reputamos como um castigado, ferido por Deus e humilhado.
Mas ele foi castigado por nossos crimes e esmagado por nossas iniquidades. O
castigo que nos salva pesou sobre Ele; fomos curados graças às Suas chagas.
Todos nós andávamos desgarrados como ovelhas, seguíamos cada qual nosso
caminho. O Senhor fazia recair sobre ele o castigo das faltas de todos nós. Foi
maltratado e resignou-se; não abriu a boca, como um cordeiro que se conduz ao
matadouro, e uma ovelha muda nas mãos do tosquiador. Por um iníquo julgamento
foi arrebatado. Quem pensou em defender sua causa, quando foi suprimido da
terra dos vivos, morto pelo pecado de meu povo? Foi-lhe dada sepultura ao lado
de facínoras e ao morrer achava-se entre malfeitores, se bem que não haja
cometido injustiça alguma, e em sua boca nunca tenha havido mentira. Mas
aprouve ao Senhor esmagá-lo pelo sofrimento; se ele oferecer sua vida em
sacrifício expiatório, terá uma posteridade duradoura, prolongará seus dias, e
a vontade do Senhor será por ele realizada. Após suportar em sua pessoa os
tormentos, alegrar-se-á de conhecê-lo até o enlevo. O Justo, meu Servo,
justificará muitos homens, e tomará sobre si suas iniquidades. Eis por que lhe
darei parte com os grandes, e ele dividirá a presa com os poderosos: porque ele
próprio deu sua vida, e deixou-se colocar entre os criminosos, tomando sobre si
os pecados de muitos homens, e intercedendo pelos culpados” (Is 53,3-12).
Maria compreende
a dor da alma
Não há dor semelhante a essa
de Nossa Senhora, desde quando se encontrou com Seu divino Filho no caminho do
Calvário, carregando a pesada Cruz e insultado como se fosse um criminoso. A
aceitação da vontade do Altíssimo sempre foi a Sua força em horas tão cruéis
como essa.
Ao encontrar Sua Mãe, os olhos
de Jesus a fitaram, e ela certamente compreendeu a dor de Sua alma. Não pôde
lhe dizer palavra nenhuma, mas a fez compreender que era necessário que unisse
a sua dor à d’Ele. A união da grande dor de Jesus e de Maria, nesse encontro,
tem sido a força de tantos mártires e de tantas mães aflitas.
Esse fato ficou tão marcado na
vida do povo católico, que tanto ama sua Mãe e seu Filho, que não deixa de
celebrar a procissão do encontro na Semana Santa. Mãe e Filho se encontram nas
ruas das cidades ou em alguma praça onde o povo pode reviver esse santo
encontro.
Nós, que temos medo do
sacrifício, devemos aprender, nesse encontro, a submeter-nos à vontade de Deus,
como Jesus e Maria se submeteram. Aprendamos a calar nos nossos sofrimentos, e
os olhares de Jesus e de Maria consolarão a nossa pobre alma sofredora.
Maria viveu os tormentos da
Paixão de seu amadíssimo Filho. Encontra-O no caminho do Calvário, flagelado,
coroado de espinhos, esbofeteado, destruído. Que mãe poderia aguentar tamanha
dor? Seu Filho Santo, Deus, carregando nas costas a Cruz de Seu suplício!
O que vivemos
na procissão do encontro
As nossas almas vão sentir a
eficácia dessa riqueza na hora em que, abatidos pela dor, formos até nossa Mãe,
fazendo a meditação desse encontro dolorosíssimo. Esse silêncio se converterá
em força para as almas aflitas, quando, nas horas difíceis, souberem recorrer à
meditação desta Mãe que sofre.
É precioso o silêncio nas
horas de sofrimentos; muitos não sabem sofrer uma dor física, uma tortura da
alma, em silêncio; desejam logo contá-la para que todos o lastimem! Nossa
Senhora e Jesus nos ensinam a vencer a aflição suportando tudo, em silêncio,
por amor a Deus.
Certamente a dor nos humilha,
mas é nessa santa humilhação que Deus nos edifica, corrige, cura e santifica.
São Francisco de Sales dizia que ninguém se torna humilde e santo se não passar
pela cadinho da humilhação. Jesus e Maria nos ensinam a aprender a sofrer em
silêncio, como Eles sofreram no doloroso encontro no caminho do Calvário.