"O Filho do Homem é senhor também do sábado"
Marcos 2,23-28 trata da Lei do sábado. Os fariseus chamaram a atenção de Jesus sobre o comportamento dos seus discípulos, colhendo espigas de trigo no dia de sábado, ação não permitida pela Lei. Jesus respondeu, citando um episódio ocorrido com o rei Davi e seus companheiros, que diante da fome, comeram os pães oferecidos a Deus, só permitido aos sacerdotes (1 Sm 21,2-7). Logo após, na sinagoga, Jesus também realizou uma ação em dia de sábado, curando um homem de mão seca (Mc 3,1-6). O milagre realizado por Jesus em dia de sábado provocou reações nos fariseus e partidários de Herodes.
O sábado
era uma instituição fundamental para o povo judeu. Shabat – sábado é o
sétimo dia da semana no calendário israelita e judaico, dia dedicado ao
Senhor, instituído e santificado por ele, de repouso e descanso (Dt
5,12-14). Após concluir sua obra da criação, Deus repousou no sétimo dia
(Gn 2,2-3). Guardar o sábado era sinal de respeito, filiação e
lembrança que tudo é dom de Deus. Ao guardar o sábado, os judeus
recordavam também a libertação do Egito (Dt 5,15), como um sinal de
liberdade e afirmação da dignidade humana. O sábado era um dia sagrado,
de santidade, de encontro, celebração, gratuidade, repouso; momento de
preservação da tradição e da identidade religiosa e cultural do povo
israelita.
Jesus não foi contra o
sábado, e não rejeitou a Lei: ele não veio abolir a Lei e os Profetas
(Mt 5,17). Por que as suas atitudes com relação ao sábado?
No
tempo de Jesus, os fariseus e escribas – peritos no estudo, ensino e
aplicação da lei judaica -, controlavam ideologicamente a sua
interpretação. Defendiam um sistema ancorado na lei e na centralização
do Templo de Jerusalém. O sábado perdeu o seu caráter de descanso,
gratuidade, liberdade, alegria e encontro com o Senhor. Tornou-se uma
prescrição pesada e formalista. As pessoas estavam sujeitas à lei. Foi
feito do sábado uma lei morta.
A
intenção de Jesus foi a de recuperar o verdadeiro sentido da lei: “O
sábado foi feito para o homem, e não o homem para o sábado” (Mc 2,27). O
sábado deveria estar a serviço das pessoas. Para ele, o bem-estar e a
vida estão acima da lei, esta é a vontade de Deus.
As
necessidades básicas são o critério para se interpretar e discernir a
vontade de Deus. O bem e a prática da misericórdia estão acima da lei. O
amor é a base do relacionamento humano e o fundamento da religião. A
vontade originária de Deus é o bem das pessoas.
“O
Filho do Homem é senhor também do sábado” (Mc 2,28). Ele está acima de
qualquer instituição, pois é Senhor e Deus, e tem a autoridade sobre a
lei e sobre a vida.
Os cristãos
celebram o domingo como o dia do Senhor. “É o dia litúrgico por
excelência, no qual os fiéis se reúnem para lembrar a paixão, a
ressurreição e a glória do Senhor Jesus e dar graças a Deus, escutando a
Palavra de Deus e participando da Eucaristia” (Diretório para os
Bispos, 148), dia em que vivemos todo o Mistério de Cristo e da Igreja. O
preceito dominical é fonte de liberdade autêntica, ajuda a viver cada
um dos outros dias segundo o que se celebra do dia do Senhor. Perder o
sentido do domingo, como dia do Senhor que deve ser santificado, é
sintoma duma perda do sentido autêntico da liberdade cristã. Do domingo
brota o sentido cristão da existência e uma nova maneira de viver o
tempo, as relações, o trabalho, a vida e a morte.
2
Cor 4,6-11. Paulo utiliza a imagem do “vaso de barro” para falar da
fragilidade humana. A nossa força vem de Deus e da cruz, pois é a força
do amor. Carregar a cruz é depender de Deus, é renunciar toda força
humana para seguir a Jesus. Quem o segue, não perde a esperança, não
desanima, não se deixa aniquilar. Quando o vaso se quebra, revela o seu
conteúdo: a vida de isto.