Estamos encerrando o Ano Litúrgico, que nos ajuda a refletir sobre “fim dos tempos” ou a consumação da história. Como a Igreja entende isso?
Celebramos a presença de Jesus Cristo em duas dimensões diferentes. Ele veio a primeira vez na sua encarnação, revelando o amor de Deus pela humanidade, fazendo-nos participantes da natureza divina, oferecendo a sua salvação e nos indicando um caminho de santidade. A mensagem central do Senhor foi o anúncio gratuito do Reino de Deus, que se torna próximo e pleno com a sua presença e missão, mas que se consumará na eternidade.
Com a sua ressurreição e ascensão, Jesus foi sentar-se à direita de Deus Pai. Ele derramou o Espírito Santo sobre os apóstolos e a Igreja para continuar a sua missão. Pela unção do Espírito, celebramos a presença do Senhor nos sacramentos, na Palavra, na vida de oração, na piedade popular, no louvor e testemunho de caridade fraterna. Os cristãos comprometem-se com a vida, com as realidades terrestres, em marcha para a verdadeira Pátria.
O Senhor glorioso virá no fim dos tempos para julgar os vivos e os mortos e inaugurar “novos céus e uma nova terra, nos quais habitará a justiça” (2 Pd 3,13). E então, “revelará a disposição secreta dos corações e retribuirá a cada um segundo suas obras e segundo tiver acolhido ou rejeitado sua graça” (CIgC, 682). “Todas as vezes que comemos deste pão e bebemos deste cálice, anunciamos, Senhor, a vossa morte, enquanto esperamos a vossa vinda!”, rezamos na liturgia.
As manifestações do Senhor, na sua encarnação e na sua glória, não são motivos de apreensões e medo. Quando Deus se revela, sua bondade, misericórdia e justiça, vão além das ameaças. Quem se manifesta não é um estranho, mas Alguém que conhece a existência humana e se solidariza com ela.
O fim do Ano Litúrgico nos ajuda a refletir sobre alguns textos apocalípticos. Apocalipse é uma palavra que vem da língua grega e quer dizer revelação. Revelar é tirar o véu. Quando algo está encoberto, não enxergamos direito, por isso, é difícil o discernimento e a compreensão. É preciso revelar, tirar o véu e clarear, para que tudo seja compreendido.
Nas Sagradas Escrituras há muitos textos apocalípticos. É uma literatura comum no mundo bíblico. É um modo de transmitir uma mensagem. Normalmente, essa linguagem surge em épocas de crises, dúvidas e perseguições. A difícil realidade aliena e cega as pessoas, que não conseguem mais discernir, ficam sem saídas e esperança. Como perceber a presença de Deus? Utilizando sinais, imagens fortes, abalos cósmicos, o texto apocalíptico procura iluminar os fatos com a luz da fé. Não é uma mensagem que remete ao futuro, mas transmite conforto, ânimo, esperança, chama a atenção e desperta a fé e a ação para o presente. Deus é o Senhor da história, que age salvando o seu povo fiel, conduzindo-o para a vida.
Lucas 21,5-19 descreve a destruição do Templo de Jerusalém e o fim dos tempos. Orienta a comunidade sobre seu comportamento. Pede atenção aos falsos profetas, serenidade e firmeza diante das catástrofes e perseguições: “É permanecendo firmes que ireis ganhar a vida” (Lc 21,19), nos orienta Jesus. Ele é o Senhor que liberta, pois revela a verdade sobre Deus e sobre a humanidade. No meio de tantos acontecimentos só há uma fonte de salvação: a fé na vitória do Senhor. Permanecendo firme na fé, na vigilância, prontidão, vivendo intensamente e na santidade o momento presente, praticando o amor e a fraternidade, a comunidade cristã tem sua segurança.
O profeta Malaquias proclama o Dia do Senhor, que será “abrasador como a fornalha” (Ml 3,19), quando o mal será queimado como palha. O justo receberá a salvação: “Para vós, que temeis o meu nome, nascerá o sol da justiça, trazendo a salvação em suas asas” (Ml 3,20ª).
Quem é cristão vive uma esperança ativa: “Trabalhando, comam na tranquilidade o seu próprio, pão” (2 Ts 3,12).
Dom Paulo Roberto Beloto,
Bispo Diocesano.