Mensagem Pe Fabio
Nascituro
Foi chorando que nasci.
Nem meus olhos se abriram,
e todos já se riam de mim.
Batiam-me, apertavam-me
para que chorasse ainda mais.
Aos berros, descobri o frio.
Cortaram o que me ligava à minha querida casinha.
Flutuei nas mãos que me penduraram de cabeça para baixo.
No frio e no desespero,
ainda vermelho e ensanguentado
limpavam o meu corpo.
Não se preocupavam com meu choro.
Enfim, depois de muita mexida,
deixaram-me brilhante de unguentos.
Sem perguntar-me o que queria,
encheram-me a boca
de uma suculenta teta.
Dela destilava um líquido que, num primeiro momento,
eu chamei de amor,
pois não conhecia outro nome.
Suguei com força e sofreguidão,
foi preciso ir devagar,
ainda não havia aprendido como fazer.
No meu rosto ainda meio amarrotado da viagem,
uma gota quente,
dos olhos grandes e negros que olhavam
para mim,
caiu e escorreu em minha face.
Somente assim pude abrir os meus
e contemplar o rosto daquela
que eu havia conhecido, já há algum tempo,
na sua intimidade, pois até então
eu passeava no seu interior.
Recebia dela o que me sustentava.
Vivia feliz, em segurança e tranquilo,
no aconchego de uma espécie de ninho.
Onde nunca faltou o calor.
Onde me sentia sempre acolhido.
Descobri ali o que era amar e ser amado.
Mas eu ainda não sabia que se chamava Mãe,
Foi ela que naquele momento revelou o seu nome.
Foi então que senti nova sensação,
os meus ouvidos se abriram.
Percebi o murmúrio de tantas coisas e muitas vozes,
tudo novo para mim.
Foi então que ouvi o que me diziam
Que coisinha linda!
Que fofura!
Sem entender o que acontecia,
voltei o meu olhar para aquela que me aconchegava no seu peito,
E pude então esboçar o meu primeiro sorriso.
Foi assim que vim ao mundo
desta forma aqui cheguei.
Pe Fabio



