2º Domingo da Quaresma - Dom Paulo Roberto
"É vossa face, Senhor, que eu procuro!"
Jesus fazia constantes pausas para
retomar as energias: ficou aproximadamente 30 anos em Nazaré, no
anonimato; após o batismo, foi impelido pelo Espírito ao deserto, e ali
permaneceu durante quarenta dias, sendo tentado por Satanás (Mt 4,1-2;
Mc 1,12-13; Lc 4,1-2); segundo Lucas, foi à montanha para orar, e passou
a noite em oração a Deus, antes de chamar os discípulos (Lc 6,12.13);
antes da profissão de fé de Pedro, orou à parte (Lc 9,18); e antes de
ensinar a sua oração aos discípulos, orou a sós em certo lugar (Lc
11,1); rezou no Getsêmani, antes da morte (Mt 26,36-46; Mc 14,32-42; Lc
22,39-46).
No
2º Domingo da Quaresma refletimos e rezamos um dos momentos de pausa
mais importante, significativo e revelador de Jesus e do seu ministério,
presenciado por Pedro, Tiago e João, que é a transfiguração, presente
nos três evangelhos sinóticos (Mt 17,1-9; Mc 9,2-10; Lc 9,28-36). A cena
em Marcos vem logo após o primeiro anúncio da paixão. Diante da
incompreensão do seu messianismo, aconteceu este fato, confirmando que
seu projeto é vitorioso, porque garantido pelo Pai. Ele é o Filho amado,
a quem devemos escutar. Nele, as promessas se cumprem: a Lei,
simbolizada em Moisés, e o profetismo, em Elias.
A
transfiguração antecipa a vitória de Jesus e confirma o seu caminho de
despojamento, esvaziamento, obediência e serviço. O caminho de cruz é o
do amor como única força capaz de vencer o sofrimento, a dor, as crises e
a morte.
“Este
é o meu Filho amado. Escutai o que ele diz!” (Mc 9,7). Numa realidade
com tantas vozes, sons e solicitações, que podem nos confundir e desviar
da estrada certa, a cena da transfiguração no convida a um apelo
maior: ouvir e discernir a voz do Pai. A nossa vocação é estar atentos à
Jesus. Escutar o que ele diz é acolher a sua pessoa como Filho de Deus,
como o Messias, nosso Senhor e Salvador. É aderir ao seu caminho,
seguir os seus passos e viver da sua vida.
Como
Pedro, podemos achar que o alto da montanha é o melhor lugar. Quem não
quer subir na vida? Mas Jesus nos quer na planície do dia a dia, da
nossa história, marcada por alegrias e realizações, mas também por
decepções, dores e sofrimentos. Ali a resposta é mais exigente, implica
dificuldades, renúncias e desafios, porém o que Ele pede não supera as
possibilidades do ser humano. E a subida mais importante se dá neste
aprendizado, que é a santidade. Sempre com Jesus, pois sem ele corremos o
risco de escorregar.
Abraão
recebeu de Deus a promessa de descendência, bênção e terra. Mas foi
colocado à prova, oferecendo a Ele o único filho, o bem do seu coração.
Sua obediência, fidelidade e abandono são fontes de bênçãos (Gn
22,1-2.9-13.15-18). Quem tem fé sabe que Deus é Deus, e que deve confiar
sempre, mesmo nas noites escuras da vida.
O
Pai, além de Abraão, “não poupou seu próprio Filho, mas o entregou por
todos nós”. Temos um grande intercessor que ofereceu a sua vida para nos
salvar. Se Ele é por nós, “quem será contra nós?” (Rm 8,31-34). Com
Jesus, podemos guardar a fé, mesmo dizendo: “É demais o sofrimento em
minha vida” (Sl 115, 10). Podemos descer da montanha e seguir o seu e o
nosso caminho, com confiança, coragem e fidelidade. Abraçar o propósito
do “Evangelho mesmo que nos acarrete problemas: isto é santidade”, nos
ensina o Papa Francisco (GE, 94). Seguindo Jesus assim, prosseguimos em
nossa Quaresma, rumo à Páscoa do Senhor e nossa páscoa.
Dom Paulo Roberto Beloto,
Bispo Diocesano.



