Solenidade de Pentecostes
"Por entre aclamações Deus se elevou" (Sl 46,6)
A festa solene de Pentecostes conclui o
tempo da Páscoa, quando a Igreja acolhe e celebra o cumprimento das
promessas de Jesus: a vinda do dom do Espírito Santo, fato narrado por
Lucas nos Atos dos Apóstolos (At 2,1-11) e por João, no seu Evangelho
(Jo 20,19-23). Há outras narrativas de experiências e manifestações do
Espírito Santo no Novo Testamento. As duas lidas na liturgia são mais
solenes.
Enquanto em Atos, o
Pentecostes é mais movimentado: “veio do céu um barulho como se fosse
uma forte ventania” (At 2,2), em João, Jesus soprou sobre os discípulos e
falou: “Recebei o Espírito Santo” (Jo 20,22). Há um sopro sereno e
doce, uma brisa leve e uma palavra de consolação.
O
Espírito é a tradução de Ruah-Pneuma, no Antigo e Novo Testamentos, que
significa vento ou sopro. Esta imagem serve para exprimir poder,
liberdade e transcendência. Significa também respiração. A imagem do
sopro lembra a bondade, a delicadeza e a quietude do Espírito Divino. A
respiração é aquilo que há de mais íntimo e vital no ser humano.
Recitamos
assim uma conhecida invocação ao Espírito Santo: Vinde, Espírito Santo,
enchei os corações dos vossos fiéis e acendei neles o fogo do vosso
amor. Enviai o vosso Espírito e tudo será criado, e renovareis a face da
terra. Ó Deus, que instruístes os corações dos vossos fiéis com as
luzes do Espírito Santo, fazei que apreciemos retamente todas as coisas
segundo o mesmo Espírito, e gozemos sempre de sua consolação. Por
Cristo, Senhor nosso. Amém.
Vinde,
Espírito Santo... Enviai o vosso Espírito. Se já recebemos o Espírito
Santo no Batismo e ele é confirmado na Crisma e nos demais sacramentos,
porque fazer esse pedido? O Espírito está presente, é o Paráclito (Jo
14,16.26;15,26; 16,7), o nosso Intercessor, Ajudador, Consolador e
Defensor, aquele que que age em nosso favor, auxilia, protege e
sustenta, mas ele conta com a nossa colaboração, com o nosso desejo, a
nossa docilidade, humildade, obediência, pobreza e oração. O Espírito
não se vê, não se detém, não se mostra. Mas podemos experimentar a sua
ação: quando alguém fala de Deus de tal maneira que os outros abraçam a
fé; quando alguém dá a sua vida pelo Evangelho; quando respira paz,
alegria, esperança; quando as pessoas se perdoam e se reconciliam;
quando há harmonia nas famílias; quando se faz o bem; quando há
solidariedade, respeito pela vida, pela natureza e pelos bens da
criação.
Enchei os corações dos
vossos fiéis. O Espírito realiza funções na vida da Igreja e na vida dos
fiéis. Concede dons para o serviço - adorna a Igreja com os carismas,
dons concedidos em vista do bem comum (1Cor 12,7) -; e para a
santificação – ajuda os fiéis a viverem as virtudes fundamentais no
caminho da santidade, como a fé, a esperança, e a caridade. O Espírito
oferece graças para a missão e para a santidade pessoal. Também é o
Espírito que gera harmonia, comunhão e unidade na Igreja: “Como é que os
escutamos na nossa própria língua?” (At 2,8); “Há diversidade de dons,
mas um mesmo é o Espírito” (1Cor 12,4). A ação do Espírito em nós nos
leva a viver os frutos (Gl 5,22-23): amor, alegria, paz, paciência,
amabilidade, bondade, lealdade, mansidão, domínio de si. Fazer a
experiência do Espírito é entregar as rédeas da própria vida ou as
chaves da própria casa a Deus.
Acendei
neles o fogo do vosso amor. O fogo é uma imagem bíblica, que indica a
presença de Deus, que purifica, perdoa, transforma, destrói o pecado e
nos faz arder de temor, zelo e amor. Deus é amor (1Jo 4,16). O Espírito é
o amor de Deus derramado em nossos corações (Rm 5,5). Ele possibilita
em nós a experiência do amor de Deus. “O fruto do Espírito é amor” (Gl
5,22). O amor de Deus é a experiência mais importante que o ser humano
pode fazer, que dá sentido e orientação a sua vida. O Espírito nos ajuda
a amar e caminhar rumo à santificação.
Tudo
será criado, e renovareis a face da terra. O Espírito Santo é Criador,
tem a força de vida e é tendência para a vida. Na sua ação criadora, o
Espírito faz passar o mundo criado, do caos, aos cosmos, renova a face
da terra, torna o mundo novo, belo, ordenado e limpo. O Espírito ilumina
as nossas trevas, gera harmonia interior e faz de cada ser humano uma
nova criatura. Faz do nosso ser uma coisa bela, pura e santa. Só o
Espírito pode transformar e curar o nosso interior, a nossa vida e a
realidade que nos cerca.
Instruístes
os corações dos vossos fiéis... Fazei que apreciemos retamente todas as
coisas. A teologia joanina apresenta o Espírito como o mestre que
ensina, dá testemunho de Jesus, conduz e nos ajuda a discernir e
apreciar retamente as coisas e chegar à verdade, pois ele é a verdade
(Jo 14,17.26).
Gozemos sempre de
sua consolação. O Espírito Santo é alegria e a consolação verdadeira e
perfeita. Quando o Pai nos ama e o Filho nos redime, estamos recebendo o
gozo do Espírito.
Dom Paulo Roberto Beloto,
Bispo Diocesano.