Corpus Christi
Corpus Christi - Reflexão
Dois pontos fundamentais
concorrem para a nossa reflexão neste acontecimento festivo: primeiramente o
próprio Corpo de Cristo apresentado e doado e depois o peregrinar do povo em
procissão.
O centro de tudo é o Mistério
Eucarístico – o Cristo Pão da Vida - que
acompanha e alimenta fortalecendo o povo de Deus que peregrina na história em
busca do amanhã eterno.
Este alimento já é eterno. O
peregrinar ainda é temporal. O alimento é divino. O peregrinar ainda é do homem
que se põe na estrada da vida “...esquecendo-se do que fica para trás e
avançando para o que está diante, prosseguindo para o alvo, para o prêmio da
vocação do alto, que vem de Deus em Cristo Jesus” (cfr.Fil.3,13-14).
É nesta perspectiva que quero
pensar com você, caro leitor, esta Festa Litúrgica.
Poderíamos, muito bem, buscar uma
reflexão levando em conta os aspectos
que deram origem a esta celebração, tais como a questão da afirmação da
presença real de Cristo na Eucaristia ou outros aspectos que ao longo da
história a piedade popular se encarregou de ir acrescentando a esta festa, como
os enfeites das ruas e praças etc...
Hoje vamos nos ater a estes dois
aspectos encabeçados neste artigo.
Antes de mais nada, “Corpus
Christi” nos faz olhar para o mistério do Senhor Deus que se reduz a um pedaço
de pão consagrado, o Cristo sacramentado.
Neste mistério contemplamos:
o Cristo, doação e entrega -
“Tomai, isto é o meu Corpo...isto é o meu sangue, o sangue da Aliança, que é
derramado em favor de muitos” ( Mc.14,22-24);
o Cristo, sustento e alimento na
caminhada, que confirma a sua presença e revigora o discípulo na missão – “Quem
come a minha carne e bebe o meu sangue tem a vida eterna...Pois a minha carne é
verdadeiramente comida e o meu sangue verdadeiramente bebida...Quem come a
minha carne e bebe o meu sangue permanece em mim e eu nele.” ( Jo.6,54-56);
o Cristo, peregrino e
companheiro, que ao longo da estrada partilha o pão na mesa dos discípulos de
Emaús – “Permanece conosco, pois cai a tarde e o dia já declina. Entrou para
ficar com eles. E, uma vez à mesa, tomou o pão, abençoou-o, depois partiu-o e
deu-o a eles...Naquela mesma hora, levantaram-se e voltaram para Jerusalém...”
( Lc.24,29-33).
Hoje, neste “Corpus Christi”,
este Senhor se apresenta nesta pequena partícula de pão e vem interferir na
vida de todos nós.
Interfere na vida da cidade,
grande ou pequena, mesmo secularizada e paganizada, mudando o roteiro do seu
trânsito, substituindo o burburinho das suas multidões que se comprimem e
correm em busca de tanta coisa no seu dia a dia por um povo de Deus, caminheiro
e peregrino, ocupando o seu espaço, possuindo as suas ruas transformando-as em
objeto de contemplação. E a multidão da “grande cidade” diante deste mistério
não sabe bem como reagir se com um misto de admiração e folclore, se com
estranheza ou ceticismo.
A multidão dos adoradores do
Cristo vivo, porém, e que se alimenta dele, passa em procissão marcando o sinal
de uma Igreja viva que está a caminho, que é peregrina, consciente de sua
missão de apresentar e levar Jesus Cristo Salvador ao mundo, de testemunhá-lo
como Senhor da vida e da história, de acompanhá-lo na caminhada, de ser
alimentada e fortalecida por este “Pão que dá a vida ao mundo”
Mesmo que para o mundo a
procissão passe, os enfeites sejam pisoteados e o folclore termine, para nós
cristãos fica a certeza e a garantia de que a peregrinação continua e o Corpo
de Cristo permanece na Eucaristia sendo o grande sinal da doação plena, da
entrega radical, e do sustento eterno concedido gratuitamente a nós como
banquete que gera vida e fraternidade.