17º Domingo do Tempo Comum
"Todos os olhos, ó Senhor, em vós esperam" (Sl 144,15)
Interrompemos
a leitura do Evangelho de Marcos durante alguns domingos, para ler e
meditar o capítulo 6 de João. São cenas que narram a multiplicação dos
pães e o discurso eucarístico de Jesus, na sinagoga de Cafarnaum. É o
quarto sinal neste Evangelho, que tem como objetivo suscitar a fé. A
Eucaristia é o tema central nos domingos que seguem.
O que João quer nos transmitir quando inseriu no seu Evangelho este sinal?
A
multiplicação dos pães aconteceu próximo da Páscoa. Jesus atravessou o
mar da Galileia, também chamado de Tiberíades, subiu à montanha e
sentou-se com os seus discípulos. Uma grande multidão o seguia por causa
dos sinais. Ele se preocupou com a alimentação daquelas pessoas e
distribuiu o pão (Jo 6,1-15).
As
indicações nas cenas lembram passagens do Antigo Testamento, quando o
povo estava no Egito e fez a experiência de libertação, sob a liderança
de Moisés. Jesus é aquele que inaugura o novo êxodo, a nova lei e
realiza a nova libertação, oferecendo o pão da vida. A travessia do mar
da Galileia recorda a passagem do Mar Vermelho; a subida à montanha
lembra Moisés no Sinai e o pão distribuído faz recordar o maná no
deserto.
Jesus é o novo Moisés
que conduz o povo à vida e à liberdade, para a verdadeira Páscoa e
aliança definitiva. O seu gesto está relacionado com a Eucaristia. É um
sinal indicativo para a comunidade que deseja celebrar sua fé no
Messias.
Nos domingos que seguem
teremos uma catequese sobre a Eucaristia. Iniciando, a cena da
multiplicação dos pães nos indica uma íntima relação entre Eucaristia e
vida. A Missa não pode se separar da vida. João uniu Eucaristia (graça) à
multiplicação dos pães (natureza), vendo o mistério eucarístico a
partir deste sinal. Há uma continuidade e uma harmonia entre a graça e a
natureza.
Quando a Igreja
explica a Eucaristia com a palavra transubstanciação, que é a presença
real de Cristo em corpo, sangue, alma e divindade nas espécies
consagradas, não nega os sinais do pão e do vinho, antes, da fecundidade
da terra e do trabalho dos seres humanos, após a consagração, do
sacrifício de Jesus.
A Missa nos
remete à vida e à missão. Quando participamos deste sacramento, quando
comungamos, recebemos os frutos da comunhão: aumento da nossa união com
Cristo, aumento e renovação da vida da graça recebida no Batismo;
remissão dos pecados; restauração das nossas forças; fortalecimento da
caridade; preservação dos pecados mortais; união à Igreja e aos irmãos;
compromisso com os pobres (CIgC 1391- 1397).
Efésios
4,1-6 trata da vida eclesial. Paulo exorta os fiéis à unidade. Ela é
essencial na vida cristã. Cristo é o autor da Igreja. Nela celebramos a
fé no Senhor e nos encontramos como irmãos. A nossa vocação é a unidade,
é viver como pessoas novas.
O
texto fala dos fundamentos que caracterizam a unidade da Igreja: um só
corpo e um só Espírito. O corpo está unido à cabeça. O corpo é a Igreja e
a cabeça é Cristo. Os cristãos devem estar ligados a este corpo e se
identificar com ele. A unidade vem de Cristo e do Espírito.
Uma só esperança. É a esperança que os cristãos celebram e percebem na Igreja.
Um
só Senhor, uma só fé e um só batismo. Os primeiros cristãos aclamavam
Jesus como Kýrios, Senhor. É aquele que congrega e reconcilia, que
salva, santifica e une em si todas as coisas. Ele dá significado e
existência ao mundo e a nossa vida pessoal.
Encontramos
em Jesus, o Senhor, o verdadeiro sentido da vida, a realização, o
valor, a reconciliação, a integração. Nele colocamos nossa esperança.
Jesus como Senhor está acima de todas as coisas, como fundamento da vida
e da comunidade. É o centro da história.
A fé faz a Igreja e o batismo está na sua origem. O fundamento último da unidade é Deus Pai. Ele é sua origem e fonte.
Juntamente
com a exortação à unidade e os seus fundamentos, Paulo apresenta
algumas virtudes necessárias para a sua concretização: humildade,
mansidão, paciência e amor. Elas ajudam a viver a unidade, base da
convivência humana.
A humildade
brota do coração. É uma disposição interior, uma atitude daqueles que
deixam de lado a auto-suficiência e a falsa segurança pessoal e buscam a
segurança só em Deus. Sem Ele, sem o seu amparo, sem a sua proteção,
nada somos. A humildade é o remédio para curar as nossas feridas, é uma
das vias da penitência. Ela nos leva a Deus e à sua verdade. É a virtude
dos simples, vivida por Jesus, por Maria, José, pelos santos e pelos
pobres.
A mansidão é a falta de
arrogância e insolência. É fruto do Espírito (Gl 5,23). “Reagir com
humilde mansidão: isto é santidade” (Papa Francisco, Exortação Gaudete
et Exsultate, nº 74).
A
paciência é a atitude daqueles que suportam as provações sem ceder. Sem a
paciência não há comunidade. Três campos onde devemos exercer a
paciência: conosco próprios, com as pessoas e com os acontecimentos. “Se
procuras um exemplo de paciência, encontras na cruz o mais excelente...
Se procuras um exemplo de humildade, contempla o crucificado” (Santo
Tomás de Aquino, in Liturgia das Horas, Vol. III, p. 1222-1223). Só
devemos exercer a impaciência quando protelamos demais em certas
urgências: quando esperamos demais para perdoar, para ser generosos,
para praticar a caridade e para viver a santidade.
Por
fim, o amor, centro de tudo, coroa das demais virtudes. Sem amor não há
comunidade e pessoas novas e pertença a Cristo. O amor une as pessoas,
reconcilia, leva a vencer as diferenças. Leva os membros da comunidade a
identificar-se uns com os outros. É a nossa vocação fundamental.
Na comunidade celebramos a unidade, vivemos as virtudes, celebramos o amor, celebramos a fé, celebramos a Eucaristia.
Nossa gratidão e oração aos avós e pessoas idosas, que celebramos neste dia.