10º Domingo do Tempo Comum - Ano B
Reflexão da liturgia dominical.
Marcos 3,20-35 narra as reações
diante do messianismo de Jesus. Para os parentes, ele “estava fora de si” (v.
21), para os mestres da Lei, “estava possuído por Belzebu, e que pelo príncipe
dos demônios ele expulsava os demônios” (v. 22). Ele reagiu, contanto a
parábola do reino dividido. A acusação feita é um pecado sem perdão, pois é
“blasfemar contra o Espírito” (v.29). Pecar contra o Espírito é desvirtuar a
verdade que está em Jesus, é não aceitar o seu messianismo e desviar-se do
caminho do bem.
Quando alertam sobre a presença da
sua família, Jesus diz: “Quem faz a vontade de Deus, esse é meu irmão, minha
irmã e minha mãe” (v. 35). O critério e o discernimento de pertença a sua
família é fazer a vontade de Deus.
Gênesis 3,1-15 é uma das passagens
mais significativas da Bíblia quando trata do pecado. A serpente representa a
força do mal. No seu diálogo com a mulher, pretendia que Deus tivesse proibido
comer de qualquer árvore (v. 1). A mulher também apresentava as coisas como se
Deus tivesse proibido até de tocar na árvore (v.3). Na verdade, Ele deu uma
ordem ao homem e a mulher: eles poderiam comer de todas as árvores do jardim,
menos da árvore do conhecimento do bem e do mal (Gn 2,16-17).
A serpente desperta o desejo e a
curiosidade da mulher de comer o fruto. Depois, desaparece. A mulher apresenta
o fruto ao homem que também o come. Homem e mulher são solidários no pecado. A
tentação de ambos é ser como Deus, é revoltar-se contra a condição de
dependência. Por isso, a raiz do pecado está na opção errada que o ser humano
faz diante de Deus.
O texto da liturgia (Gn 3,9-15)
detêm-se no diálogo de Deus com o homem e a mulher e o castigo à serpente.
Depois da queda, o Senhor Deus procurou o homem, que tomando consciência da transgressão
e culpa, tem medo e foge. A imagem da nudez lembra a inocência da criança, que
não tem vergonha. Um adulto tem vergonha de agir assim. O homem não tem coragem
de olhar para Deus, Ele é visto como um juiz, um estranho. Reconhece a sua
culpa em parte, joga a maior responsabilidade na mulher e até no próprio
Criador, por ter-lhe dado uma companheira. A mulher joga a culpa na serpente.
Esta não tem defesa, pois é a mentira, o mal que deve ser esmagado. A inimizade
entre o ser humano e a serpente é a inimizade entre a força do bem e a força do
mal.
Segundo a narrativa de Gênesis, o
pecado é a não aceitação da proposta de Deus, é errar o alvo e não corresponder
às suas intenções. É dizer não ao seu amor. É uma orientação da vida sem Deus.
Este pecado não tem perdão, segundo Jesus, é blasfêmia contra o Espírito.
Quem rompe com o círculo do pecado é
Jesus Cristo, o Cordeiro de Deus, o único capaz de nos redimir e nos ajudar a
dirigir a nossa história na santidade. Somos justificados pelo seu sangue e dele
recebemos a reconciliação (Rm 5,8-11; Ef 1,7; 1 Pd 1,18). Ele confiou à Igreja
a obra da reconciliação.
Os membros da família de Jesus são
cumulados de bênçãos, e mesmo diante das fragilidades humanas, seguem firmes,
pois o “volume insignificante de uma tribulação momentânea acarreta para nós
uma glória eterna e incomensurável” (2Cor 4,17). Quem está com Jesus, volta o
seu olhar para as coisas invisíveis, para o que é eterno (1 Cor 4,18), está com
o “homem mais forte”, que venceu Satanás e nos introduziu no reino da luz. Nele
está a nossa esperança, “toda graça e copiosa redenção” (Sl 129,7).
Dom Paulo Roberto Beloto, Bispo Diocesano.