26º Domingo do Tempo Comum

Reflexão da Liturgia Dominical

Marcos 9,38-43.45.47-48 trata de alguns temas. Um deles é a discriminação de pessoas que não fazem parte do mesmo grupo. É um tema ligado à primeira leitura (Nm 11,25-29).

Moisés era o profeta por excelência para o povo. Deus se servia de sua liderança para transmitir a sua vontade. A partir da queixa deste, 70 anciãos do povo receberam um pouco do “espírito” de Moisés para profetizar. Outros começaram a falar em nome do Senhor, mesmo não participando oficialmente do grupo. Josué protesta: pede que Moisés faça calar esses profetas. Quer exclusividade para os de dentro. Mas Moisés não desautoriza tal prática, antes, acolhe-a e reconhece o profetismo fora da instituição.

O Evangelho narra um fato análogo. João se dirige a Jesus para denunciar alguém que agia em “nome do Senhor”, e comunicar com certo orgulho a proibição feita a este pelos discípulos. Eles queriam um monopólio do nome de Jesus e do anúncio do Reino. O Senhor respondeu a João: “Não o proibais, pois ninguém faz milagres em meu nome para depois falar mal de mim. Quem não é contra nós é a nossa favor” (Mc 9,39-40).

Moisés e Jesus deram uma lição de tolerância e liberdade. Para ser profeta e discípulo não é necessário pertencer a um grupo fechado. Jesus é a medida transcendente que supera a discriminação e a divisão.

A ação é dom do Espírito. Ele sopra onde quer e não está preso a nenhum grupo humano. Fazer o bem é tarefa de todos.

Outro tema do Evangelho é o escândalo contra os pequeninos (Mc 9,42-43.45.47-48). Escandalizar é fazer tropeçar, colocar obstáculo, prejudicar a vida do outro; é desviá-lo do caminho, levá-lo ao pecado e a perda da fé. Na passagem, “escandalizar os pequeninos” é o mesmo que prejudicá-los, desviá-los do caminho, ser-lhes ocasião de pecado.

Jesus utiliza três partes importantes do corpo que simbolizam a totalidade da ação humana. Podemos realizar ações que geram a vida ou que nos levam para a geena (inferno). A mãos lembram o agir, estão ligadas ao serviço que prestamos aos outros: se o nosso agir está prejudicando alguém, deve ser “cortado”. O pés lembram o caminhar: se o nosso caminhar contradiz as orientações de Jesus, deve ser “cortado”. Os olhos lembram a visão: o verdadeiro discípulo deve ter uma nova visão, uma nova consciência das coisas, deve olhar a vida como Jesus. Quem é discípulo de Jesus age com amor, caminha com esperança e olha com fé.

As instruções do Mestre são atuais. A sociedade de hoje “escandaliza” e muito. Desvia-se do caminho, opõe-se à fé; gera desordens, corrupção e desrespeito à vida. Jesus quer uma ação que integra e a vida, a liberdade e leva ao Reino. É preciso coerência, firmeza, perseverança, caso contrário, estaremos “escandalizando”.

São Tiago (Tg 5,1-6) faz uma severa condenação aos ricos que cometem injustiças; denuncia a sua ganância, a iniquidade e a insensatez. Deus faz justiça: não é a riqueza que salva.

Celebrando o dia da Bíblia, peçamos ao Senhor que a sua Palavra ilumine e transforme a nossa vida, fortaleça a nossa fé e alimente a nossa alma.

Dom Paulo Roberto Beloto, Bispo Diocesano.