Memória e Trajetória: os Agostinianos Recoletos e a Diocese de Franca – Parte 1
O dia 02 de fevereiro marca a chegada da Ordem dos Agostinianos Recoletos à Franca, em 1918. A pedido da Portal Diocesano Frei Afonso de Carvalho Garcia (OAR) compartilha um pouco desta história.
Antecedentes
históricos e chegada ao Brasil
Santo
Agostinho, bispo e doutor da Igreja, viveu nos séculos IV e V, no norte da
África. Ali também fundou mosteiros, para os quais escreveu uma Regra, estabelecendo
um carisma e espiritualidade que se fazem presentes na história da Igreja
nestes dezessete séculos que nos separam ou nos unem a ele, como caminho de
santidade e serviço à Igreja para homens e mulheres que se sentem chamados a
seguir Cristo ao estilo de Agostinho.
Dentre
as inúmeras ordens, congregações e institutos que vivem a espiritualidade
agostiniana encontra-se a Ordem dos Agostinianos Recoletos, que celebrou no dia
05 de dezembro de 2020, 433 anos de existência. Como tudo no Reino de Deus, a
Recoleção nasceu pequenina, qual semente de mostarda, apenas algumas casas
dentro da Ordem de Santo Agostinho, na Espanha, para frades que queriam levar
uma vida mais austera e recolhida (daí recoleção, recoletos), no espírito da
reforma católica do século XVI. Como a semente da parábola, pela graça de Deus,
este movimento foi crescendo passando de casas a uma província, depois
congregação e, finalmente, Ordem, tornando-se uma árvore frondosa, presente
hoje em vinte e dois países, em quatro continentes.
Digno
de nota é o imenso trabalho de evangelização da Congregação, além da Espanha,
nas Ilhas Filipinas, desde os seus albores. No entanto, em 1896 começa a
cobrir-se de nuvens negras o ambiente nas Ilhas Filipinas, onde se desencadeou
uma revolução com vista à independência da colônia, com grande perseguição
também à Igreja. O clímax da revolta aconteceu em 1898, quando a violenta
perseguição contra a Igreja deixou vinte e oito vítimas entre os religiosos
recoletos, e obrigou a quase totalidade dos sobreviventes a deixarem aquele
campo missionário agostiniano recoleto, mais de três vezes secular.
Tudo
fazia supor que a Congregação recebera um golpe fatal. No entanto, a morte
aparente gerou nova vida. E novos caminhos o Senhor abriu para os missionários
obrigados a abandonar as Filipinas. A Divina Providência levou para junto dos
superiores vários bispos de terras longínquas, os quais descortinaram para suas
atividades o imenso continente sul-americano.
Um
destes encontros se deu entre o procurador geral da Congregação em Roma, o Frei
Henrique Pérez e o bispo de Goiás, Dom Eduardo Duarte da Silva, que se
encontrava na Cidade Eterna e procurava uma solução para o problema da escassez
de clero na sua vasta diocese. O encontro propiciou a descoberta das preocupações
de ambos e deu início a conversações entre o prelado brasileiro e os superiores
da Congregação. O resultado dos entendimentos foi a resolução de atender às
necessidades do prelado e aos desejos dos religiosos.
No dia 28 de janeiro de 1899, partia de Barcelona o primeiro grupo de frades destinados às novas fundações no Brasil. Eram catorze frades, tendo como superior o Frei Mariano Bernard. Depois de tocar os portos de Funchal (Ilha da Madeira), Dakar (África) e Rio de Janeiro, no alvorecer do dia 19 de fevereiro o navio atracava no porto de Santos. De Santos a viagem prosseguiu para São Paulo, depois para Ribeirão Preto para chegar finalmente à então sede da diocese de Goiás: Uberaba. Começava assim a história dos agostinianos recoletos no Brasil, mais especificamente no Triângulo Mineiro.
Em
Ribeirão Preto e Franca
A
fundação em Ribeirão Preto obedeceu a um traço providencial de Deus. Quando o
segundo grupo de religiosos vindos da Espanha passou por esta cidade, aos 19 de
maio de 1899, na sua viagem para o Triângulo Mineiro, foram acolhidos pelo
pároco Pe. João Nepumoceno para um pernoite. Mas como ele se encontrava
enfermo, pediu ao superior que designasse um dos religiosos para substitui-lo
no trabalho até seu restabelecimento. Foi designado o Frei Santo Ramírez, que
assim iniciou sua ação na cidade e que duraria mais de trinta anos, aí
falecendo com fama de santidade.
Considerando
a importância da cidade e sua posição no caminho para o Triângulo Mineiro, o
Frei Mariano decidiu pela fundação de uma casa religiosa, o que aconteceu no
mês de setembro e, para isso, se alugou uma casa na Rua Barão do Amazonas. Com
esses primórdios tão humildes, teve início uma história que já alcança mais de
100 anos com páginas repletas de testemunhas de intenso trabalho, de vida
exuberante pela glória de Deus, pelo bem da Igreja e pelo renome da Ordem.
Em
1916, por várias razões, chegaram ao fim as atividades da Ordem no Triângulo
Mineiro, o que ofereceu a oportunidade e elementos para a fundação de mais
casas no Estado de São Paulo, mais precisamente na diocese de Ribeirão Preto,
recém erigida em 1908. Ainda em 1916 a Ordem assumiu a administração das
paróquias de Guaíra, Sant’Ana dos Olhos D’Água (hoje Ipuã) e Morro Agudo.
Dom
Alberto José Gonçalves, primeiro bispo de Ribeirão Preto, havia prometido
confiar à Ordem todas as paróquias do tronco da Estrada de Ferro Mogiana. Não
podendo cumprir sua promessa, ofereceu-lhes a paróquia de Nossa Senhora da
Conceição, de Franca. A 02 de fevereiro de 1918, chegavam a Franca os padres
Frei Gregório Gil, como superior e pároco, Frei Timoteo Miramón, Frei Xisto
López e o Irmão Esteban Garralda. A permanência dos religiosos se consolidou em
janeiro de 1919 através do convênio com a autoridade diocesana.
A
gripe espanhola de 1918 foi a prova de fogo, quando os religiosos provaram sua
entrega à causa do Evangelho, prestando socorros espirituais e materiais aos
vitimados pela epidemia. Entregaram-se a um intenso apostolado na cidade, onde,
além da matriz, atendiam o bairro da Estação, a Igreja de São Benedito, as
comunidades religiosas do Colégio Nossa Senhora de Lourdes e Colégio Champagnat
dos Irmãos Maristas e de um asilo. Estendiam seu zelo aos então distritos de
São José da Bela Vista, Restinga e Ribeirão Corrente.
Os treze anos de paroquiato de Frei Gregório Gil foram marcados pelo seu profundo zelo sacerdotal e pelos empreendimentos materiais. Os seus oito sucessores, em mais de 50 anos de história, seguiram-lhe as pegadas na atividade pastoral e na promoção do progresso material. Deixando a paróquia em abril de 1972, por motivo da criação da diocese de Franca, ficaram como testemunho desse ingente trabalho uma comunidade católica piedosa e formada pela evangelização, além de inúmeras obras materiais, entre as quais se destacam: a igreja matriz totalmente terminada no seu interior e no exterior, pois, ao chegarem os agostinianos recoletos estava apenas coberta sem qualquer acabamento; a casa paroquial, um Seminário, asilo e orfanato, um centro de ação social, o jornal “O Aviso de Franca”, três igrejas na cidade, capelas, etc.
Frei Santo Ramirez
Expansão
em Franca e região
Em
1923 os agostinianos recoletos assumiram a administração da paróquia Nossa
Senhora do Patrocínio, de Patrocínio Paulista, sendo o primeiro pároco Frei
Xisto López. O território paroquial abrangia também o atual município de
Itirapuã, cuja igreja dedicada a Nossa Senhora Aparecida foi elevada a Matriz
em 1968. A paróquia de Itirapuã foi entregue à diocese em 1981 e a de
Patrocínio Paulista, em 1992.
No
período de 1940 a 1948, a Ordem ampliou seu campo de ação na diocese de
Ribeirão Preto, incumbindo-se de várias paróquias. Citamos apenas aquelas que
passariam a pertencer à futura diocese de Franca.
A
paróquia de São José da Bela Vista, anexa à paróquia de Franca, foi atendida
pelos frades, nos finais de semana, de 1918 até 1940, quando a partir de
primeiro de janeiro deste ano foi assumida como Casa da Ordem, sendo seu
primeiro pároco Frei Dionísio Hermoso. Os frades aí permaneceram até 05 de
janeiro de 1964.
Aos
24 de abril de 1946, o Seminário de Franca (cuja história será referida à
frente) assumiu a direção da paróquia de Nossa Senhora da Abadia, em Cristais
Paulista, com o compromisso de atendê-la aos finais de semana. O território
paroquial abrangia dois municípios: o de Cristais e o de Jeriquara. Desde abril
de 1974, a paróquia foi desligada juridicamente do Seminário, embora seus
párocos continuassem quase todos residentes no Seminário, outros residentes em
Nossa Senhora das Graças. A paróquia foi entregue à diocese no dia 1º de abril
de 2000.
Aos
23 de julho de 1946 foi confiada à Ordem a paróquia de Pedregulho, que exigia
de seus pastores uma dedicação total, pois suas atividades se estendiam à
paróquia anexa de Rifaina e às capelas de Alto Poré, Igaçaba, Alto da Serra e
Alto Lageado. No dia 03 de março de 1974 foi entregue ao clero diocesano.
A
paróquia de Santa Rita de Cássia de Igarapava foi confiada à Ordem aos 27 de
abril de 1947, estando sob o zelo apostólico dos recoletos até 20 de maio de
2020. Abrangia também as cidades de Aramina e Buritizal.
Também
na cidade de Franca, o crescimento populacional e territorial estava a exigir o
desmembramento da única paróquia existente em todo o município. Atendendo a
esses fatores, Dom Manoel da Silveira D’Elboux criou a paróquia de São
Sebastião aos 06 de novembro de 1948, com sede na igreja do mesmo orago no bairro da Estação, igreja
iniciada em 1922 pelo saudoso Frei Gregório Gil. O primeiro pároco, Frei Andrés
Aguirre, foi empossado no cargo aos 19 de dezembro. Recebeu como campo de
apostolado, além da parte da cidade com a matriz e a igreja de São Benedito, os
então distritos de Restinga e Ribeirão Corrente e as capelas rurais de Bom
Jardim, Caetitu e outras. Em 1968 deu-se a criação da paróquia de Santo
Antônio. Os superiores entraram em entendimento com o bispo diocesano de
Ribeirão Preto e a Ordem passou a atender a paróquia recém-criada, entregando a
de São Sebastião. A paróquia de Santo Antônio esteve sob os cuidados dos
recoletos até o ano 1992.
Em 1953, a Ordem recebeu um régio presente em Franca. Tratava-se da igreja de Nossa Senhora das Graças, erguida pelo casal Nicola e Olinda Archetti, como cumprimento de uma promessa. Foi inaugurada solenemente aos 27 de novembro, dia da padroeira. Quanto ao aspecto jurídico funcionou como igreja anexa à paróquia de Nossa Senhora da Conceição, tendo sido elevada à paróquia em 1968, seguindo até os dias atuais como presença da Ordem na cidade.
Matriz Nossa Senhora da Conceição . Fonte: desmanipulador.blogspot.com
Matriz Santa Rita (em construção), Igarapava/SP Matriz de Nossa Senhora das Graças, Franca/SP
Igreja Santo Antônio, Franca/SP