2º Domingo da Quaresma 2022

Reflexão da Liturgia Dominical

O 2º Domingo da Quaresma narra um dos momentos mais significativo no ministério de Jesus, presenciado por Pedro, João e Tiago, que é a transfiguração. O fato é tão importante que é narrado nos três evangelhos sinóticos (Mt 17,1-9; Mc 9,2-10; Lc 9,28b-36). É uma cena de revelação da sua pessoa e da sua glória: ele é Filho Escolhido do Pai, o revelador do Reino. Nele, as promessas se cumprem: a Lei, simbolizada em Moisés, e o profetismo, em Elias.

Jesus revela o Reino amando, perdoando e servindo. Ele nos salva oferecendo a sua vida. O seu amor pela humanidade culmina na cruz, é exaltado por essa obediência pelo Pai. A transfiguração antecipa a vitória de Jesus e é sinal da sua ressurreição. Confirma o seu caminho de despojamento, esvaziamento, obediência, amor e serviço, como única força capaz de vencer o sofrimento, a dor, as crises e a morte.

“Este é o meu Filho, o Escolhido. Escutai o que ele diz!” (Lc 9,35). Numa realidade com tantas vozes, sons e solicitações, que podem nos confundir e nos desviar da estrada certa, a cena da transfiguração é um convite a um apelo maior:  ouvir e discernir a voz do Pai. A nossa vocação é estar atentos a Jesus. Escutar o que ele diz é acolher a sua pessoa como Filho de Deus, como o Messias, nosso Senhor e Salvador. É aderir ao seu caminho, seguir os seus passos e viver da sua vida.

“Mestre, é bom estarmos aqui. Vamos fazer três tendas: uma para ti, outra para Moisés e outra para Elias” (Lc 9,33). Às vezes, como Pedro, achamos que o alto da montanha é o melhor lugar, mas Jesus nos quer na planície do dia a dia, da nossa vida e da nossa história. Ali a resposta é mais exigente, implica dificuldades, renúncias e desafios, mas o que Jesus exige não supera as possibilidades do ser humano. Com ele, podemos descer da montanha e seguir o seu e o nosso caminho.

Temos resistências interiores que nos privam da liberdade e nos impedem de dar uma resposta livre, corajosa e consciente. Temos medo. Como tirar lições dessa fragilidade humana? Aprendendo a nos reconciliar com ela e a reconhecer que por nossas capacidades não poderemos dar nenhuma resposta ao Senhor. É ele quem nos conduz com a sua misericórdia: “O Senhor é minha luz e salvação; de quem eu terei medo? O Senhor é a proteção da minha vida; perante quem eu tremerei?” (Sl 26,1). Quando o nosso coração está em Deus, perde o medo, pois se apega a uma força maior. Quem confia em Deus cultiva o entusiasmo, como dom do Espírito, tem a certeza de sua presença que cura da insegurança e impulsiona para a ação.

A Palavra nos inspira a acreditar em Deus, como Abraão (Gn 15,5-12.17-18). Ele é o nosso aliado e nos oferece a vida, é fiel nas suas promessas.

Paulo diz que Cristo transformará o nosso corpo humilhado e o tornará semelhante ao seu corpo glorioso (Fl 3,17,4,1). Somos chamados a ser filhos de Deus. O apóstolo faz uma crítica dura àqueles que se colocam contra o caminho da cruz e buscam segurança na Lei e nas forças e projetos humanos. Procuram a salvação por outros meios, a fama e a glória deste mundo.

Os seres humanos traçaram muitos caminhos, não obstante, só há um, o que Cristo nos deixou. Caminho da cruz e da glória, e é por ele que devemos avançar, com a força da oração, dos sacramentos, da Palavra, do amor fraterno, iluminados e ungidos pelo Espírito Santo. Nossa confiança é o Senhor. Somos fortes porque pertencemos a ele.

Dom Paulo Roberto Beloto, Bispo Diocesano.