3º Domingo da Quaresma 2022
Reflexão da Liturgia Dominical
A Quaresma nos prepara para a Páscoa, festa mais importante do
calendário litúrgico, onde iremos renovar a nossa consagração ao Senhor. Daí a
necessidade de uma boa preparação. Caminhamos com Jesus, seguindo-o na paixão
para experimentar também com Ele a vida nova. Somos chamados à conversão.
Iniciamos o nosso retiro quaresmal na Quarta-feira de cinzas, quando
reconhecemos a nossa condição de pecadores necessitados do amor misericordioso
de Deus. Os domingos nos ensinam a caminhar com o Senhor. Ele quer nos educar:
nos ensinando a vencer as tentações dos ídolos que escravizam; escutando a sua
Palavra; nos abrindo à conversão; acolhendo o abraço misericordioso do Pai; nos
educando ao perdão.
Em Lucas 13,1-9 Jesus transmite uma mensagem aos ouvintes a partir de
dois fatos trágicos: o primeiro foi o assassinato de alguns galileus por
Pilatos, enquanto ofereciam sacrifícios no Templo; outra tragédia foi a queda
da torre de Siloé, que matou 18 pessoas. Para a mentalidade da época, essas
catástrofes eram consideradas castigos de Deus para aqueles que pecaram. Para
Jesus, Deus não castiga os maus e recompensa os bons. As tragédias são sinais e
devemos tirar delas lições. Os pecadores não são somente os que morreram nesses
acontecimentos, mas todos são culpados pelo destino das coisas. Todos são
pecadores e precisam de conversão. Deus não é vingador, mas misericordioso, o
seu amor é um convite à mudança de vida. Quando fazemos o mal, Deus não
castiga. Tal prática já traz em si as consequências.
Após as lições, Jesus contou a parábola da figueira estéril. Ela é
símbolo do povo de Israel. Deus é o dono da figueira, que a plantou e espera
dela os seus frutos. Jesus é o agricultor. Como a figueira não produziu, é
inútil, não tem sentido que continue a viver. Mas o agricultor intervém: pede
mais tempo, vai adubá-la, esperando obter os frutos.
Jesus confia em nós, apesar da nossa esterilidade. É solidário às nossas
necessidades, tem paciência para conosco, confia em nós, até no absurdo.
Precisamos acolher essa confiança e produzir frutos de justiça, de amor e de
paz.
O Senhor nos ajuda a tomar consciência da nossa condição de pecadores,
mas sem desespero. Devemos ter paciência, já que é fácil desanimarmos com os
nossos próprios defeitos, sempre repetidos, sem conseguir superá-los. É preciso
saber esperar e nunca desanimar, enquanto estivermos lutando, estaremos amando
a Deus. E Ele espera o nosso tempo, pois tem paciência para conosco.
Uma das experiências vocacionais mais profundas e significativas da
Bíblia e passagem reveladora do Deus da Aliança, encontramos na primeira
leitura (Ex 3,1-8ª.13-15). No mundo antigo, as sandálias eram muito
importantes, significavam proteção, esperança e até status social. Era
impossível andar sem sandálias no deserto com tantas pedras, areia quente e
espinhos. Quando o Senhor pediu para Moisés tirar as sandálias dos pés, fez com
este experimentasse intimidade, humildade, despojamento, pobreza, respeito e
reverência diante da sua santidade.
Os padres do deserto interpretavam as sandálias como nossas paixões.
Enquanto elas estiverem conosco, não é possível rezar de verdade, pois
atrapalham a concentração. Tirar as sandálias é criar distâncias e nos
despojarmos das nossas afeições desordenadas. Não significa negá-las, mas
aceitar essa fraqueza, tomá-las nas mãos e encará-las.
Na Quaresma devemos tirar as sandálias e nos aproximarmos de Deus como
somos, e deixar que o Espírito nos conduza com o seu amor e a sua unção. Ele
nos atrai com a sua santidade e nos santifica com a sua presença. Se estamos de
pé, devemos tomar cuidado para não cair (1 Cor 10,12), para isso é preciso
humildade e confiança em Deus. A sua graça em nós é como a energia
elétrica, que quando chega à lâmpada, provoca a luz, iluminando o ambiente.
Quando acolhemos a graça de Deus, recebemos uma força capaz de nos ajudar a
fazer o bem, a produzir frutos e iluminar a vida dos irmãos. Seremos fonte de
vida e de graça para os outros.
Dom Paulo Roberto
Beloto, Bispo Diocesano.