4º Domingo da Quaresma 2022
Reflexão da Liturgia Dominical
Lucas 15 é o centro da revelação. As parábolas da ovelha, da moeda e do
pai misericordioso revelam o conteúdo central da mensagem do Evangelho: Deus
nos ama e quer nos salvar. Ele ama os pecadores com sua misericórdia.
A parábola do pai misericordioso. O pai é a figura central na história.
Características das suas atitudes: a humildade – respeita a liberdade do filho,
aceita limitar o seu poder; a esperança – espera com ansiedade o regresso do
filho; a misericórdia – não olha o seu pecado, mas o seu coração arrependido, o
seu amor pelos dois filhos transforma-os em irmãos; a coragem – vai ao encontro
do filho, a sua autoridade não está na distância, mas no amor; a alegria – a
volta do filho provoca festa e alegria, é sinal de vida; o sofrimento – a
parábola revela um Deus que sofre, porque ama, não é indiferente.
O erro do filho caçula é deixar o que tem de mais valioso para viver só.
O pecado é a divisão dos bens, a vontade de ser dono de sua vida, de querer
colocar-se no lugar de Deus, de separar-se dele. A sua tragédia é a degradação.
É muito importante o seu caminho de volta. Precisamos chegar a Deus como pobres
e confessar a nossa culpa. A experiência da degradação e do silêncio gera a
conversão. A salvação do filho acontece na humildade, no reconhecimento de suas
necessidades e na coragem de dizer a verdade sobre si. É importante reconhecer
o exílio exterior, que é a saudade de casa. Mas muito mais importante é
reconhecer o exílio interior, a raiz profunda do mal, o reconhecimento que
pecamos contra Deus.
O filho mais velho é digno de todos os elogios, pois nunca transgrediu
nada. Mas não compreende as atitudes do pai, é distante. O seu pecado é não
perdoar. Nunca entendeu o que é o amor. A vizinhança exterior não significa a
vizinhança do coração. A figura do filho mais velho lembra os fariseus, que
tinham uma compreensão equivocada da justiça. Para eles, a salvação é mérito
humano. O homem dá o primeiro passo, e Deus retribui como devedor, de acordo
com as obras. Essa compreensão de Deus e da religião é estreita, fechada e
exclusivista. Muitos não participam da graça, mas ela é para todos.
Deus vem a nós na pessoa de Jesus para nos resgatar. Ele vem em busca da
humanidade ferida para curar. Ama sem olhar a nossa condição.
As parábolas continuam em nossa vida. Elas nos convidam a celebrarmos a
misericórdia do Pai. Somos a ovelha desgarrada, a moeda perdida que Deus
procura no meio do lixo, o filho que quer viver só e fazer da vida o que bem
entender, como se Deus não existisse, o filho que se fecha na sua justiça e não
entende o que é o perdão e o amor.
Jesus conta as parábolas para nos ajudar a celebrar a nossa condição de
novas criaturas. Quem está em Cristo é uma criatura nova (2 Cor 5,17). Ele é a
nossa reconciliação. O nosso caminho é a pátria de Deus, a pátria do amor. Como
é bom confiar no perdão e na misericórdia de Deus! Só vamos reencontrar esta
pátria e este caminho, chegando à pobreza.
O caminho da santidade não consiste na total ausência de falhas e
pecados, mas na total confiança e abandono nas mãos de Deus. Ele usa dos nossos
pecados para abençoar-nos e purificar-nos do mal. Sem o pecado nunca
suspeitávamos da insondável riqueza da sabedoria e do amor de Deus. Mas somente
o pecado reconhecido pode tornar-se um bem.
O Papa Francisco diz que “Deus é paciente conosco, porque nos ama; e quem ama compreende, espera, dá confiança, não abandona, não corta as pontes, sabe perdoar”. Deus tem paciência para conosco, espera o nosso tempo e nos pede também a prática dessa virtude. Por que a contrariedade, o nervosismo, a irritabilidade, o descontrole, o mau humor do filho mais velho? Nos momentos de tensões produzimos os maiores erros. Precisamos fazer as pazes com os nossos defeitos. Para isso é preciso humildade. Ela é caminho para Deus. A humildade é o remédio para curar as feridas de nosso coração.
Dom Paulo Roberto
Beloto, Bispo Diocesano.