12º Domingo do Tempo Comum – Ano C
Reflexão da Liturgia Dominical
Estamos retomando o Tempo Comum, segundo ciclo, Ano C, seguindo a
leitura do Evangelho de São Lucas. A cena do Evangelho do 12º Domingo Comum
narra a confissão de fé de Pedro. Este fato é tão importante que aparece nos
três evangelhos sinóticos (Mt 16,13-16; Lc 9,18-21; Mc 8,27-30), com suas
semelhanças e particularidades. Lucas fala que Jesus “estava rezando num lugar
retirado”. Neste contexto, dá-se o diálogo com os seus discípulos sobre a sua
pessoa. Ainda não havia clareza sobre o seu messianismo: as pessoas achavam que
ele era um dos antigos profetas. Pedro é o interlocutor quando o Mestre quis
saber deles quem ele era: “o Cristo de Deus” (Lc 9,20). A palavra Messias –
Cristo - resume tudo o que Jesus é e fez: é o ungido pelo Espírito de Deus (Lc
4,1), a revelação do Pai, a sua presença entre nós. Com a sua vida e missão,
revelou a misericórdia de Deus para com a humanidade e o seu desejo de salvar a
todos.
Diante da pessoa de Jesus somos convidados a reagir: fechando-nos, como
fizeram os dirigentes da época, que não o aceitaram como o Messias servidor; ou
seguindo a resposta de Pedro: o seu ato de fé é modelo de encontro e abertura a
Cristo.
Após a profissão de fé de Pedro, Jesus prevê a sua páscoa: seu
sofrimento, rejeição, morte e ressurreição. Também apresenta as condições para
o seguimento: “Se alguém me quer seguir, renuncie a si mesmo, tome sua cruz
cada dia, e siga-me” (Lc 9,23).
“Se alguém me quer seguir”: a resposta vem da liberdade. Jesus não
obriga ninguém a seguir o seu caminho O seguimento é uma opção livre e
consciente.
“Renuncie a si mesmo”. O discípulo deve desfazer-se de toda ambição
pessoal: renuncia a si mesmo, a cada dia. Deve ser pobre e humilde. A
humildade é caminho para Deus, é o remédio para curar as feridas de nossos
corações, uma via de penitência. A resposta a Jesus Cristo e ao Reino exigem
conversão, despojamento e abertura. As coisas têm valor, mas são relativas
diante do tesouro que é o Reino de Deus.
“Tome sua cruz cada dia”. A cruz para os romanos era um instrumento de
suplício, tortura e morte. Para os judeus, era escândalo, vergonha e maldição.
Para Jesus, a cruz é consequência do seu caminho de serviço e de amor. Para nós
cristãos, a cruz é redenção.
A cruz de cada dia. A cruz da vida cotidiana: a monotonia de uma vida
sem brilho. A cruz das diversas atividades rotineiras, da profissão, da missão,
da vocação, da espera, do discernimento. A cruz da idade, da doença, de uma
deficiência. Como carregamos estas cruzes? É preciso aprender a descobrir o
valor de uma vida simples e as lições do dia-a-dia. Quem vive no amor sabe ver
a realidade comum com um esplendor particular. O momento presente é o caminho
mais simples e mais seguro para à santidade. É preciso ter paciência com o
cotidiano, com os acontecimentos e contratempos que se apresentam num dia
normal. Devemos fazer as pazes com a nossa humanidade, com os nossos defeitos:
quando admitimos as fraquezas, encontramos caminho para superá-las.
A cruz da vida em comunidade: a família, a comunidade religiosa, a
paróquia, o local de serviço, a escola, o meu ambiente. Como nos relacionamos
com as pessoas? O relacionamento humano é lugar de revelações: dos nossos dons
e limites. É lugar de crescimento e de purificações. Lugar de paciência, de
perdão e de caridade fraterna.
A cruz da vida espiritual. Raramente a nossa vida espiritual é como
desejamos. Ela é feita de altos e baixos. Enfrentamos os nossos problemas, as
nossas afeições desordenadas, as nossas crises e dificuldades. Que frutos a
nossa vida espiritual está produzindo? É preciso não desanimar nas desolações,
mas continuar oferecendo a vida. Enquanto mantivermos o combate, estaremos
amando a Deus. E Ele sempre nos ama.
Jesus não suprimiu a dor e o sofrimento, mas assumiu a sua cruz sem
revolta. Assumindo as nossas cruzes, como Ele, podemos fazer brotar a esperança
em qualquer desafio. Se temos a Cristo, a vida, mesmo com cruz, é mais bela e
mais humana. Se temos fé, sabemos que Deus está conosco e por isso nada
tememos.
As perdas e o sofrimento provocam choro e lamento, mas são ocasiões também de purificação e conversão (Zc 12,10-11;13,1). Ser cristão é viver como Jesus. Paulo nos ensina que o batismo nos dá uma nova identidade. Colocamos uma roupa nova: a roupa de Cristo (Gl 3,26-29). Em Cristo somos um.
Dom Paulo Roberto
Beloto, Bispo Diocesano.