13º Domingo do Tempo Comum - Ano C
Reflexão da Liturgia Dominical
No início das cenas de Lucas 9,51-62,
Jesus tomou a decisão de ir para Jerusalém (Lc 9,51). Quase a metade do seu
Evangelho narra este caminho (Lc 9,51-19,27). É uma longa e dura viagem, desde
a periferia da Galiléia, até a capital. Muito mais do que um itinerário
geográfico, temos o êxodo de Jesus, sua passagem deste mundo para o Pai. Em
Jerusalém se concretizará esta travessia e missão: a entrega de sua vida e o
oferecimento da Igreja.
O início da viagem apresenta um
episódio desagradável: a recusa dos samaritanos em acolher Jesus. Ele repreende
Tiago e João, pela dureza de suas reações.
“Enquanto estavam caminhando” (v.57),
Jesus transmite algumas lições sobre o chamado e o seguimento.
Alguém na estrada disse a Jesus: “Eu
te seguirei para onde quer que fores” (v.57). “Jesus lhe respondeu: As raposas
têm tocas e os pássaros têm ninhos; mas o Filho do homem não tem onde repousar
a cabeça” (v58). O Senhor pede o despojamento no seguimento: não ter onde
reclinar a cabeça, nem buscar uma falsa segurança onde reclinar o pensamento da
cabeça.
“Jesus disse a outro: “Segue-me”
(v.59). “Este respondeu: “Deixa-me primeiro ir enterrar meu pai” (v.59).
Respondeu o mestre: “Deixa que os mortos enterrem os mortos; mas tu, vai
anunciar o Reino de Deus” (v.60). Deixar que os mortos enterrem seus mortos,
trata-se de um provérbio popular usado para dizer: deixe para lá as coisas do
passado. Não perca tempo com o que já passou e olha pra frente. Quem descobre a
vida nova em Jesus, não perde tempo com o que já passou.
Outro discípulo diz a Jesus: “Eu te
seguirei, Senhor, mas deixa-me primeiro despedir-me dos meus familiares” (v61).
Jesus respondeu-lhe: “Quem põe a mão no arado e olha para trás, não está apto
para o Reino de Deus” (v.62). Para ser discípulo é preciso romper com os laços
familiares. Assim o fez Eliseu, despediu-se de seus familiares e também
desfez-se dos seus bens, para seguir Elias e colocar-se a seu serviço (1 Rs
19,16b-19-21).
Temos no Evangelho as condições
necessárias para ser discípulo: abandonar os bens materiais; não se agarrar aos
bens pessoais vividos e acumulados no passado; romper com os laços familiares.
Na verdade, precisamos dos bens materiais, não rompemos com as coisas vividas
no passado nem com os laços familiares. O que Jesus pede é saber reintegrar
tudo – bens materiais, vida pessoal e vida familiar diante da novidade que Ele
apresenta que é a Boa Nova do Reino. Só uma pessoa livre poderá realizar este
caminho.
Apesar das dificuldades e exigências,
não se pode ter medo de dar uma resposta a Jesus. A experiência do seu poder e
da sua presença nos leva a tomar consciência das limitações, mas a sua
misericórdia é maior. Ele nos quer em missão, apesar dos nossos pecados. A
resposta implica dificuldades, renúncias e desafios, mas o que o Senhor exige
não supera as possibilidades do ser humano. A fé e a confiança na graça
sustentam a vocação e o seguimento. O Mestre garante que vai estar conosco, “até
o fim dos tempos” (Mt 28,20). Portanto, não ter medo significa acreditar
plenamente no amor de Cristo, não se deixar vencer pelos próprios limites e
fraquezas e prosseguir com firmeza na missão. Quando nosso coração está em
Deus, perde o medo. Contamos com uma força maior.
Dentro do contexto da Carta aos Gálatas, seguir ou não as práticas judaicas para ser discípulo de Jesus, Paulo anuncia o evangelho da liberdade (Gl 5,1.13-18). A vida em Cristo liberta as pessoas. O centro da Lei é o amor. “Se, porém, sois conduzidos pelo Espírito, então não estais sob o jugo da Lei” (Gl 5,18).
Dom Paulo Roberto Beloto, Bispo Diocesano.