16º Domingo do Tempo Comum – Ano C

Reflexão da Liturgia Dominical.

Lucas 10, 38-42 narra a visita de Jesus a Marta e Maria. A cena faz parte do grande conjunto que trata da viagem que Ele fez a Jerusalém. O seu caminho é de visitas e encontros.

Marta serve, mas a seu modo. Pôs o serviço no centro. Quis ser reconhecida e amada. A realidade de Marta foi visitada por Jesus. Ele a convidou à conversão, tratou de suas feridas. Maria colocou-se aos pés do Senhor para ouvir a sua palavra. Escolheu a melhor parte, segundo Jesus.

A vida de Jesus foi uma oração permanente. Os evangelhos apresentam-no, principalmente Lucas, rezando com muita frequência. Para Ele, o fim último da oração era a sua comunhão e obediência ao Pai. Jesus rezava nas diversas circunstâncias de sua vida e missão. Mas Ele realizou a perfeição da oração na paixão e morte. Ela tornou-se um ato de oferecimento e oblação. No drama do abandono, da humilhação, do desprezo, da condenação, da dor e da morte, Jesus ficou só com o Pai. Só Ele conta. A ressurreição é o coroamento da sua oração. Ele foi para o Pai, mas está presente. Agora, a nossa oração é atendida em Jesus, pois nele Deus se comunica.

A nossa vocação de batizados supõe um permanente viver em Cristo. A missão e o apostolado não acontecem sem a comunhão com o Senhor. Como Marta e Maria, precisamos aprender a acolher Jesus em nossa casa.

Imitamos o Cristo que reza. Se Jesus considerou o estar a sós com o Pai necessidade fundamental em sua missão, muito mais nós, pobres criaturas, carentes da graça e da força do Espírito devemos buscar a comunhão com o Senhor. É na intimidade da oração que aprendemos e nos reabastecemos para o apostolado. O nosso coração foi feito para estar em sintonia e unidade com o Senhor. A oração é o alimento do nosso coração e o meio de se cultivar a comunhão com Deus.  Depois da escuta, o discípulo tem o que oferecer. Deus nos ama e nos tem como pessoas especiais e íntimas. Daí a necessidade da nossa correspondência exterior e interior. Exteriormente, correspondemos com as nossas atividades. Interiormente, com uma relação nova com Deus. Sem a vida de oração, isto não é possível.

A oração é uma necessidade, mas nem sempre é fácil rezar. Enfrentamos várias dificuldades nesse caminho. Mas elas aparecem para quem se propõe a orar e não podem impedir a oração. Deus não quer de nós senão a decisão para orar. Nunca devemos abandonar a oração por causa de nossos pecados e dificuldades, pois deixar a oração é perder o caminho.

O Espírito intercede por nós na oração, mas necessita de nossa colaboração. A oração é um caminho, por isso precisamos aprender a orar. Alguns pressupostos importantes para a vida de oração.

A fé. Sem ela a oração não existe. A fé nos coloca na presença de Deus e na presença do seu amor. Fé é acreditar que Deus nos ama e que podemos também amar.

A confiança. Rezar é acreditar na presença de Deus que nos ama. O único caminho para o amor é a confiança, a perseverança e a aceitação.

A liberdade. O trato de amizade com Deus só é possível a partir da liberdade e para a liberdade. Só a entrega de si a Deus é libertadora.

A oração é tratar de amizade, gratuita e personalizada. A oração amizade exige momentos de oração, porque a amizade é força de presença. Mas também torna relativos tais momentos, porque a oração amizade abre-se à vida.

É muito importante a humildade na prática da oração. Ser humilde é deixar Deus ser o protagonista da vida.

Como encontramos resistências no caminho da oração, precisamos das regras da amizade, da perseverança. Precisamos de vigilância, disciplina, conversão e persistência no exercício da oração. É preciso esforço.

O amor a Deus e aos irmãos. A relação com Deus e com os irmãos não se opõe nem se separa. Chega-se a Deus pela passagem obrigatória pelo próximo.

O silencio e a solidão. O momento mais importante da oração é a sós. Não é evasão ou fuga de nada nem de ninguém. Mas presença a alguém. É exigência do amor e necessidade de tocar o fundo da nossa existência.

A oração precisa ser comunicada. É necessária a presença de um mestre que discerne, aconselha e corrige o orante. Assim como é necessária a companhia de outras pessoas que tratam do mesmo assunto.

O perdão. Não se pode ir até Deus, se não estamos bem com o irmão.

A oração exige também disposições exteriores, como o tempo, o lugar, a preparação, a posição do corpo, um método.

A oração é muito mais obra de Deus do que esforço humano. Mas é preciso fazer um caminho.

A oração cristã não se entende sem Cristo. Na oração não devemos procurar gostos e consolações. Importa apenas e somente ajudar Cristo a levar a cruz.
Dom Paulo Roberto Beloto, Bispo Diocesano.