17º Domingo do Tempo Comum - Ano C

Reflexão da Liturgia Dominical.

Lucas 11,1-13 trata da oração de Jesus. Ele foi uma pessoa de profunda comunhão com Deus e, por isso, de intensa oração. A sua vida foi uma oração permanente, assim nos apresentam os Evangelhos o Filho de Deus, de modo particular o evangelista Lucas.  Ele é um mestre de oração, por isso um de seus discípulos pediu-lhe: “Senhor, ensina-nos a rezar” (Lc 11,1).

A oração de Jesus é simples. Ele nos ensina a rezar com o coração, sem falatórios, no segredo do coração (Mt, 6,6). Devemos nos apresentar diante do Pai totalmente despojados. Nossa força encontra-se somente em Deus. Ele é o centro dos nosso desejos e da nossa vida.

O Catecismo da Igreja Católica lembra o que diziam já os santos padres: “A oração do Senhor é realmente o resumo de todo o Evangelho”, “a mais perfeita das orações”, está “no centro das Escrituras” (CIgC, 2774).

Há duas versões do pai-nosso, a de Mateus (Mt 6,9-13) e a de Lucas (Lc 11,1-4), cujos conteúdos se aproximam. “A tradição litúrgica da Igreja conservou o texto de São Mateus” (Idem 2759).

Recebemos das mãos do Senhor este grande dom, que se tornou a oração da Igreja, pois está presente na vida e na liturgia, no ofício divino e nas celebrações dos sacramentos. O pai-nosso é a nossa oração.

A oração do Senhor possui um corpo, ela nos coloca na presença de Deus para adorá-lo e bendizê-lo. Após essa experiência, trata dos pedidos. Três petições estão diretamente voltadas para Deus: Nome, Reino e Vontade, a segunda parte fala das nossas necessidades: pão, perdão, luta contra as tentações e o maligno.

Jesus nos ensinou a chamar a Deus de Pai, Abbá, em aramaico, é pai, papaizinho. Era o modo de a criança chamar seu pai, com toda a confiança. Jesus nos ensina a ter um relacionamento filial com Deus. “Podemos invocar a Deus como ‘Pai’, porque Ele nos foi revelado por seu Filho, feito homem, e porque seu Espírito nos leva a conhece-lo” (CIgC, 2780). Somos filhos do Pai querido, no Filho Jesus Cristo, pela inspiração do Espírito Santo. Quando rezamos ao Pai, devemos despertar em nós o desejo e a vontade de assemelhar-se a Ele. Deus é nosso Pai, nós somos seu povo e seu rebanho. A oração do pai-nosso é um convite à fraternidade e a comunhão dos filhos e filhas. “Céu” significa “uma maneira de ser; não o afastamento de Deus, mas a sua majestade” (Idem, 2794), sua transcendência, grandeza, onipotência e majestade. O céu é a casa de Deus, a “pátria para onde nos dirigimos e à qual já pertencemos” (Idem, 2802). Em Cristo, “somos assentados nos céus” (Ef 2,6).

“Depois de nos ter posto na presença de Deus, nosso Pai, para adorá-lo, amá-lo e bendizê-lo, o Espírito filial faz brotar de nosso corações sete pedidos... três (vosso nome, vosso reino, vossa vontade) que ‘nos atraem para a glória do Pai’; quatro (pão, perdão, luta contra a tentação e o maligno) como caminhos para Ele” (CIgC, 2803).

O desejo de Jesus é que o Nome do Pai seja santificado. A santidade de Deus é o centro de seu mistério, é a sua glória, a sua majestade. É o próprio Pai que santifica ou dá a conhecer o seu nome. Mas também pedimos que nós sejamos abertos para acolher essa graça. Se vivermos bem, o nome divino é bendito.

Pedimos o Reino, ele é a nossa esperança, é dom do Espírito. Livremente, com a graça de Deus, participamos na sua construção.

A vontade do Pai é “que todos sejam salvos e cheguem ao conhecimento da verdade” (1 Tm 2,4). Deus quer a prática do amor e da justiça, a nossa reconciliação em Cristo, a nossa santificação. Seguimos Jesus, que fez a vontade do Pai, Maria, são José e os santos. A sua vontade é o que melhor pode acontecer em nossa vida, é fonte de integração.

A segunda parte do pai-nosso trata das nossas necessidades. Com confiança, iniciamos pedindo o pão, alimento básico para a nossa vida, pedimos o pão espiritual, o pão da Palavra de Deus, o pão da Eucaristia, alimentos essenciais em nossa fé.

Pedimos o perdão, pois somos pecadores, reconhecemos as nossas misérias, mas confiamos na misericórdia de Deus, na redenção e remissão dos pecados. Acolhemos o perdão de Deus e procuramos colocá-lo em prática em nossos relacionamentos.

Depois de percorrer a caminhada das cinco petições, estamos preparados para discernir a voz de Deus e não nos deixar seduzir e enganar pela voz do tentador. O mal se opõe a Deus, é o inimigo da obra da salvação realizada em Jesus Cristo. O mal que a última petição do pai-nosso apresenta como o grande pecado é a apostasia, o afastamento da fé e do projeto de Jesus.

Ao dizer “Amém”, afirmamos que “tudo o que está contido na oração que Deus nos ensinou” (Idem, 2856), aconteça.

O pai-nosso é uma escola de vida, expressa o desejos de Jesus, que são os desejos do Pai e do Espírito. Aprendemos a recitar a oração do Senhor quando acolhemos na vida as inspirações do Espírito.

Jesus nos ensina que a oração deve ser constante e sem constrangimento. O Pai nos ouve, com certeza, e sempre responde. Devemos alimentar a esperança da manifestação da sua bondade. Ele sabe do que precisamos, e nos concede o bem maior: o Espírito Santo (Lc 11,13).  A sua misericórdia alcança toda a humanidade (Gn 18,2-32).

Ser cristão é celebrar e viver a gratuidade do amor, da liberdade e da salvação; a graça da remissão dos pecado concedida por Jesus na cruz (Cl 1,12-14).

Dom Paulo Roberto Beloto, Bispo Diocesano.