18º Domingo do Tempo Comum – Ano C
Reflexão da Liturgia Dominical.
Lucas 12,13-21 narra um episódio próprio deste Evangelho. É uma cena que
faz parte da descrição da viagem de Jesus, desde a Galileia até Jerusalém. No
caminho, alguém lhe pede para ser mediador na repartição de uma herança.
Na época, a herança tinha a ver com a identidade das pessoas (1 Rs
21,1-3) e com a sua sobrevivência (Nm 27,1-11; 36,1-12). O problema maior era a
distribuição das terras entre os filhos do falecido pai. Sendo a família
grande, havia o perigo de a herança se esfacelar em pequenos pedaços de terra
que já não poderiam garantir a sobrevivência de todos. Por isso, para evitar o
esfacelamento ou a desintegração da herança e manter vivo o nome da família, o
filho mais velho recebia o dobro dos outros filhos (Dt 21,17; 2 Rs 2,11).
Na sua resposta, Jesus deixou transparecer que ele não foi enviado por
Deus para atender ao pedido de arbitrar entre os parentes que brigam entre si,
por causa da repartição da herança. Mas se aproveitou de um fato para deixar
lições. Ele se dirigiu a todos e também a nós hoje: ter cuidado com a ganância,
pois quando ela toma conta do nosso coração, não há como repartir a herança com
equidade e paz. A nossa vida não depende daquilo que temos, mas daquilo
que somos. O valor da vida não consiste em ter muitas coisas, mas sim em ser
rico para Deus.
Jesus contou a parábola do rico insensato que acumulou bens para
ilustrar as suas orientações. O homem rico é alguém fechado dentro da
preocupação com os seus bens. Só pensou em acumular para garantir o seu futuro.
Deus lhe disse: “Louco! Ainda nesta noite, pedirão de volta a tua vida. E para
quem ficará o que tu acumulaste?”
Jesus apresentou a morte como uma chave para entender o sentido
verdadeiro da vida. Ela relativiza tudo, pois mostra o que perece e o que
permanece. Quem só busca o ter e se esquece do ser, perde tudo na hora da
morte. Estão errados aqueles que põem suas esperanças nos bens materiais.
O Livro do Eclesiastes já trazia este ensino (Ecl 1,2; 2,21-23): por que
que acumular bens nesta vida, se não sabemos para quem vão ficar? “Tudo é
vaidade”, diz o autor. Tudo é vazio e sem sentido.
Jesus nos ensina que é preciso ser rico diante de Deus. Devemos buscar
as coisas do alto, onde está Cristo (Cl 3,1). Buscar as coisas do alto não
significa descuidar dos bens da criação e não sermos responsáveis por eles.
“O ser humano é criado para louvar, reverenciar e servir a Deus nosso
Senhor e, assim, salvar-se. As outras coisas sobre a face da terra são criadas
para o ser humano e para o ajudarem a atingir o fim para o qual é criado. Daí
se segue que ele deve usar das coisas tanto quanto o ajudam para atingir o seu
fim, e deve privar-se delas tanto quanto o impedem. Por isso, é necessário
fazer-nos indiferentes a todas as coisas criadas” (Inácio de Loyola, EE, 23).
No ser humano há duas dimensões: exterior e interior. A exterioridade é
o que vemos, o que possuímos, o que aparentamos. Tem o seu valor, mas relativo.
A interioridade é o que está no coração, o que sentimos, o que pensamos. É o
mais importante e precisa ser cultivada. É a dimensão para Deus. Como cultivar
a nossa dimensão interior? Através da oração, da espiritualidade, das
celebrações dos sacramentos, da leitura da Bíblia, da participação na Igreja,
da devoção à Maria e aos santos, da prática das virtudes.
Devemos nos revestir do homem novo (Cl 3,10): com sentimentos de
compaixão, bondade, humildade, mansidão, longanimidade, perdão, caridade.
Dom Paulo Roberto Beloto, Bispo Diocesano.