19º Domingo do Tempo Comum – Ano C

Reflexão da Liturgia Dominical.

Lucas 12,32-48 trata do desprendimento e da vigilância, atitudes fundamentais para quem se coloca no caminho de Jesus.

No oriente, os viajantes cingiam os rins antes de começar uma viagem para poderem caminhar com menos dificuldades. A atitude do discípulo de Jesus deve ser como a daquele que está pronto a começar uma viagem ou de quem espera uma pessoa importante. O cristão é sempre atento. Vigiar é próprio de quem ama. Se estivermos adormecidos, Jesus passa sem bater à nossa porta. Se o nosso coração estiver desperto, ele bate e pede que lhe abramos a porta. Nossa alma deve manter-se sempre livre e atenta, e o coração preparado e alerta para quando o Senhor chegar. Há uma atitude na vida cristã chamada tibieza: ela nos separa de Deus, pois a alma adormecida na tibieza vive sem objetivos.

A vigilância supõe uma ascese contínua, como orientação para Deus. Mas não se trata de um caminho que reivindica direitos perante Ele ou vantagens perante as pessoas. É uma vida orientada segundo o Espírito Santo. “Se, pelo Espírito, fizerdes morrer as obras do corpo, então vivereis” (Rm 8,13). Necessitamos de uma ascese contínua porque a pessoa limitada em nós às vezes fala mais alto. As virtudes humanas são adquiridas, conservadas e cultivadas. Não surgem espontaneamente. Precisamos de uma educação permanente.

Jesus contou algumas parábolas para ilustrar seus ensinamentos: do patrão e empregados (Lc 12,36-38); do dono de casa e do ladrão (Lc 12,39-40); do proprietário e administrador (Lc 12,42-48). A parábola dos empregados que esperam seu senhor voltar do casamento incentiva à vigilância e a prontidão. Assim como o dono da casa não sabe a que hora chega o ladrão, assim ninguém sabe a hora da chegada do Filho do Homem. Aliás, não se deve ficar especulando sobre esta chegada, mas temos que ter a sensibilidade de perceber esta presença em nosso meio, nas coisas mais comuns da vida. É ali que Deus está e nos espera.

Respondendo à pergunta de Pedro se estava contando essas parábolas para eles ou para todos, Jesus formulou outra pergunta em forma de parábola: “Quem é o administrador fiel e prudente que o senhor vai colocar à frente do pessoal de sua casa para dar comida a todos na hora certa?” (Lc 12,42). Bom administrador é aquele que cumpre sua missão de servidor, nunca usa os bens recebidos em proveito próprio. É preciso saber administrar bem a nossa missão.

No início da passagem do Evangelho Jesus disse: “Não tenhais medo, pequenino rebanho, pois foi do agrado do Pai dar a vós o Reino” (Lc 12,32). A reflexão sobre esta experiência na vida do ser humano pode se estender a vários aspectos. No contexto das cenas, Jesus nos convida à confiança em Deus: Ele é o nosso Pai que cuida de nós. É o sentido de nossa existência, o único capaz de preencher o vazio do nosso coração. Quem o encontrou, não precisa mais procurar um sentido para viver, pois nele realiza o sentido profundo de sua vida. Só a obediência e a amizade com ele dão gosto à nossa existência e nos ajudam a ordenar tudo para o amor. As coisas têm o seu valor, mas são relativas. Fora de Deus não temos bem algum (Sl 16,2).

Deus é fiel e cumpre as promessas de liberdade ao seu povo fiel (Sb 18,6-9). Fé e perseverança sustentam a vida cristã (Hb 11,1-2.8-19). Foi a fé que valeu aos patriarcas um bom testemunho.

Dom Paulo Roberto Beloto, Bispo Diocesano.