23º domingo do Tempo Comum – Ano C

Reflexão da Liturgia Dominical.

Estamos seguindo Jesus no caminho para Jerusalém, local onde aconteceu a sua entrega definitiva ao Pai, com a morte na cruz (Lc 23,46). No caminho, Jesus apresentou os critérios e as exigências para o seguimento e a participação no Reino: praticar a justiça (Lc 13,27), a humildade e a gratuidade (Lc 14,7-14). Seguindo nas orientações, Ele estipulou a decisão pelo Reino como um ato de renúncia radical (Lc 14,25-33): ser discípulo é mais importante do que tudo, é uma escolha decisiva e radical.

O Reino é absoluto e todas as outras coisas – até a própria vida, vêm em segundo lugar. Elas passam “como o sono da manhã, são iguais à erva verde pelos campos: De manhã ela floresce vicejante, mas a tarde é cortada e logo seca” (Sl 89(90), 5-6). Por isso, quem segue a Jesus deve viver o desapego. Não se pede para odiar a família, mas Deus está em primeiro lugar. O discípulo desapega-se até da própria vida.

Renunciar a tudo pelo Reino não é um peso, mas realização e alegria. É caminho de salvação. Assumir a opção pelo Reino é tomar uma decisão consciente, calculada, ponderada, planejada, amadurecida e coerente. Ser cristão é assumir riscos, é fazer opções que determinam a vida.

“Quem não carrega sua cruz e não caminha atrás de mim, não pode ser meu discípulo” (Lc 14,27). Como carregamos as nossas cruzes? É preciso olhar para Jesus e não desanimar, mas continuar oferecendo a vida. Atrás de cada experiência de dor, sofrimento e limites pode haver um amor maior. “Sabemos que tudo coopera para o bem daqueles que amam a Deus” E nada “será capaz de nos separar do seu amor”, “que está em Cristo Jesus, nosso Senhor” (Rm 8,28.39). Enquanto mantivermos o combate, estaremos amando a Deus, e com certeza Ele sempre nos ama, e nos conduz com os seus desígnios e a sua sabedoria no caminho da retidão e da salvação (Sb 9,13-180.

A carta a Filêmon é uma obra prima. É o mais breve, mas mais original e comovente texto de Paulo. Revela a sua personalidade e o evangelho que pregava. É um testemunho da sua prática pastoral. O objetivo desta carta é mostrar a força do amor cristão.

Paulo está preso. Ali é procurado por Onésimo, um escravo que fugiu da casa do seu senhor, Filêmon. Acabou convertendo-se ao cristianismo. Paulo envia Onésimo de volta ao seu dono, pedindo a este que o receba como irmão.

Filêmon é provavelmente um animador de comunidade. É conhecido de Paulo. A carta fala que ele tem uma dívida com ele: talvez o dom da fé e da salvação.

Parece que Paulo convenceu Onésimo a voltar para casa. Qual é a sua intenção? Aproveitar de uma situação para pôr em prática o Evangelho. Ele desafia Filêmon a receber Onésimo como irmão. Exorta, mas não obriga. Ele deve agir por vontade própria, na liberdade, não por obediência. Paulo quer que o mesmo trate Onésimo como irmão em virtude da solidariedade cristã. O importante é o seu bem.

Seguir Jesus supõe fazer uma opção fundamental que determina todas as outras escolhas. É deixar-se guiar pelo Espírito, que gera pessoas livres. É viver a sabedoria, procurar a vontade de Deus e orientar-se por ela. É viver o amor.

O amor cristão, revelado, vivido e indicado por Jesus, gera uma revolução, não pela força das ideias, mas pela força do Espírito de Deus.

Dom Paulo Roberto Beloto, Bispo Diocesano.