6º Domingo do Tempo Comum - Ano A
Reflexão da Liturgia Dominical.
O Evangelho de Mateus tem como centro a “justiça que faz
nascer o Reino”. Jesus é o Emanuel, o Deus conosco (Mt 1,23; 18,20; 28,20) cuja
verdade brilha sempre no mundo para suscitar a fé e a nova prática da justiça
do Reino, novidade e a mística que anima os seus seguidores. O Pai deseja a
justiça, Jesus realiza-a, o Espírito leva a comunidade a vivê-la. Por ocasião
do seu batismo, Jesus diz: “É assim que nos convém cumprir toda a justiça” (Mt
3,15). Os discípulos devem superar a justiça dos escribas e fariseus (Mt 5,20)
e buscar em primeiro lugar o Reino de Deus e a sua justiça (Mt 6,33).
Qual era a justiça dos escribas e fariseus? A
baseada na observância rigorosa da Lei, que excluía muita gente, principalmente
os doentes, as crianças, as mulheres e os pobres. Eles transformaram a Lei em
mandamentos humanos a serviço daqueles que dominavam. Eram muitas as observâncias
e costumes, tornando a Lei em algo mecânico.
Qual é a justiça que Jesus veio cumprir? A
justiça baseada no amor e na misericórdia: na vivência das bem-aventuranças (Mt
5,1-12). Ele revela o essencial da Lei: a prática do direito, da misericórdia e
da fidelidade (Mt 23,23). Somente assim os discípulos poderão superar a justiça
dos escribas e fariseus.
Jesus não veio “abolir a Lei e os Profetas”, mas
“dar-lhes pleno cumprimento”. Ele orienta que nada deve ser tirado da Lei, “sem
que tudo se cumpra”. Os mandamentos devem ser observados: quem assim o fizer,
“será considerado grande no Reino dos Céus” (Mt 5,17-19). Ele usa 5 exemplos,
presentes na liturgia deste domingo (Mt 5,20-37) e no 7º domingo comum (Mt
5,38-48), tirados da Lei Antiga, comparando-os com a Nova Lei que Ele veio
realizar. Essa Nova Lei expressa a vontade de Deus, que é a prática do amor e
da misericórdia.
1ª comparação – “Não matarás” (Mt 5,21). Não
matar é um mandamento fundamental. Mas Jesus vai além: não se pode nem ficar
com raiva dos outros. Às vezes um gesto ou uma palavra podem destruir alguém.
Na justiça do Reino a vida deve ser defendida em todos os níveis. O
relacionamento com o irmão deve ser íntegro e total, no respeito a sua vida e a
sua pessoa. A medida para este relacionamento é o amor e o perdão.
2ª comparação – “Não cometerás adultério” (Mt
5,27). Jesus acaba com o direito que o homem tinha de dar carta de
divórcio à mulher por qualquer coisa. Na justiça do Reino homem e mulher têm a
mesma dignidade que deve ser respeitada. Também o amor é a medida na união
conjugal.
3ª comparação – “Não jurarás falso” (Mt 5,33).
Jesus pede sinceridade e integridade nas relações. Na justiça do Reino a
verdade está acima de qualquer interesse.
A liturgia da Palavra nos ajuda a ter
discernimento: saber escolher bem, de acordo com a vontade de Deus, que coloca
diante de nós a vida e a morte, o bem e o mal (Eclo 15,16-21). Escolher bem é
escolher a sabedoria que vem de Deus (Cor 2,6-10).
Dom Paulo
Roberto Beloto, Bispo diocesano.