Subamos a montanha do silêncio orante
Pe Mário Reis Trombeta
A Quaresma, este tempo de penitência, imediatamente nos
desloca a meditarmos um Evangelho cheio de sol e de luz. A Quaresma tem o
ritmo das estações, que começa no inverno e termina na primavera. "A
verdade é o florescimento do ser" (R. Guardini). «O Reino dos Céus
virá com o florescimento da vida em todas as suas formas» (G. Vannucci).
"E Jesus foi transfigurado diante de seus olhos." Nenhum detalhe é
relatado aqui, exceto o das vestes de Jesus que se tornaram resplandecentes. O
entusiasmo de Pietro chega a levá-lo a exclamar maravilhado: como é bonito
aqui! (Hermes Ronchi).
A transfiguração ocorre em um contexto de distanciamento da vida cotidiana com seus ruídos e ansiedades. Em geral, a montanha é o lugar habitual de encontro com Deus: até Moisés subiu à montanha para ouvir Deus e receber as Dez Palavras (cf. Ex 19,20). É na montanha que se encontra Deus. O Monte da Transfiguração foi identificado, pelo menos desde o século IV, com o Monte Tabor, que na verdade não chega a seiscentos metros acima do nível do mar. Sua posição na grande planície de Esdrelon a torna "uma alta montanha" no mapa geográfico palestino.
Moisés havia prometido ao seu povo: «O Senhor vosso Deus suscitará entre vós, entre vossos irmãos, um profeta como eu. Tu o ouvirás" (Deuteronômio 18:15). Malaquias havia profetizado sobre Elias: "Eis que enviarei o profeta Elias, antes que venha o grande e terrível dia do Senhor" (Ml 3:23). Moisés e Elias testemunham que a história chegou ao seu grande clímax, porque chegou o tempo prometido e esperado, o tempo do Messias. Pedro é o único que consegue colocar em palavras os seus sentimentos, ainda que de forma confusa: «Senhor, é bom estarmos aqui! Vamos fazer três cabanas aqui, uma para Vós, uma para Moisés e outra para Elias”. Pedro expressa um sentimento humanamente compartilhável, ou seja, gostaria de esquecer um passado carregado de dificuldades e ignorar um futuro cheio de incógnitas, garantindo a si mesmo uma perspectiva mais atraente e tranquilizadora.
No caminho do seguimento do Senhor há um risco que se pode insinuar: pensar que a vida de fé é uma experiência que nos distancia da cansativa e exaustiva vida quotidiana com seus problemas e dificuldades. Mas na realidade, é só subindo a montanha do silêncio orante e escutando a Palavra de Deus revelada em Cristo é que encontramos a força interior para enfrentar os desafios em nossa vida e caminhada terrena. A transfiguração remete-nos para o mistério de Cristo na Eucaristia: também aqui se transforma a sua presença, mas como alimento e como remédio de imortalidade no caminho quotidiano de nossa vida de Fé (CEI, Subsídio Quaresma/Páscoa).
“Subamos ao Monte de nossa história ainda que o subamos com fadiga, para descobrir um panorama novo e ver as coisas numa outra perspectiva, isto é, com o olhar de Deus” (Claudio Luigi Fasulo).
Fonte: Portal Cerco Il Tuo Volto.
Colaboração: Pe Mário Reis Trombeta, Paróquia Cristo Rei (Orlândia/SP).